terça-feira, março 29, 2011

LEITURAS AO VENTO

Projeto Leituras ao Vento

Relatório do dia 27/03/2011

            Pela primeira vez nesses momentos ainda iniciais da história do Projeto, a suavidade das palavras encontrou a força da tempestade.

            Saímos de casa de olho no céu cinzento que cobria o Jardim Liberdade, bairro onde moramos e que se localiza a poucos minutos do centro da cidade, direção para onde os olhos corriam e encontravam a tormenta já instalada. Nossa esperança era que a chuva, vindo de lá, passasse por nós e que encontrássemos a Praça da Catedral com seu gramado já seco, e sem precipitação, para que pudéssemos estender os lençóis e expor nosso acervo.

            Mas, infelizmente, ao chegarmos, embora o grosso da chuva já houvesse passado, persistia uma garoa fina que tornaria o nosso trabalho impossível. Como a Praça não estivesse totalmente vazia – alguns grupos de pessoas já se aventuravam no gramado úmido aqui e ali – resolvemos dar uma volta e aguardar um momento próprio.

            Depois de hora e meia em casa de Angelita, nossa amiga do Clube de Leitura e colaboradora do Projeto – e de uma gostosa prosa com seu pai, o escritor Anísio Salvatini, voltamos à praça, agora na companhia de Angelita e de seus filhos e, mesmo nos arriscando na grama úmida e embaixo das árvores gotejantes, estendemos nossos varais e nossas esteiras, colocamos os livros em exposição e fomos ao encontro de nossos leitores em potencial.

            Embora houvesse um número sensivelmente menor de freqüentadores na Praça, nossos leitores mirins foram chegando aos poucos como sempre, mas como sempre ficando, explorando com curiosidade o acervo, se acomodando nas esteiras solitários ou aos pares, com seus olhinhos atentos e silenciosos, armados de pequeninos óculos que lhes davam um ar senhoril, ou desarmados e vivazes, correndo do varal às esteiras, trocando com os presentes títulos e informações.

            Angelita teve nesta tarde uma atuação extraordinária: além de ajudar na divulgação, leu histórias para algumas mocinhas bem interessadas e compartilhou também, com uma mãe presente, os belos poemas de Cora Coralina.  

            Nosso esforço de convivência com os elementos foi amplamente recompensado. Esse domingo foi o domingo do primeiro encontro com importantes segmentos promotores de cultura em Maringá. Recebemos a visita de Ademir Félix Jesus, Assessor de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Maringá, que estava presente à praça com vários colaboradores para apresentar o primeiro Conto de Nagô na Praça, evento que acabou não sendo apresentado devido à chuva. Conversamos informalmente durante algum tempo, Félix de Jesus me falou de sua trajetória na cidade e na prefeitura promovendo a cultura afro.  Nos falou também do Projeto que ora se inicia, e que tem por objetivo a difusão e valorização da cultura afro-brasileira, além da leitura, da criatividade e da imaginação. O Conto de Nagô  em sua primeira edição, ficou adiado para o próximo  domingo 3 de abril, na praça da Catedral de Maringá. Desejamos a Félix de Jesus e seus colaboradores sucesso, e desde já nos colocamos a disposição.

            Também esteve presente na Praça Aguinaldo Cavalheiro de Almeida, o Guiga, apresentador da Rádio UEM, promotor das famosas “bicicletadas” em Maringá e eleito personalidade do ano na cidade em 2010.  Apareceu acompanhado da amiga Mônica, e me deu a honra de um papo interessante sobre a cultura na cidade, e sobre as relações entre os diversos grupos culturais. Foi a primeira vez que conversamos de verdade – de muitas, espero – mas eu já o havia encontrado em outra ocasião, no auditório Hélio Moreira, enquanto apreciador comum de um outro Projeto, já tradicional na cidade: o Projeto Um Outro Olhar, do crítico e amante do cinema “cult” Paulo Campagnolo.

            Assim, cinema, passeios de bicicleta, cultura negra e literatura infantil se tocaram na atmosfera úmida da Praça da Catedral na tarde de domingo, embalados pela súbita estiagem, pelo papo descontraído mas engajado, cercados por crianças e pela magia das palavras. Bons fluidos para o futuro, sem dúvida.

               Wagner Oliveira Candido

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