RELATÓRIO 2011 - Junho a Agosto


Projeto Leituras ao Vento

22° Relatório - dia 28/08/2011
SOPRANDO HISTÓRIAS COM HERMÍNIO NETO
(Praça da Catedral)

         O Projeto Leituras ao Vento chega à Praça da Catedral neste domingo depois de uma verdadeira maratona. O convite recebido pelo Projeto para participar do Programa Paraná em Ação nos levou por três dias a Sarandi, onde realizamos um trabalho diferente, extenuante, mas muito proveitoso do ponto de vista do aprendizado que nos proporcionou e da oportunidade de prestar um serviço essencial – pois assim o consideramos a leitura – para uma população que tem dificuldade de acessar serviços essenciais. Os detalhes desta aventura vocês poderão acompanhar no Relatório 21.
         Mas o fato é que, ao findar o terceiro dia da experiência de Sarandi, encerrada ao meio-dia, eu e Maristela nos permitimos apenas o tempo de almoçar em casa com Adah, aniversariando no dia, e já partimos para a Praça.
         O dia estava ensolarado e quente, e eu estava satisfeito de ter Adah novamente para me ajudar na montagem dos varais. Aprimorei a técnica que ela me ensinou e consigo montá-los já sem supervisão, é verdade, mas tê-la ao lado, com sua engenhosidade e alegria juvenil é sempre um prazer. Além disso, Maristela fica livre para ajeitar as esteiras, lidar com os livros, recepcionar convidados, etc. sem precisar se preocupar em me ajudar com os varais.
         Próximo ao nosso espaço vários grupos se fixaram. Me atrevo a pensar que o Leituras contribuiu para dinamizar esse trecho do gramado da Praça, já que antes do Projeto, em nossas visitas à Praça, o espaço era praticamente vazio.  Praticamente junto conosco chegou Ana Karina e família, que organizaram perto dali um piquenique.  O professor Hermínio Neto, nosso convidado, chegou às 15:30h.
         Tivemos um pequeno contra-tempo que atrasou um pouco a nossa divulgação. Descobrimos que nossa impressora, comprada às pressas depois da destruição da primeira por uma colônia de formigas, tem um cartucho de tinta de curta duração, e, o que é pior, se a tinta preta se esgotar ela não imprime a partir dos cartuchos coloridos. Solicitamos a Hilda – que já nos socorreu tantas vezes – que imprimisse em sua casa o Certificado e o Título, além do material de divulgação. Alguns desencontros normais fizeram com que tivéssemos acesso ao material apenas às 15:45h, motivo pelo qual resolvemos remarcar o “Soprando Histórias” para as 16:30h.
         Com a chegada de Hilda iniciamos, com sua ajuda, a divulgação. Havia muita gente na Praça e logo todo o material foi distribuído. No retorno à praça não parecia haver tanta gente, mas, quando fizemos a chamada para o “Soprando Histórias” um grande numero de pessoas se acomodou em volta do Professor Neto.
          A história de sua participação começou com uma visita nossa a um evento na Aliança Francesa de Maringá, na qual ele estava presente. Na ocasião haveria a exibição de um filme em língua francesa, “O tango de Rashevski”, uma história interessante envolvendo a vida de judeus franceses, enfocando a mudança de seus costumes e a sua relação com os costumes tradicionais a partir da emigração ocorrida no contexto da Segunda Guerra Mundial. Antes da exibição a Aliança Francesa organizou uma pequena recepção, ao jeito de festa americana, e ali pudemos conhecer os professores e alguns freqüentadores da Aliança, e nos sentimos bem acolhidos e à vontade com aquelas pessoas tão interessantes.
Foi nessa ocasião que conhecemos o professor Hermínio Neto, professor da instituição. Estávamos acompanhados de Hilda, que estuda francês na Aliança,e foi numa conversa animada com o professor, em que falamos do Leituras e da experiência de Hilda como leitora bilíngüe do Projeto que surgiu a idéia de convidá-lo para uma leitura bilíngüe. Isso foi em julho, e um longo tempo se passou até que formalizamos o convite e, a uma semana da apresentação, confirmamos a leitura que seria feita pelo professor: Le Roi de Corbeaux (O Rei dos Corvos), de Jean-François Bladé, conto pertencente a um dos volumes da grande coleção de contos tradicionais “Mille ans de contes” com ilustrações de Sorine em edição francesa da Milan.
O volume é basicamente um livro de textos, e as ilustrações, embora primorosas e de teor artístico indiscutível, são discretas e monocromáticas. O conto ocupa cinco páginas, o que não é pouco, mas não chega a ser problema para um leitor-contador habilidoso.
A história tem todos os elementos do conto de fadas tradicional: um rei, um príncipe e princesas, encantamento, magia, o bem e o mal e um caminho a ser percorrido – sem poupar sacrifícios e sofrimentos – que vai do erro à redenção.
 Na História, o Rei dos Corvos visita um reino onde vive um rei que possui um único olho no meio da testa. O rei vive em seu castelo com suas três filhas, a mais velha com trinta, a do meio com vinte e a mais nova com dez anos de idade. O Rei dos Corvos, na verdade uma ave gigante, diz ao rei que quer desposar uma de suas filhas. O rei leva a proposta às duas mais velhas, que dizem prontamente estarem comprometidas. O rei não consulta a mais nova, pois a julga ainda jovem demais para o matrimônio. Retorna ao Rei dos Corvos dizendo-lhes que nenhuma de suas filhas se dispõe a casar com ele. O Rei dos Corvos, irado, bica o único olho do rei, capturando-o e parte em seguida. As filhas, atraídas pelos gritos do pai, correm a acudi-lo, e ele lhes conta a sua desgraça. A filha mais nova diz que aceita casar-se com o rei dos corvos, e vai à sua procura, na esperança de recuperar a visão do pai.
O rei dos corvos a recebe e aceita, e concorda em esperar dez anos até que a princesa tenha idade suficiente para desposá-lo. Conta a ela que é na verdade um príncipe que foi transformado em corvo por um feiticeiro maligno, tornando-se homem apenas durante a noite, e que só se livraria da maldição no dia do seu casamento. Mas até lá a princesa, que deveria morar com ele, não deveria vê-lo, sob pena de perdê-lo e trazer grandes desgraças para ele e para si mesma. A princesa luta intimamente para vencer sua curiosidade, mas a um dia de completar os dez anos ela ergue uma vela sobre o príncipe a noite e o vê. O príncipe é um jovem belíssimo, mas nesse momento um pingo da cera quente da vela o atinge e ele acorda. Irado, a expulsa do reino e diz a ela que não volte para presenciar sua desgraça. O feiticeiro maligno então retorna e aprisiona o príncipe em um rochedo, sob a guarda de dois cães ferozes.
A partir daí começa a jornada da princesa, arrependida do que fez e disposta a recuperar o seu amor, o que finalmente consegue depois de um longo tempo e enormes sacrifícios.
Adah, ao ouvir a história, lembrou-se do mito de Eros e Psyché e eu penso que sua lembrança é perfeita. Tal como Psyché, que busca com grande sacrifício o objeto do seu amor, amparada em sua fragilidade pela assistência divina, a princesa recebe atributos mágicos que a auxiliam em sua busca e também a superar os obstáculos terríveis em seu caminho.
O professor Neto utilizou dois recursos formidáveis para contar a história: uma máscara, que utilizava para encarnar o Rei dos Corvos, aparecendo nessas ocasiões suas falas em francês; e uma flauta doce tenor, com a qual tocava uma melodia de letra variável, em que algum personagem fantástico dizia a moça de seus acertos e erros. Isso reforçou o clima de encantamento da história, e o drama da princesa em busca do seu amor arrancou suspiros da platéia presente, principalmente das moças. A interação entre o leitor-contador, que se transfigurava, tocava e cantava, e a platéia, que suspirava e cantava junto com o leitor aquela melodia triste e lamentosa, foi perfeita. Ao final, exclamações de “Que lindo!” e muitas, muitas palmas.
Após a história convidamos duas crianças para entregar ao professor Neto nosso Certificado de Participação e o Título de Amigo Leitor das Crianças e Adolescentes da Cidade de Maringá e região. Novamente muitas palmas e os nossos agradecimentos ao professor Neto, que, muito gentil, teceu um elogio público ao Projeto e falou, a nosso pedido, ao público sobre a Aliança Francesa. Passamos as informações culturais de praxe e encerramos o “Soprando Histórias”.
Registramos pouco mais de vinte pessoas no caderno de registros, número irreal em relação ao verdadeiro número de freqüentadores desse dia. Havia, com segurança quase o dobro somente durante a leitura da história. Também não tiramos tantas fotos quanto gostaríamos, embora não tenham sido poucas. Novamente ficou evidente para nós a falta de colaboradores fixos que possam ajudar no desenvolvimento dos trabalhos, dando mais atenção, por exemplo, aos registros fotográfico e escrito, liberando-nos para o atendimento ao público, ao convidado, e para a coleta de dados (observação e entrevistas) para que possamos entender melhor a natureza do que estamos fazendo e seu alcance junto ao público.  Também reiteramos a necessidade de um equipamento mínimo de som (uma caixa acústica alimentada por bateria e um microfone com tripé) e imagem (filmadora com tripé), ambos para a execução e gravação do “Soprando Histórias”.
Houve um rápido esvaziamento desta vez, mas permanecemos em nosso espaço até as 17:30h, quando encerramos. No mais, foi mais uma tarde de sucesso do “Leituras ao Vento”, e nós só temos a agradecer ao nosso público. Um abraço e até a próxima.         



Projeto Leituras ao Vento
21º Relatório - dia 28/08/2011
PARANÁ EM AÇÃO - SARANDI


         No terceiro dia de nossa experiência no Paraná em Ação começamos com a expectativa de uma manhã relativamente curta, já que retornaríamos com a van ao meio-dia, restando-nos, descontados montagem e desmontagem do material, cerca de duas horas, ou pouco mais que isso, para desenvolvermos nosso trabalho. Mesmo assim marcamos uma leitura de história para as 10:30h.
         Havia um público bem menor percorrendo os estandes nesse dia, embora não fosse um número nada desprezível. O vento atrapalhou menos que nos dias anteriores, mas ainda assim exigiu cuidados na hora de pendurar os livros e estender as esteiras.
         Desta vez, o dia foi das crianças menores. Alguns bebês passaram pelo espaço do Leituras, e também muitas crianças até cinco anos. Assim, contamos histórias várias vezes para pequenos grupos.
         Às 10:30h começamos a leitura da história. O livro escolhido por Maristela já foi lido dentro do “Soprando Histórias”, e foi escolhido tendo em vista o público feminino ser maioria naquela manhã: “Belinda, a bailarina”, de Amy Young, editado pela Ática. A história da bailarina de pés grandes, já comentada em nossos relatórios, fez sucesso também nessa segunda aparição, para um público mais restrito do que aquele que esteve presente à apresentação de Flor Duarte, mas igualmente apaixonado.
         Às 11:15h, como um grupo razoável de crianças ainda ocupasse o nosso espaço – talvez o momento de maior concentração do dia, cerca de dez crianças – eu me aventurei a contar uma última história, já contada um dia antes para um público menor do que o que estava agora a minha disposição: “Crictor”, de Tomi Ungerer, editado também pela Ática.
         O nome ou as cores do livro não chamam muita atenção: não é possível identificar quem ou que seja Crictor antes de começar a leitura da história, e predomina pelas páginas do livro um tom de verde, sem muitos contrastes, o que dá uma certa palidez à publicação. Mas a história e o efeito sobre os ouvintes são surpreendentes.
         O livro conta a história de Louise Bodot, uma tranqüila velhinha que mora numa cidadezinha do interior da França e que recebe de seu filho estudioso de répteis, pelo correio, um presente inusitado: uma cobra. A velhinha descobre que o animal é uma jibóia – constrictor – e resolve chamá-lo de Crictor. Ela o adota como animal de estimação e este se revela como um companheiro fiel e cheio de inesperados talentos: ele desenha letras e números com o próprio corpo, brinca de escorregador e pula-corda com as crianças, ensina-as a dar nós e recupera papagaios escalando postes.  Crictor, por fim, ajuda a prender um ladrão enrolando-se em seu corpo até a chegada da polícia, e é condecorado e homenageado pela cidade por isso.
         A história de Crictor é a de um amigo diferente, inteligente e solidário, que nos faz sentir saudades de nossos amigos fiéis, a quem amamos e que ficaram perdidos em alguma dobra do espaço ou do tempo.
         É interessante, nesse momento final da participação do Leituras ao Vento no Programa Paraná em Ação, fazermos uma avaliação geral do que foi essa participação. É preciso dizer em primeiro lugar que foi uma experiência bem diferente do que fazemos todos os domingos na Praça, e mesmo diferente do que fizemos em Ivatuba, no Educriança. Na Praça nos acostumamos a lidar com um público que responde positivamente ao nosso chamado e que vai à praça para passear, se divertir em família e, eventualmente, ler; em Ivatuba tínhamos as meninas a nossa espera; em Sarandi lidamos com um público que gostou do Projeto como nos outros lugares, e que generosamente nos fez elogios, mas que estava apenas de passagem, preocupado em ter acesso aos serviços de saúde, burocracia e justiça ofertados, os quais normalmente não tem acesso com facilidade, conforme nos disseram. As crianças, levadas pelos pais, não tinham em geral muito tempo para ficar no espaço do Leituras, pois logo eram levadas para os estandes de prestação de serviços ou para casa. Assim, estavam sempre presentes em pequenos grupos, que não chegaram a ultrapassar uma dúzia de crianças em cada momento.
         Também verificamos a presença forte de crianças menores, talvez pelo fato de os pais não terem com quem deixar, e de crianças que, mesmo afirmando estarem cursando a terceira série em escolas públicas da cidade, não sabiam ler e escrever.
         Assim, a estratégia de multiplicar as leituras-contações para pequenos grupos e até mesmo para uma única criança mostrou ser a mais viável para que as crianças aproveitassem o nosso acervo.
Também indicamos muitos livros para crianças e adolescentes que pareciam buscar interesse à medida que exploravam os varais, baús e esteiras, mas que, por desconhecer os títulos, custavam a se decidir por algum deles.
Além dos livros citados nos relatórios dessa experiência, e que foram lidos para grupos maiores, foram também trabalhados: “A menina das borboletas”, livro de imagens de Roberto Caldas, da editora Paulus; “A menina dorminhoca”, de Totó com ilustrações de Glair Arruda, editora FTD; “A felicidade das borboletas”, texto de Patrícia Engel Secco, ilustrado por Daniel Kondo, editora Melhoramentos; “Marcelo, Marmelo, Martelo”, de Ruth Rocha, ilustração de Adalberto Cornavaca, editora Salamandra; “A girafa comilona”, texto de Eunice Braido, ilustrado por Mônica Fuchshuber, editora FTD; “O livro inclinado”, de Peter Newell, editora Cosac Naify; “A verdadeira história dos três porquinhos”, de Jon Scieszka, ilustrada por Lane Smith, editora Companhia das Letrinhas, esse também já lido no “Soprando Histórias”; “Luzinha Curiosa”, outro livro de imagens do genial Roberto Caldas, Edições Paulinas; “A limpeza de Teresa”, da inigualável Sylvia Orthof, com ilustrações de Sonia Maria de Souza, editora Ática; “Chapeuzinho Amarelo”, de Chico Buarque, com ilustrações de ninguém menos do que Ziraldo, editora José Olympio; “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado com ilustrações de Claudius, editora Ática; e, por fim, outro sucesso do “Soprando Histórias”, “A casa sonolenta”, de Audrey Wood, com ilustrações de Don Wood, editora Ática.
         Alguns desses livros foram lidos mais de uma vez, como “Onde vivem os monstros” – pelo menos cinco vezes – “A casa sonolenta” – três vezes – “O homem que amava caixas” – três vezes – “A girafa comilona” – três vezes – e “Crictor” – duas vezes. Também é importante comentar que “Menina bonita do laço de fita” foi lido para um pequeno grupo de crianças por uma de nossas pequenas expectadoras, uma menina de cerca de nove anos! – o que comprova o quanto algumas crianças podem ficar à vontade em nosso espaço.                           
          Foram, portanto, pelo menos doze títulos nos três dias, e cerca de vinte e três leituras. Temos que registrar também a grande aceitação, pelo público adolescente ou pré-adolescente, dos números 1 e 2 da série “Querido Diário Otário”, de Jim Benton, editora Fundamento, disponíveis em nosso acervo. E isso mesmo considerando que boa parte do público presente ao nosso espaço nessa faixa etária sequer conhecia anteriormente esse título. Uma das expectadoras afirmou não ler – no sentido de não possuir hábito de leitura – e ainda assim, após oferecermos um exemplar do número 1 permaneceu com ele por quase uma hora, lendo-o com muita atenção.
         Foi isso. Um abraço e até o próximo Leituras ao Vento.  


Projeto Leituras ao Vento
20º Relatório - dia 27/08/2011
PARANÁ EM AÇÃO - SARANDI

Neste segundo dia, animados com o espaço ao nosso dispor no evento, levamos mais um bauzinho, mas carregando apenas algumas almofadas. Ao chegar, nossa maior surpresa e nosso maior desafio naquele dia ficou evidente: o vento. Muito forte, a ventania nos açoitou durante todo o dia, arrancando livros dos varais e arrastando as esteiras, por mais livros que nós colocássemos sobre elas para tentarmos mantê-las no lugar.
Essa experiência serviu para reforçar alguns ensinamentos que já havíamos obtido no confronto com a natureza na Praça: livros grandes são pesados e, aparentemente por esse motivo, mais difíceis de serem levados pelo vento. Não e verdade na prática. Uma ventania um pouco mais forte leva indistintamente os livros grandes e os pequenos. Ao contrário do que possa parecer, é melhor manter os livros mais leves no varal, porque os pregadores os suportam melhor na disputa com o vento. Os livros maiores devem ser retirados do varal e colocados sobre as esteiras, para ajudar a fixá-las; a posição das esteiras deve ser longitudinal ao soprar do vento, para evitar que a sua lateral, mais extensa, receba o vento por baixo delas e as levante, o que ocorre mesmo com uma boa quantidade de livros sobre elas; por fim, cuidado e uma arrumação constante, além de paciência, são necessários nessa luta milenar do homem contra os elementos.
Nesse sábado, sem a concorrência das escolas, a freqüência ao espaço do Leituras foi significativamente maior. Aumentou com o passar do tempo da manhã, e nos propiciou diversos momentos em que tínhamos grupos de meia dúzia de crianças ou mais. Aproveitávamos esses momentos, normalmente efêmeros, para nos acercarmos delas, sugerirmos leituras, procurar deixá-las à vontade para explorar o acervo, ou para ler para elas. Fizemos muitas leituras para pequenos grupos, e também para uma só criança, como no dia anterior.
Durante a semana havíamos pensado em fazer uma leitura por turno par um grupo grande, a exemplo do que nossos convidados fazem na Praça. Mas, não encontrando condições favoráveis, adotamos, como já dissemos, uma estratégia diferente. O rapaz responsável pela sonorização nos ofereceu no dia anterior uma caixa de som e microfone, que acabamos não requisitando por não ser necessário ou conveniente com um público tão restrito e irregular. Mas, ao avaliar nossa experiência no final do primeiro dia, decidimos que tentaríamos fazer dois momentos de leitura de livro, um em cada turno, como havíamos imaginado a princípio, sem a expectativa de um grande público, mas investindo na divulgação estilo corpo a corpo, como fazemos na Praça, para atrair um público pelo menos razoável para as leituras, além de chamar a atenção do público em geral para nossa presença e nossa proposta.
Assim, ao chegar procuramos o rapaz da sonorização e pedimos a caixa de som e o microfone para as 11:00h. Havia uma apresentação de teatro marcada para as 10:00h, e o rapaz ficou de nos levar o material assim que essa apresentação, cuja duração aproximada era de 20 minutos – conforme ele nos informou – terminasse. Enquanto isso eu fiz divulgação ao longo do corredor principal, lotado àquela altura, com pessoas buscando os serviços oferecidos, ou simplesmente visitando os estandes, e dali segui para o parquinho, onde fiz uma chamada geral para a leitura da história.
Por volta de 10:45h o rapaz nos trouxe a caixa e o microfone. Maristela fez uma última chamada nos arredores e logo depois começamos a leitura. Combinamos que eu faria a leitura da manhã e ela a da tarde. Assim, escolhi o livro “O barbeiro e o coronel”, e fiz a leitura.
O livro conta a história de um “coronel” proprietário de terras, no estilo dos coronéis nordestinos da passagem do século XIX para o século XX , e do barbeiro que vivia na pequena cidade cercada pelas terras do temido “coronel”, sempre acompanhado de seus capangas mal-encarados. O coronel faz um desafio de vida e de morte ao pobre barbeiro: este deveria descobrir quantos fios de cabelo existiam na cabeça do coronel, ou receberia um castigo terrível! O barbeiro pede tempo ao coronel, e segue para a floresta, onde pede ajuda aos seres ali presentes para resolver esse enigma. Depois de uma série de insucessos, o barbeiro tem uma idéia que salva a sua vida: ilude o coronel, e consegue, sem que ele perceba, raspar os seus cabelos, não lhe restando um fio sequer sobre a cabeça. Consegue, assim, responder a pergunta inicial do coronel, e ainda o expõe ao ridículo perante as autoridades e demais moradores da vila. É uma história sobre a luta contra a opressão e sobre, no final das contas, a face ridícula do poder. Funciona também para as crianças, que gostam daquele personagem desamparado frente ao perigo, que se retira para buscar a ajuda dos elementos, mas percebe que a natureza, enquanto espaço do grandioso e do eterno, apenas dá aos problemas dos homens a impressão da sua própria pujança. Ao final os problemas humanos são resolvidos com os recursos que os próprios seres humanos adquiriram ao lidar com a natureza e consigo próprios: as ações planejadas e executadas a partir de idéias. 
Havia meia dúzia de crianças presentes à leitura, e eu e Maristela descobrimos que ainda não sabemos lidar muito bem com microfones. Contar a história e utilizar o livro como recurso, mostrando as ilustrações, e ao mesmo tempo lidar com o posicionamento do microfone junto à boca foi um desafio que enfrentamos a dois: Maristela tentava posicionar o microfone enquanto eu me ocupava da história, do livro e da atenção das crianças. Com todas as dificuldades, as crianças parecem ter gostado da história, embora tenhamos achado a leitura um pouco longa.
Na parte da tarde continuou o padrão dos pequenos grupos, das crianças que iam e vinham, ao sabor das necessidades dos pais. Novamente contamos histórias para uma ou duas crianças, e demos muitas sugestões de livros para os que chegavam, além de informar sobre o Projeto. O vento continuava muito forte, e continuamente tínhamos que reposicionar os livros sobre as esteiras para impedir que estas saíssem voando. A força do vento também insistia em arrancar os livros dos varais, e passamos a não recolocá-los mais, deixando uns claros nos varais.
Tínhamos marcado uma leitura para as 16:00h. Mas acabamos contando duas: uma às 15:15h, quando julgamos, pelo número de crianças presentes, que seria interessante aproveitar o momento para contar uma história para um grupo razoável; e outra no horário previsto.
Às 15:15h Maristela contou a história “O homem que amava caixas”, escrito e ilustrado por Stephen Michael King, em edição da Brinque-Book. A história é um relato singelo sobre um homem e seu filho, e sobre a dificuldade do homem em dizer a seu filho o quanto o ama. A solução encontrada foi expressar o seu amor por meio de engenhosos brinquedos de papelão construídos por ele a partir de caixas de diferentes formatos, que colecionava apaixonadamente. O pai assim encheu sua bela casa à beira do mar, e a vida do filho, com amigos e afeto, intermediados por aqueles brinquedos diferentes e maleáveis, tão belos e frágeis perante os elementos quanto belo e forte era o amor entre pai e filho. Passando seu tempo, sempre ao lado do filho, montando brinquedos de papelão – que viravam castelos, aviões, papagaios e esconderijos – ou brincando com o menino em passeios sobre a ravina ou caminhando sob o vento na areia da praia, o pai descobriu uma maneira prática e calorosa de expressar de uma maneira transbordante de felicidade um sentimento tão intenso em seu peito que era impossível, para ele, de traduzir em palavras: o amor pelo filho.
Maristela contou essa bela história – sofrendo com o microfone, como eu – para uma pequena platéia de pequeninos muito interessados em participar, que percebiam detalhes, não somente das ilustrações belíssimas, mas do relacionamento afetivo entre os dois personagens. Maravilhosa experiência.
Às 16:00h eu escolhi para leitura “Onde vivem os monstros”, grande clássico da literatura infantil escrito e ilustrado por Maurice Sendak, em edição primorosa da Cosac Naify.
O livro é a história de um menino “bagunceiro” e imaginativo, e, como tal, igual a todas as crianças, pelo menos em algum momento das vidinhas infantis que costumamos encontrar e conviver por aí; ou, até, igual àquele menino ou menina que insiste em habitar no coração e nas memórias de todo adulto, como um “eu verdadeiro” livre e soberano, indestrutível, de plantão, ali, ao alcance da mão e da imaginação, a encher de cores e de afeto nossas consciências mesmo quando não “precisamos”. Max – era o nome desse menino – é colocado de castigo em seu quarto por causa de uma resposta “atravessada” dada a uma admoestação da mãe, depois de uma das sessões de bagunça do “monstrinho” Max, metido em sua fantasia de lobo.
Enquanto a mãe decidia se ia ou não preparar o jantar do endiabrado menino, este se depara com a transformação do seu quarto em uma imensa floresta de árvores altas de um verde pujante e emaranhados de cipós que pendiam do teto. Logo depois as paredes desapareceram e surgiu a noite enluarada, e um oceano infinito com um barquinho ancorado em suas margens, em cujo casco se podia ler o seu nome.
A viagem de Max, no tempo imaginário de semanas que formavam um ano fantástico, levou-o ao fantástico lugar onde vivem os monstros. Esses monstros, com todos os seus atributos assustadores de monstros, acabaram dominados pelo “horrendo” Max, com sua infalível magia de olhar nos olhos amarelos dos monstros sem piscar uma única vez. Tornado rei dos monstros, Max decretou a bagunça geral, e uivou para a lua com eles, cavalgou-os e macaqueou nas árvores em sua companhia. Max, chamado de “monstro” por sua mãe, tornou-se de fato o rei menino de todos eles, e, por saudades de sua mãe, que magicamente liberava por todo o universo e até a terra dos monstros o odor irresistível do seu jantar, resolveu voltar. 
Talvez pudéssemos dizer, nos inspirando em Walter Benjamin, que os objetos da realidade possuem múltiplos significados, alguns deles mágicos, como acreditam os religiosos e as crianças, e que nos esquecemos, em nossa fria sociedade racional, de sermos como Max. Sim, exatamente: não frágeis diante do universo infindo, mas indestrutíveis criadores de significados, e como tais, criadores do próprio universo – nem que seja a partir do assoalho e das paredes dos nossos quartos.
Ler “Onde vivem os monstros” para as crianças foi para mim uma experiência apaixonante. A beleza – e a necessidade – de se ler para as crianças – e esse livro tornou para mim isso evidente – ultrapassa a mera necessidade de se ler para pequerruchos que ainda não dominam as letras; a aproximação à leitura sempre é uma aproximação mediada. Em algum momento de nossas vidas ouvimos histórias, de nossos pais e avós, de nossos amigos e vizinhos, de estranhos que nos falam das páginas de um livro ou da tela do cinema ou da tevê. Em algum momento a história contada nos toca, seja por influência do enredo, da habilidade do contador ou ambos. Muitas histórias maravilhosas que, no bombardeio multicolorido e atordoante do grande universo de histórias com as quais fazemos contato durante a vida, nos passam despercebidas, podem ser resgatadas em sua riqueza exatamente pelo interesse e habilidade do contador.
Assim é que podemos observar, durante o Projeto, as crianças folheando livros rapidamente, hipnotizadas por maravilhosas ilustrações, mas muitas vezes abandonando esses livros depois de passear por seu colorido. Quando apanhamos esses livros e contamos a história para elas, é como se elas nunca o tivessem visto: as ilustrações ganham sentido ao cumprir sua função de recontar, por meio de imagens, o enredo escrito que se torna performance oral do contador; há o envolvimento e a identificação, necessários à compreensão e apreensão de qualquer história; e há a interação, enquanto diálogo dramático de impressões entre o contador e seus expectadores.
“Onde vivem os monstros” nos permitem uma experiência completa das relações possíveis entre leitor-contador e expectadores. O livro é composto de frases curtas – embora contundentes – e as ilustrações desempenham um papel central. As crianças o procuram muito para folhear. Durante uma leitura-contação, elas passam a compor o universo de Max, personagem que chama a atenção imediata das crianças, por sua personalidade irrequieta e sua autoconfiança. Essa identificação produz a integração imediata entre enredo e ilustrações.
Os monstros representam o superlativo da liberdade infantil de Max. Ser livre para explorar o mundo e dominar, por gestos, palavras e ações, seres animados e inanimados, reais ou imaginários, dando a todos um lugar no universo fantástico da sua imaginação. A “bagunça geral”, com seu ar de ritual primitivo e comunhão com a natureza, é a alegre celebração do caos primordial segundo uma ordem própria, do Max criador, que libera seus monstros para brincarem como crianças, transmuta-os em crianças “monstruosas” como ele, invertendo a fórmula da mãe que interpela numa realidade distante dos limites impostos pelo mundo real, na terra onde vivem os monstros.
No diálogo interativo com o leitor-contador, as crianças se confessam “bagunceiras”, monstruosas como Max, apontam as ilustrações escolhendo seus monstros preferidos ou aqueles com quem se identificam, rugem, reviram os olhos, mostram suas garras, enfeitiçam-se uns aos outros olhando fixamente sem piscar, reconhecem como legítimas brincadeiras os saltos e macaquices de Max e seus monstros, percebem a saudade que o menino sente da mãe, sentem o cheiro do seu jantar, dão adeus a Max ao modo dos monstros e retornam com ele para casa.
O segundo dia terminou depois dessa leitura-contação maravilhosa e cheia de interatividade. Valeu.         



Projeto Leituras ao Vento
19º Relatório - dia 26/08/2011
PARANÁ EM AÇÃO-SARANDI

         Representando o PCA junto à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PEC) da UEM, o Leituras ao Vento está participando do Programa Paraná em Ação, uma iniciativa do Governo do Estado do Paraná para prestação de serviços básicos à população na área de saúde (prevenção da hipertensão e diabetes, cuidados com a saúde dos dentes), justiça (emissão de documentos, divórcios, uniões estáveis, casamentos, guarda), serviços (corte de cabelo), infra-estrutura (orientações quanto ao uso e economia de energia elétrica) entre outros.
         Além dos serviços previstos, foi montado um palco para apresentações teatrais, folclóricas e de grupos musicais.
         O espaço principal foi estruturado na forma de um corredor amplo cercado por tendas altas de cobertura branca, cada uma reservada a uma instituição ou serviço; outras duas tendas semelhantes foram montadas em uma das entradas, formando um “L”com o corredor principal, e uma outra tenda maior e mais ampla, montada sobre um gramado, foi montada na lateral desse corredor, próximo à outra entrada para o evento; na base do “L” está uma escola, cujas salas e espaço do pátio foram utilizados para fazer funcionar parte dos serviços, como uma agência bancária, emissão de documentos, estúdio fotográfico para fotos a serem utilizadas nessas emissões, além de água e banheiros à disposição dos freqüentadores; ao lado da escola um refeitório foi montado para servir aos participantes do Programa, que recebiam senhas para almoçar em regime de revezamento; um caminhão-baú com água mineral em copos ficou também à disposição dos participantes, bem ao lado do corredor principal, no lado contrário à grande tenda isolada; bem em frente à tenda isolada fica a entrada do ginásio de esportes, um prédio quadrado, fechado e coberto, com todo espaço permitido por um ginásio, onde ficaram concentrados os serviços de justiça; a polícia militar e um contingente do Exército Brasileiro transitavam pelo local, garantindo a segurança necessária às pessoas que iam buscar os serviços.
         Nesse primeiro dia muitas pessoas procuraram os serviços oferecidos pelo Programa. As equipes de prestadores chegaram bem cedo – a van da UEM chegou antes às 08:00h – e se prepararam para o início dos serviços, previstos para as 09:00h. Às 10:00h foi feita a abertura oficial do Programa em Sarandi, com a presença de autoridades estaduais e municipais, já com os serviços em andamento.
         A UEM ficou com um estande dentro do corredor principal, próximo ao seu ponto médio, servindo de base para a atuação de suas equipes: os acadêmicos de Odontologia, os “doutores da alegria” e nós, do PCA. O trabalho efetivo foi, no entanto, desenvolvido também no espaço da escola e na tenda isolada, espaço também reservado à UEM.
         O Leituras ao Vento, como representante do PCA, ficou instalado na tenda isolada, onde nossa expectativa era dividir o espaço com as outras duas equipes. É a partir desse ponto que eu começo a contar a história da participação do Leituras ao Vento nesse evento.
         O convite da professora Verônica Muller para representarmos o PCA no Programa Paraná em Ação, atendendo ao chamado da PEC, foi uma grata surpresa nessa curta mas significativa trajetória do Projeto Leituras ao Vento. O Projeto existe a pouco mais de cinco meses, e nesse período só havíamos saído de nossa base, o gramado da Praça da Catedral Metropolitana em Maringá, apenas uma vez, quando visitamos o EDUCRIANÇA, em Ivatuba. Durante esse período o Projeto se integrou à paisagem da Praça, adquiriu um público habitual e muitos visitantes novos que vinham nos visitar por indicação de amigos que já nos conheciam ou por tomar conhecimento do Projeto pela imprensa ou pelos panfletos que distribuíamos na cidade. O “Soprando Histórias”, momento de leitura de livro efetuado por um convidado, se tornou uma grande atração do Projeto, e nosso blog ganhou muitos seguidores e apoiadores, que nos ajudam a divulgar os eventos.
         Com o aval da professora Verônica, estabelecemos junto ao PEC a nossa participação nos três dias do Projeto – com exceção do domingo à tarde, reservado para nosso evento na Praça, para o qual já tínhamos convidado agendado a cerca de um mês.
         Não tínhamos uma idéia exata do espaço que teríamos disponível para montar nossos varais, e imaginávamos, no mínimo, dividir o estande com as outras equipes, e, no máximo, uma tendinha 2 x 3 m em frente ao estande. Por isso, resolvemos fazer uma seleção dos livros que levamos normalmente à Praça, cortando cerca de 1/3 do total. Também resolvemos não levar as almofadas e as banquetas. O material ficou reduzido ao que coube no baú de vime da Adah e em baús menores, incluindo cordas, pregadores, esteiras, livro de registro, máquina fotográfica, etc.
         Por isso, a surpresa não poderia ter sido melhor ao ver que ocuparíamos a tenda isolada, armada sobre uma grande área gramada, ideal para esticarmos nossos varais e estendermos nossas esteiras, mesmo com a perspectiva de usarmos apenas parte do espaço disponível. Montamos nosso espaço rapidamente, esticando os varais por três das quatro colunas de ferro da tenda, ocupando, portanto, duas de suas laterais. Penduramos os livros e estendemos as esteiras, tomando o cuidado para colocar os livros maiores e mais pesados sobre elas, para protegê-las da ação do vento. Restaram poucos livros dentro dos baús; procuramos acomodá-los para facilitar seu manuseio pelas crianças.
         Essa primeira manhã nos ensinou algumas coisas sobre eventos desse tipo. Diferente do espaço da Praça, onde as pessoas vão para passear e aproveitar as possíveis atrações disponíveis, o Paraná em Ação trouxe a Sarandi um público ávido por serviços que normalmente, para a maioria de sua população, não estão disponíveis facilmente, por serem dispendiosos, ou distantes de suas casas, ou excessivamente burocráticos, ou por qualquer outro motivo que os separa de benefícios a muito esperados, razão pela qual priorizam o atendimento por esses serviços durante o tempo em que permanecem no espaço do Programa. Muitas crianças, obviamente, acompanham os pais nessa empreitada, como beneficiárias dos serviços ou simplesmente pelo fato de os pais ou responsáveis não terem com quem deixá-las. Assim, o espaço do Programa acaba assemelhando-se a um grande corredor de serviços, onde as pessoas passam e pouco tempo se dão para deter os olhos em algo que não seja de seu interesse direto. Os adultos levam as crianças consigo nas suas andanças pelo espaço, ou os deixam no pequeno parquinho montado à frente do ginásio de esportes, composto por um pula-pula e um escorregador inflável. Lá, as crianças se divertem, algumas sozinhas, outras na companhia de adultos, com a ajuda de soldados do exército. As crianças também vão até um espaço educativo do Detran, ao lado do parquinho, onde aprendem regras de trânsito numa “pista” de brinquedo, metidas dentro de carrinhos pendurados aos ombros, como bumbas-meu-boi, só que feitos de carrinhos.
         As crianças também passam pelo espaço do Leituras, onde ficam geralmente por pouco tempo, até que algum adulto vá buscá-las, ou até que o adulto que a acompanhe abandone o local, em busca do serviço ao qual veio procurar ou para voltar para casa depois de algum cansaço esperando em filas ou aguardando que chegue a vez da sua senha.
         Nesse primeiro dia o movimento no espaço foi pequeno também devido a outro motivo, mais corriqueiro: é uma sexta-feira, e a maioria das crianças está na escola, principalmente as menores, que estudam em sua maioria pela manhã.   
         De qualquer forma, confrontados com esse pequeno número de crianças, adotamos uma tática diferente. Aproveitávamos cada criança que aparecia para fazer um atendimento individual, direto, sugerindo leituras e nos oferecendo para ler às menores. Assim, líamos para pequenos grupos ou até para uma única criança, uma experiência que era apenas ocasional na Praça, e que se tornou nossa principal estratégia em Sarandi. Acabou sendo uma experiência interessantíssima. Travamos contato com crianças falantes, crianças caladas, crianças que nos pediam para ler dois ou até três livros, crianças com diferentes níveis de atenção. A diversidade se torna naturalmente evidente quando o atendimento é individual ou em pequenos grupos. Também foi uma ótima oportunidade para treinarmos leitura de histórias, já que nos acostumamos, na Praça, a apenas recepcionarmos nossos convidados-leitores. No final da manhã e no final da tarde o movimento no espaço do Leituras aumentou um pouco, devido à diminuição do ritmo da prestação de serviços com a proximidade do almoço ou do final do expediente do dia.
         Por volta das 14:30h surgiu uma equipe de trabalhadores que começou a montar um tablado por toda a extensão do gramado coberto pela tenda. Nós pensamos: “chegou a hora de dividir o espaço com as outras equipes”. Nos acomodamos num cantinho próximo a uma das laterais, no gramado do lado de fora da cobertura da tenda, junto e abaixo dos varais instalados daquele lado. Ainda assim era um espaço suficiente para nós, e que foi bem aproveitado pelo público que nos visitou. Não fazíamos absolutamente questão de usar o tablado, já que estávamos acostumados, na Praça, a estender as esteiras sobre o gramado.  Mas cerca de uma hora depois, com o tablado montado e coberto por um carpete cinza, um dos trabalhadores nos avisou que já poderíamos ocupá-lo. Pegamos nossas esteiras e colocamos sobre o tablado. E o espaço ficou com uma cara aconchegante que nunca havíamos experimentado antes. Constatamos que, afinal de contas, não apareceria ninguém, e aquele imenso espaço seria mesmo nosso por aqueles dias. Maravilhoso.    
Deixamos o local às 17:10h. Apesar da baixa freqüência, foi um dia de grande aprendizado para o Projeto. E eu espero que nós tenhamos atingido de maneira especial aquelas crianças que nos visitaram.
                                


Projeto Leituras ao Vento
18º Relatório - dia 21/08/2011
SOPRANDO HISTÓRIAS COM ANDRÉIA ANHEZINI


Claro que vou, de novo, começar falando de um tema recorrente para o Leituras: o tempo. O tempo, seja o que transforma o novo em velho ou as nuvens em chuva, é o domínio do imponderável. Mas... assim o são a poesia e a literatura.
A semana trouxe novamente céus ameaçadores, madrugadas frias, semblantes taciturnos abrigados em roupas pesadas. Disse a Maristela, no sábado à noite, para se preparar para um domingo sem Leituras. 
De fato, tudo parecia indicar isso. A manhã de domingo foi especialmente fria, teve um início nublado e úmido, a exemplo de domingos anteriores em que tal situação persistiu por todo o dia.
Porém, próximo da hora do almoço um céu quase azul despontou e a temperatura chegou aos vinte e cinco graus, limite aceitável para belos passeios na Praça e momentos de leitura ao sabor do vento. Juntamos nosso material após ao almoço e fomos para a Praça.
Adah preferiu ficar em casa, para descansar e estudar. Claro que lhe demos todo o apoio. As obrigações escolares e o descanso do domingo estão em primeiro lugar. É claro que sentimos falta dela, nossa “menina dos nós”, parceira fundadora e colaboradora constante. Por conta de sua ausência nos esforçamos para chegar à Praça alguns minutos antes, para, antes de tudo, esticarmos o varal, tarefa que Adah saberia fazer em menos tempo e liberando Maristela para outras funções.
Chegamos à Praça às 14:42h. Tivemos uma surpresa: bem ao lado do nosso espaço de costume, em frente à escadaria da parte de trás da catedral, preparava-se um evento. Uma daquelas linhas de chegada infladas tomava conta do espaço, em frente a um palco onde estava instalado um sistema de som. O volume da música não era alto, mas de cara percebemos a impossibilidade de fazer o Leituras perto dali. Eu e Maristela descemos e inspecionamos o local, constatando essa impossibilidade. Caminhamos, então, pela Praça, primeiro no sentido horário depois no anti-horário. Nos afastamos pouco a pouco do sistema de som e chegamos à conclusão que poderíamos fazer o Leituras na esquina da Tiradentes  com a Herval, onde já havíamos feito antes, por ocasião da apresentação da Angelita. Voltamos ao carro, rodeamos a Praça e estacionamos bem perto de nosso objetivo.
Descarregamos, e às 14:58h começamos a esticar os varais. Maristela pendurava os livros e eu o banner quando nossa convidada, Professora Andréia Anhezini, chegou, acompanhada da Professora Vidlin. Recebemos a professora e então eu saí para a divulgação. Eram 15:26h quando saí e 14:55h quando voltei. Não havia tantas pessoas na Praça – claro, o tempo imprevisível deve ter segurado muita gente em casa – mas não se pode dizer que havia pouco. Distribuí todo o material, conversei com muita gente e voltei no limite do tempo.
Desta vez não encontrei o público já instalado quando voltei. As professoras aproveitavam calmamente o nosso acervo, e poucas pessoas estavam sobre as esteiras. Resolvemos esperar dez minutos e iniciar o “Soprando Histórias” com o público que estivesse presente. Mas nossos temores de que o público não viesse se dissiparam em cinco minutos: todos chegaram rapidamente, mães e pais, crianças e adolescentes, professoras, idosos, gente com camisa do time do coração, todos indagando, olhando com curiosidade, esperando que alguém os esclarecesse, ou mesmo cedendo à tentação de manusear os livros mesmo antes que os abordássemos.
Às 14:06h fizemos a chamada para o “Soprando Histórias”, já com quase todas as esteiras ocupadas.
A história contada pela Professora Andréia foi “Lilás, uma menina diferente”, de Mary L. Whitcomb, ilustrada por Tara Calahan King, tradução de Charles Cosac, em edição da Cosac Naify. Na história, a personagem Lilás tem um jeito de ser todo especial. Tem o gosto pelo diferente e pelo exótico, não que sejam os seus gostos intencionalmente diferentes ou exóticos, mas porque, tendo a coragem de ser autêntica dentro de suas possibilidades, e de dar forma, com sua curiosidade e habilidade prática, à sua imaginação, Lilás produz a si mesma, se revela diante de um mundo de gostos homogêneos e previsíveis, causando espanto e admiração.
O que posso dizer da apresentação da Professora Andréia que caiba em palavras? Foi uma das mais sublimes apresentações que já presenciei. Um estilo leve e fluente, os olhos que sorriem acompanhando os lábios, uma interação constante, do jeito de quem conta uma novidade e espera olhares, respostas, como numa conversa entre amiguinhos que se conhecem há muito tempo. A professora cantou uma canção sobre Lilás, sobre ser diferente, e então a diferença ficou bela, poética. O livro foi usado quase como que uma janela, pela qual as crianças da Praça, curiosas, deitavam os olhos buscando conhecer melhor essa amiguinha tão peculiar. Como cada momento das delicadas esquisitices de Lilás fosse um sobressalto, a história fluiu dentro de um ritmo próprio, que as crianças acompanharam com prazer e sem resistência, como quem vê paisagens belíssimas da ampla escotilha de uma máquina do tempo. Assim, a Professora Andréia conseguiu a façanha de manter a atenção e o interesse de uma vintena de crianças e outra vintena de pais e mães, adolescentes e outros visitantes, por cerca de meia hora, um tempo jamais tentado anteriormente no Projeto. Bravo!
Após a leitura da história fizemos a entrega do Certificado de Participação e do Título de “Amiga Leitora das crianças e adolescentes da cidade de Maringá” à professora, e passamos as informações culturais de praxe. A professora falou sobre os corais da Escola de Música. Houve um tempo maior para a natural dispersão que ocorre após o “Soprando Histórias”, que terminou às 16:40h. Às 17:15h, com pouca gente no espaço do Leituras, começamos a pensar em recolher o material para encerrar. Aí, a surpresa.
As pessoas começaram novamente a chegar e, às 17:45h o espaço estava novamente cheio. Começamos a conversar com os presentes, passando informações sobre o Projeto e informando também sobre o que havia acontecido naquela tarde. O caderno de registros, que já alcançava 39 nomes, ganhou mais vinte assinaturas, fechando a tarde em 59. Às 18:15h o céu ganhou uma nebulosidade que escondeu o sol, enquanto a proximidade da noite dava mais profundidade ao azul que resistia às investidas das nuvens. Nossos visitantes, absolutamente à vontade, ainda ocupavam a maioria das esteiras, e pegavam livros nos varais e baús como se a tarde estivesse apenas começando. Um vento frio começou a bater e a obscuridade ameaçou ocultar as palavras sorvidas tão avidamente por nossos leitores amigos, absortos que estavam. Decidimos, por fim, começar a recolher, aos poucos e discretamente, o nosso acervo. Avisamos também discretamente que estávamos encerrando, e ouvimos protestos de uma menininha, que buscava mais um livro no varal, quando sua mãe a chamou para ir embora.         
Deixamos a Praça às 18:30h, meia hora após o nosso tempo limite de 18:00h – nunca antes sequer havíamos chegado a ficar até às 18:00h, diga-se de passagem – felizes com o absoluto sucesso da tarde. Mesmo tendo executado nossas atividades em um local diferente do habitual recebemos um público recorde, que permaneceu conosco por um tempo recorde. Além das pessoas que se tornaram nossos visitantes habituais recebemos novamente muitos visitantes novos e percebemos uma postura diferente do público em geral, que nos abordou desta vez menos timidamente, como se já fizéssemos parte das atividades normais da Praça, e se sentiram mais à vontade para entrar no espaço e dispor de nosso acervo, sem que precisássemos, em alguns casos, mesmo intermediar essa aproximação.
Uma das visitantes deparou-se com um título que lhe causou uma grande surpresa e alegria: “Lúcia já vou indo”, de Maria Heloísa Penteado, editora Ática. Na história, uma simpática lagarta chamada Lúcia, sempre muito devagar em seus pensamentos e em suas ações, chega sempre muito atrasada às festas para as quais era convidada. Depois de uma dessas ocasiões em que perdeu a festa, Lúcia chorou – “uma lágrima por hora, um soluço a cada meia hora” – até que sua amiga Libélula Chispa-Foguinho teve a idéia de fazer uma festa na casa de Lúcia. Sendo em sua casa não haveria como ela se atrasar. Mas ainda assim os amigos fizeram malabarismos para ajudá-la a voltar para casa a tempo de dar a própria festa. Uma história singela que fala de amizade e tolerância, e principalmente sobre não ficarmos sozinhos. A amizade e a celebração da alegria de viver como as chaves da felicidade.        
O interessante é que achamos este livro em um dos sebos que freqüentamos, e compramos por um motivo similar ao que levou nossa visitante ao prazer: Maristela conheceu esta história em sua época de escola, como texto integrado ao livro didático de Língua Portuguesa.
 As lembranças dos tempos de menina e da escola, e também dessas primeiras leituras de histórias infantis tocaram Maristela, e com certeza também nossa visitante. Transcrevo aqui as impressões de nossa visitante, grafadas em nosso livro de registros:

“Me emocionou ao encontrar no acervo ‘Lúcia já vou indo’. Tem cheiro de infância, cheiro de saudades. Ganhei do meu pai quando criança e esse livro se perdeu com o tempo. Ao lê-lo, resgatei sentimentos, sensação, emoção e uma saudade imensa do meu pai já falecido”.
Patrícia Marques, psicóloga e mãe de Theodoro  


O depoimento de Patrícia é simplesmente maravilhoso, e síntese de parte do que buscamos com o Projeto: a possibilidade de fazer a leitura se tornar parte da vida das pessoas, de suas famílias, de sua memória.
Sentimos falta, mais uma vez, de uma aparelhagem de som mínima, que nos ajudasse a dar mais conforto à audiência para ouvir a leitura da história; também de uma filmadora, para registrar fatos que a fotografia já não consegue registrar, como a viva interação musical observada neste domingo. De qualquer modo, são sucessos como o de hoje que nos alentam a continuar uma tarefa que se tornou tão maior do que nós mesmos, por conta do apoio de um público tão maravilhoso. Obrigado a todos, sempre.      


Projeto Leituras ao Vento

17º Relatório - dia 14/08/2011
SOPRANDO HISTÓRIAS COM FLOR DE MARIA SILVA DUARTE

         Mais um final de semana de bastante sol em Maringá. Nossa expectativa com a realização do Leituras durante a semana foi grande, porque grande foi o receio, depois do domingo anterior ensolarado, que o inverno viesse novamente a dar o ar de sua graça e atrapalhar os nossos planos. A torcida para que tudo desse certo e que pudéssemos realizar o “Soprando Histórias” também era grande, uma vez que já havíamos adiado uma vez por condições meteorológicas a apresentação de nossa convidada, Flor Duarte, inicialmente marcada para julho.
         Mas tudo deu certo novamente, e tivemos mais uma tarde de domingo de praça cheia. Nem mesmo o feriado prolongado, se estendendo até a segunda-feira, e o domingo em que se comemorou o dia dos pais, foram eventos capazes de diminuir consideravelmente a freqüência à praça, repleta de jovens passeando e namorando, de crianças com suas mães e pais, de pipas, carrinhos de controle remoto, bolas, bexigas, gente miúda lambuzada de picolé e muita, muita leitura.
         Chegamos à praça cedo e começamos logo a montar nosso espaço. Eu e Adah nos varais, Maristela nas esteiras e nos baús, todo mundo ajudando a pendurar os livros, todos preocupados com a divulgação, o caderno de registros, as fotos, a recepção ao nosso público.
         Com o aumento do público do Leituras veio a certeza de que o Projeto estava no caminho certo, mas também veio a de que o trabalho se tornava maior e mais complexo, e que qualquer ajuda que recebêssemos seria bem-vinda para a sua viabilidade.
         Evidentemente, nossos colaboradores habituais tem seus interesses, seus horários, sua agenda, família, compromissos. Nas últimas semanas temos feito um trabalho a três, nos dividindo ou nos unindo em tarefas múltiplas para que o nosso público fosse bem recepcionado. O tempo do Projeto se acelerou sobremaneira: ao chegarmos à praça, por exemplo, no horário das 15:00h, já encontramos parte do nosso público no local, independente da divulgação, ou até por causa dela, que não se restringe mais ao corpo a corpo na praça, mas se inicia já no início da semana, com a entrega de material em vários locais da cidade – um restaurante, dois sebos, uma livraria, bibliotecas, UEM, além de material avulso. Com o público já presente o problema da divulgação não se resolve, mas se torna mais agudo: é preciso confirmar com o público o evento, já que a interação nossa com essas pessoas é fundamental para uma aproximação que possa deixá-los à vontade para manusear o acervo. Também é preciso abordar as pessoas que passam olhando para os varais e para o que fazemos curiosas, principalmente quando acompanhadas de crianças, informá-las sobre o Projeto, convidá-las para conhecer nosso acervo e para assistir o “Soprando Histórias”. Enquanto tentamos fazer isso prosseguem os trabalhos de esticar os varais, instalar o banner, pendurar os livros; quando saímos para a divulgação no entorno da praça – geralmente eu vou só ou acompanhado de Adah – Maristela fica sobrecarregada em nosso espaço, incumbida das tarefas de receber, registrar, fotografar; quando eu retorno da divulgação, começa a contagem regressiva para o “Soprando Histórias”: continuamos recepcionando, auxiliando as crianças no varal ou nos bauzinhos, sugerindo textos a quem nos procura, repassando o livro de registros, fotografando. Quando chega nosso convidado procuramos fazer-lhe companhia, prestar-lhe apoio.
         Com essa aceleração do Projeto, algumas tarefas, antigas e novas, ficam prejudicadas. Duas delas são fundamentais para a avaliação do Projeto: o preenchimento do livro de registros e a coleta de dados para a elaboração do relatório. Na verdade, essas duas tarefas são complementares, já que se reportam, ambas, às situações, ações e pessoas presentes.
         No caso do livro de registros, aquisição recente, é preciso tentar colher mais do que simplesmente nomes, idades e endereços de e-mail: as impressões das pessoas presentes sobre o Projeto são importantes para que tenhamos idéia do seu alcance e do seu valor, e também traçar planos envolvendo questões relativas ao acervo, como preferências e temas pertinentes.  
         Já no caso da elaboração de relatórios, é preciso que o relator – no caso eu mesmo – seja efetivamente um observador, e também alguém que tenha disponibilidade para o diálogo, algo que tem sido difícil com o acúmulo de tarefas.
         Evidentemente, essas palavras não representam o desfiar de um rosário de lamentações – absolutamente sem sentido num Projeto livre e familiar, sem nenhuma responsabilidade prévia, sem que seja aquela que estabelecemos a cada semana que entra com nossos amigos, colaboradores e com o nosso público. Representam, sim, uma reflexão de um grupo pequeno, mas apaixonado de coordenadores – só três, por enquanto – felizes com o sucesso de um Projeto que começou espontaneamente e hoje se encontra tão cercado de admiradores e apoiadores. Essa reflexão nos leva à conclusão de que necessitamos de mais parceiros fixos, que possam dividir conosco a quantidade de trabalho, para recuperarmos tempo, aguçarmos o nosso olhar, ampliar o diálogo, melhorarmos a avaliação e, consequentemente, a qualidade.
          Os gastos do Projeto, por menores que sejam, também se ampliaram consideravelmente: o acervo aumentou bastante com nossas poucas compras e importantes doações de amigos e apoiadores. Mesmo assim, é um acervo ainda bastante pequeno – cerca de 350 volumes – para as nossas necessidades; precisamos de um banner novo e de uma faixa; precisamos de algum material promocional que nos mantenha mais tempo junto de nosso público, como cartões de visita e marca-páginas; precisamos de verba para material mínimo de escritório, de gasto sempre crescente, principalmente papel A4 simples e papéis especiais para confecção de convites, títulos e certificados e tintas e cartuchos de impressora, de uso corrente e constante. Mas também se incluem aí gastos com material substituído com maior espaçamento, como o caderno de registros e as pilhas recarregáveis que abastecem a máquina fotográfica. Também é preciso dizer que materiais permanentes, de maior valor, também estão sujeitos, pelo uso ou por problemas de funcionamento, a gastos de manutenção ou mesmo a serem substituídos, como aconteceu com nossa impressora recentemente. Com nossos deslocamentos constantes para tratar de assuntos do Projeto, os gastos com combustível tem aumentado, embora o uso de nosso carro não seja exclusiva nem preponderantemente com o Projeto.
         Voltando para o nosso domingo ensolarado, nos deparamos com a chegada de nossa convidada para o “Soprando Histórias”, Flor de Maria Silva Duarte, que chegou cedo, bem disposta e sorridente, uma figura luminosa que sempre chama atenção onde esteja.
Quando conhecemos Flor Duarte havíamos chegado a pouco na cidade. Isso foi em agosto do ano passado, há exatamente um ano. Maristela havia chegado à cidade a poucos dias e eu me encontrava por aqui a apenas seis meses. Nos inscrevemos no Clube de Leitura Maringá, clube de leitura adulto da Biblioteca Pública, do qual ela faz parte.  Nos correspondemos inicialmente por e-mail, como era comum entre os membros do Clube, e logo depois a conhecemos pessoalmente em um dos muitos eventos culturais promovidos por sua Secretaria e que ela faz questão de estar presente. É interessante como Flor é popular! Era comum, desde o início na Praça, encontrarmos pessoas que a conhecem e admiram, uma das raras figuras públicas nesse país que conta com uma simpatia quase íntima da população.
Flor nos ajudou a pendurar o acervo no varal e sentou-se com o marido em duas cadeiras de armar, para ler um de nossos livros infantis enquanto aguardava a chamada para o “Soprando Histórias”.
Enquanto relaxava, Flor leu “Mulheres de Coragem”, coletânea de contos com temática feminina de Ruth Rocha – um dos contos desse livro, “A lenda da moça guerreira”, foi lido no Projeto pela professora Verônica Muller durante nossa visita a Ivatuba – enquanto seu marido lia “Bisa Bia, Bisa Bel”, de Lygia Bojunga. Este último, um delicioso e politicamente engajado livro infanto-juvenil, em que uma personagem menina tem um jeito de ser que foge do estereótipo feminino da mocinha delicada e comportada vive uma relação imaginária – e imaginativa – com sua antiquada bisavó e sua futura neta. Essa conturbada e divertida relação a ajuda a pensar o passado recente e o presente político do país, além de entender um pouco da diversidade do universo masculino e feminino no tempo e no espaço.        
O livro escolhido por Flor para o “Soprando Histórias” foi “Belinda, a bailarina”, escrito e ilustrado pela norte-americana Amy Young. O livro conta a história de uma bailarina que procura o estrelato, mas que tem sua trajetória dificultada devido ao preconceito com os seus... pés grandes. Belinda, prejudicada pela incompreensão dos críticos, vai trabalhar em uma casa noturna onde uma nova banda começa a se apresentar. A banda, impressionada com a dança de Belinda durante suas performances, a convidam para participar da banda. Belinda consegue, assim, vencer as resistências e faz vencer a sua arte. Um livro belíssimo sobre inclusão, paixão pela arte e perseverança.
Além de Belinda, tivemos uma outra bela performance nessa tarde: a de Flor Duarte – que já foi bailarina e pesquisou o universo da autora, também ex-bailarina – contando para as crianças a sua história. Flor recorreu pouco às ilustrações, e centrou sua apresentação em uma entonação perfeita, quase interpretada, ideal para que a imaginação dos ouvintes mergulhasse na imagética da história como parecia estar fazendo a própria Flor. Quem, ouvindo-a, não torceu o nariz para os críticos e torceu para o sucesso de Belinda? Um belo espetáculo, muito aplaudido ao final.
Flor, muito simpática, fez questão de destacar as crianças que lhe foram entregar o Certificado de Participação e o Título de Amiga Leitora das Crianças e Adolescentes de Maringá, oferecido pelo Leituras ao Vento. Nossos agradecimentos e um grande abraço a Flor Duarte.
Não podemos deixar também de fazer referência e agradecer ao nosso público. Famílias inteiras, muitas crianças, presença de idosos. Adah levou um palhacinho marionete que fez algum sucesso entre as crianças presentes. As bolas também dividiram espaço e interesse das crianças com os livros, o que é muito positivo. Os bauzinhos e varais continuam sendo muito explorados pelas crianças. Muita gente maravilhada com o Projeto e muitos elogios generosos nos foram dirigidos. Agradecemos tanta generosidade do nosso público.
Uma imagem belíssima da tarde foram os raios solares a atravessar as folhas das árvores, em lanças longas, agudas, de pura luz, tornando a Praça um modelo perfeito de Renoir. Que as nossas futuras tardes de domingo sejam outras tantas obras de arte. Até a próxima.        


Projeto Leituras ao Vento

16º Relatório - dia 07/08/2011

SOPRANDO HISTÓRIAS COM ANA KARINA 

         Depois daquele dia 31 cheio de umidade, a semana, já em seus primórdios, exibiu um sol maravilhoso, sem nuvens. A temperatura subiu bruscamente e chegou aos 33 graus, e eu fiquei preocupado. Maringá ainda vive os últimos momentos do inverno, e eu pensei cá comigo que aquele tempo maravilhoso era uma janela enganadora a prenunciar mais um final de semana de tempo nublado e frio, a exemplo do anterior. Mas, contrariando o meu pessimismo, o tempo permaneceu firme todo o tempo até o final da semana. Ao contrário, notícias preocupantes sobre níveis anormalmente baixos de umidade começaram a aparecer na imprensa, e, mesmo sendo parceiros do sol, nós do Leituras desejamos, pelo bem da saúde de todos nós, que chova um pouquinho no decorrer dos próximos dias. Nos dias úteis, claro.

         Bem, a verdade é que encontramos a praça repleta, e muitas pessoas bem próximas do nosso espaço. Nossa convidada para o “Soprando Histórias”, Ana Karina, chegou logo depois de nós, e nos ajudou na montagem de nosso espaço. Estava acompanhada de seu marido e de sua filha, e animadíssima para a tarde.

         Depois da montagem dos varais, em que exerci, como sempre, o papel de ajudante de Adah – a nossa especialista em nós, juntamente o seu primeiro mestre, o amigo Réges – parti para a divulgação. Desta vez não precisei ir tão longe. Aliás, foi difícil sair dali de perto, tal a concentração de pessoas em grupo em volta de nosso espaço. Passei os quinze minutos que normalmente dedico à divulgação rodeando “nossas” árvores, e quando terminei, como era de se esperar, nosso público já estava presente e instalado.

         Estamos agora numa fase em que se consolida a amizade do público com o Projeto. Muitos rostos conhecidos entre os presentes, e algumas figuras simpáticas que nos visitam pela primeira vez, como o senhor Clésio Guarda e seus filhos, Clésio Junior, Ana Clésia e Ariani Clésia. E, por falar em família, o Projeto também vem se consolidando como um espaço para as famílias. Presentes, além da família Paganini, de nossa convidada, a família Fernandes, a família Florêncio, a família Santos.

         O interesse em nosso acervo esteve, como sempre, em alta. Há bastante desenvoltura das crianças em lidar com os livros no varal, e quase sempre lêem mais de um livro, em idas e vindas constantes ao varal e aos bauzinhos. Fizemos a chamada para o “Soprando Histórias pouco depois das 16:00h, e, mais uma vez, uma pequena multidão se reuniu em volta de nossa convidada, acomodada nas esteiras, para ouvir a história.

         O título escolhido por Ana Karina foi “Guilherme Augusto Araújo Fernandes”, de Mem Fox, ilustrado por Julie Vivas, tradução de Gilda de Aquino, em edição da Brinque-Book. No livro, um menino de nome comprido desenvolve uma amizade com uma senhora de nome igualmente comprido. Ao saber que sua amiga estava perdendo a memória, o menino Guilherme começa uma exploração em busca do significado da memória, visitando as vivências de um seleto grupo de idosos que mora com sua amiga em uma instituição. Guilherme traduz simbolicamente as respostas que obtêm em objetos de seu próprio mundo, relacionados com suas próprias vivências e recordações. O resultado é a construção, a partir dos objetos e do diálogo entre os dois amigos, de um relato significativo que ajuda a senhora a refazer o trajeto mental de suas experiências e afetos. Um livro magnífico, não somente sobre o valor da memória para nossa condição humana, mas também sobre o diálogo, a amizade e sobre a junção feliz entre a busca do conhecimento e o amor.

         Ana Karina, tocada por essa magia imaginada por Mem Fox, levou para a Praça nada mais nada menos que a caixa de presentes do menino Guilherme, que ia oferecendo às crianças que a assistiam à medida que surgiam na história. Karina contou a história de maneira clara e pausada, sem abdicar uma única vez do sorriso no rosto, sua marca registrada. Ao final, aplausos para Karina, nossa alegre companheira de todos os domingos e agora integrante, com honras, da galeria dos leitores convidados do “Soprando Histórias”.

         Nosso livro de registros registrou a presença de 42 pessoas, entre outras que passavam ou mesmo que permaneceram entre nós, e que, por um ou outro motivo, não se registraram.

         Foi uma tarde de sucesso depois de um fim de semana difícil. Esperamos, sem prejuízo da umidade que todos necessitamos, é claro, que bons ventos e belos raios de sol, como os de hoje, retornem a Praça no próximo domingo e em muitos outros.       





Projeto Leituras ao Vento
15º Relatório - dia 31/07/2011
SOPRANDO HISTÓRIAS COM PAULO LOPES ADIADO


         Mais um final de semana bastante frio e chuvoso, nuvens baixas sobre Maringá. Nossa preocupação com o tempo ruim começou no meio da semana e chegamos ao domingo sem a mudança para melhor esperada. Mesmo assim, acreditamos na possibilidade de fazer o Leituras até o último momento.
Uma hora e meia antes do horário previsto fui até a praça em meu carro avaliar o tempo e o movimento de pessoas. Não havia chuva mas poucas pessoas ousavam cruzar a praça enfrentando o vento frio. Algumas pessoas saíam da Catedral e partiam. O piso não parecia molhado em excesso – o escoamento da praça sempre foi muito bom – embora junto às árvores onde costumamos nos instalar estivesse mais úmido.
Passeei um pouco, conversei com o vendedor de doces. Ele conversava com um companheiro junto ao seu carrinho, e não parecia ter esperanças de que o movimento fosse razoável naquele dia. Procurou me animar mais como uma possibilidade de ter na praça um evento que pudesse lhe trazer alguns fregueses do que por confiança de sua viabilidade.
Mesmo com os dados negativos que coletei voltei para casa em dúvida e conversei com Maristela sobre as condições encontradas. Com nossa vontade ultrapassando “um pouquinho” os dados da realidade, resolvemos que tentaríamos fazer o evento. Os freqüentadores da praça sempre saem de suas casas um pouco mais tarde no domingo, dia de almoço em família que sempre retarda um pouco. Avisamos o professor Paulo Lopes, nosso convidado do “Soprando Histórias”, colocamos nosso material no carro e fomos para a praça.
Ao chegar à praça, que a essa altura tinha alguns poucos freqüentadores, fizemos uma nova avaliação e resolvemos nos instalar num espaço aberto, entre algumas palmeiras, e não em nosso local habitual, devido à umidade. Enquanto fazíamos o transporte do material do carro para o local um grupo de ciclistas adolescentes passava pela calçada, uma família se preparava para deixar o local em seu carro e outra a pé, além de alguns casais namorando ali por perto. Abordei esses grupos e convidei-os para o nosso encontro.
O professor Paulo chegou ao local logo em seguida, acompanhado de sua esposa, ainda no início da montagem de nosso espaço, e ajudou Adah a esticar os fios e pendurar o acervo. Também chegaram Réges – com seu conhecimento sobre nós – e Angelita – com sua energia infinita pra qualquer coisa. Conversamos muito e animadamente, e esperamos.
Algumas pessoas passaram por ali. Pessoas que faziam seus exercícios, caminhando ou andando de bicicleta. Paravam e olhavam curiosas para os varais. Examinavam alguns títulos, olhavam em volta. Informávamos sobre o Projeto, as pessoas se admiravam e prosseguiam.
Os meninos ciclistas apareceram e se instalaram em um cimentado próximo. Peguei alguns títulos de quadrinhos adultos e levei até eles. Quinze minutos depois um deles – aparentemente o mais novo – veio trazer de volta as revistas. Não estavam com espírito para ler nossos mangás e etc. Pouco depois Angelita foi até eles e convidou-os para vir ao nosso espaço. Eles vieram! Sentaram-se sob uma das árvores, examinaram os varais, pegaram alguns livros. Conversaram conosco, brincaram, ruidosos, entre si, inquietos. Dois deles, porém, pareciam especialmente interessados na leitura: o mais novo distraía-se com um exemplar de Mortadelo e Salaminho – clássico dos quadrinhos de humor criado pelo italiano Francisco Ibañez em 1958 e grande sucesso dos anos 70, em edição brasileira da antiga RGE – e outro menino concentrava-se na leitura de “O ladrão de raios” – primeiro de uma série de livros juvenis de aventura centrado no personagem Percy Jackson, criado pelo norte-americano Rick Riordan, editora Intrínseca.  Em certo momento foram chamados pelo restante do grupo, saíram, voltaram logo em seguida, continuaram a leitura. Cerca de uma hora depois de sua chegada se despediram e se foram.
Uma menina, acompanhada da avó, completaram o nosso restrito circulo de leitores da tarde. A menina bem animada, a avó só acompanhando, não resistiu, aceitou o assento que lhe oferecemos, escolheu um livro e se juntou à neta na leitura.
A essa altura já era evidente que a natureza havia ditado nosso destino aquela tarde. Conversamos com o professor Paulo, que se aceitou gentilmente a que marcássemos para outra data o “Soprando Histórias” com a sua participação, colocando-se à nossa disposição. Ficou assim combinado.
Por volta das 16:30h começou a cair uma garoa fina com prenúncio de chuva mais forte. Nos apressamos em recolher o material e com as despedidas. No que diz respeito às condições meteorológicas, levamos as possibilidades do Leituras ao limite. E, ao fim das contas e apesar dos pesares, o saldo foi positivo.       



 Projeto Leituras ao Vento
14º Relatório - dia 24/07/2011
EDUCRIANÇA-IVATUBA e LEITURAS AO VENTO

         Pela primeira vez desde seu início, o Projeto Leituras ao Vento deixa o gramado da Praça da Catedral Metropolitana de Maringá. O Projeto visitou a instituição EDUCRIANÇA, em Ivatuba, município às margens da PR-317, sentido Campo Mourão, a poucos quilômetros – cerca de 5 minutos – depois do Aeroporto de Maringá. 
         A EDUCRIANÇA é uma instituição que abriga crianças e adolescentes em situação de risco, possuindo quatro unidades: Taquara, no Rio Grande do Sul; Areal, no Rio de Janeiro; Universitário, em São Paulo; e Ivatuba, no Paraná. 
         A unidade de Ivatuba abriga 23 meninas – a capacidade total é de 24 – e é a mais recente, com apenas dois anos e meio de existência. É um prédio com dois pavimentos localizado em uma área ampla, com um gramado e alguns arbustos na frente. No piso inferior há uma sala de refeições grande e arejada com várias mesas, uma oficina de artes e ofícios, a cozinha e uma sala de estar, dentre outras dependências; no piso superior ficam os quartos, amplos, cada um com quatro camas e guarda-roupas grande, além de um banheiro coletivo amplo e bem equipado. Em nossa visita pudemos observar a boa qualidade da roupa de cama, de um colorido aconchegante. Cada quarto possui passagens que o interliga aos quartos vizinhos, possibilitando a livre circulação das meninas por todo o espaço. 
Embora tenhamos recebido posteriormente referências da instituição, travamos os primeiros contatos meio que por acaso. Maristela pertence ao Coral Infanto-Juvenil da Escola de Música da UEM, e foi lá que conheceu a coordenadora do EDUCRIANÇA de Ivatuba, Nelma Narciso de Brito, que participava também do Coral juntamente com nove internas da Instituição. A partir desses contatos foi acertada a visita do Projeto Leituras ao Vento e então começamos a acertar os detalhes referentes às atividades que desenvolveríamos e passamos a pensar também no nosso possível convidado para o “Soprando Histórias”. Com a intercalação das férias de julho, todos esses trâmites levaram cerca de dois meses. O nome da professora Verônica Muller veio naturalmente, e, nas últimas semanas, Hilda Carr se integrou ao planejamento do evento e, nas vésperas, também Angelita Silva, ambas importantes colaboradoras do Projeto desde suas primeiras horas. 
Pensamos, desde há algum tempo, criar um diferencial de atividades para as visitas. Sabíamos que deveríamos nos organizar e agir de modo diferente da Praça, onde nosso público – e não nós – é o visitante. Era preciso pensar em algo mais direcionado e que ocupasse mais o tempo, já que criaríamos uma expectativa diferente daquela a que estávamos acostumados. 
Maristela teve, a princípio, a ideia de oferecer um pequeno caderno brochura para cada uma delas, encapados em papel estampado e decorados com desenhos, como forma de não só deixar uma lembrança de nossa visita, mas induzir ao uso da escrita. Tal ideia já havia sido aplicada com as crianças de Sarandi que participam do Projeto Brincadeiras, da UEM, inclusive com a participação das crianças, que elaboraram os desenhos que serviram de decoração. No nosso caso, essa ideia evoluiu na cabeça de Maristela para o oferecimento dos cadernos como “diários”. Uma ideia maravilhosa, se pensarmos no potencial de desenvolvimento da consciência de si, da reflexão e valorização das memórias, e mais especificamente da história de vida e dos sentimentos que um diário possui. 
Mas, para que esse potencial se realizasse, precisávamos, de alguma forma, evidenciá-lo. Colocar à percepção das meninas um painel de possibilidades que as estimulasse a, quem sabe, abrir um diário e entabular esse diálogo com elas mesmas. A partir daí passamos a buscar diários já escritos, reais ou fictícios, que pudéssemos mostrar a elas enquanto exemplos de vidas aparentemente comuns – ou não tão comuns – que se revelavam especiais quando se encontravam com os contornos da literatura. Saímos em busca desses exemplos, e os encontramos na ficção infanto-juvenil e juvenil – “Diário de um banana”, autor e ilustrador Jeff Kinney, editora Vergara & Riba; “Pequeno diário otário”, autor e ilustrador Jim Benton, editora Fundamento; “O diário de Lúcia Helena”, autor Álvaro Cardoso Gomes, ilustrador Paulo Leite, editora FTD – e na não-ficção – “O diário de Zlata”, autora Zlata Filipovic, Ilustrador Hélio de Almeida, Editora Companhia das Letras; “O diário de Anne Frank”, autora Anne Frank, Editora Best Seller. 
Na semana anterior à da nossa visita decidimos que haveria um momento, posterior ao “Soprando Histórias”, em que apresentaríamos um diário de não-ficção para as meninas, uma história que mostrasse a elas o espírito de resistência e a vontade de viver e ser feliz de uma menina como elas. Me coloquei então esta tarefa, e escolhi, pela simples atração que eu tinha pelas memórias e pela personalidade de Anne Frank, o seu diário. Eu tinha poucos dias para trabalhar um diário de 378 páginas, mesmo assim li rapidamente, mas com atenção, selecionei várias passagens sobre seu tempo de escola, seu relacionamento com a mãe e a irmã, sua vida no anexo secreto e suas relações e impressões das pessoas que lá viviam, seu amor pelo menino Peter e suas opiniões sobre o espírito humano e sobre a guerra. Hora e meia antes de nossa partida eu terminei a seleção final dos trechos a serem lidos para as meninas. Contudo, apenas estimei o tempo que levaria para fazer minha apresentação, já que não houve tempo hábil para montar um esquema geral que levasse em conta esse tempo. 
Compramos material para encapar os cadernos e adquirimos plásticos e fitas para fazer saquinhos de presente para acondicioná-los. Maristela, Hilda e Angelita se deram o trabalho de montar esses presentes, trabalho que só foi concluído na véspera. 
Maristela teve ainda outra ideia: a de oferecer poesia como presente, montando poemas em saquinhos de presente a serem oferecidos individualmente às meninas para que elas pudessem usá-lo como abertura de seus diários, e desta ideia surgiu outra, de Hilda: a de oferecer a elas também um momento de leitura de poesia. Assim Maristela e Hilda, e depois Angelita, se puseram a procurar livros infantis e juvenis contendo poesia, e mesmo páginas da Internet com poetas famosos, para posteriormente selecionar poemas, que eram então copiados ou digitados e por fim impressos. Com os poemas impressos eram feitos pequenos rolinhos amarrados com fitas coloridas, que foram colocados em um recipiente para serem retirados como poemas-surpresa pelas meninas. Quando chegamos a Ivatuba ainda havia poemas para serem transformados em rolinhos, o que foi feito no espaço de tempo antes do “Soprando Histórias”. 
Mais uma ideia – e não foram tantas? - de Maristela: trabalhar criticamente o estereótipo da imagem das princesas nos contos de fadas, que mostra as princesas sempre como moças magras, brancas, esguias e belas, e colocar a possibilidade de, usando esse mesmo mundo da imaginação dos contos de fadas, imaginar as princesas como partícipes, em imagem, de uma rica diversidade, criando uma ponte com a própria diversidade do real. Em outras palavras: por que não princesas pequeníssimas, gordas, dorminhocas, analfabetas, leitoras, desconjuntadas, feias? Seriam elas menos princesas do que as outras? Ou possuiriam uma nobreza, dignidade e confiança da qual todas as mocinhas do mundo poderiam partilhar? Seriam essa nobreza, dignidade e confiança as fontes da verdadeira beleza? O livro escolhido para isso foi “Princesas esquecidas ou desconhecidas” – autor Philippe Lechermeier, ilustradora Rébecca Dautremer, editora Moderna. Um livro em formato grande, com acabamento impecável, de um tom vermelho intenso, com um texto entre o bizarro e o enigmático e ilustrações que são delicadas obras de arte. Nele, princesas nada convencionais desfilam sua esquisitice e exotismo, e também uma estranha – mas legítima – aura de nobreza. Acompanha o livro um diário, o “Diário secreto da princesa”, para que sua dona-princesa possa gravar ali sua história e suas reflexões.
A professora Verônica Muller confirmou o livro escolhido para a leitura no “Soprando Histórias” dias antes de nossa visita. A escolha recaiu sobre um conto presente no livro de Ruth Rocha “Mulheres de Coragem” – ilustrações de Cláudia Scatamacchia, editora FTD – “A lenda da moça guerreira”. No conto, uma princesa espanhola veste-se como homem para lutar na guerra e honrar seu pai, que não teve a ventura de gerar um varão. Lutando com bravura ao lado de um príncipe aliado, torna-se seu grande amigo, mas deixa-se revelar pelo olhar, que apaixona o príncipe. Antes que o príncipe possa, utilizando-se de vários estratagemas, confirmar suas suspeitas, a princesa retorna a casa do pai. Como o príncipe adoece devido a um ferimento de batalha, a princesa corre a reencontrá-lo e revela-se, permitindo a recuperação do príncipe e o desfecho feliz. Lealdade, honra, bravura e romance marcam essa delicada história centrada em uma mulher que se oculta e se revela, se mortifica na renúncia e se liberta pelo amor. 
Ficou, assim, nossa visita organizada em torno do eixo memória-reflexão, tendo as histórias de superação e coragem de personagens mulheres reais e fictícias como elementos que organizam esse eixo, apontando para o valor das memórias como afirmadoras da identidade e da personalidade, dentro de uma postura de reflexão que nos convida a uma visão positiva de nosso passado, como fonte das experiências – boas e ruins – que constroem nossa dignidade e nos preparam para as adversidades da vida. 
Nossa viagem começou às 13:30h do domingo, quando, em frente à biblioteca da UEM, reunimos toda a equipe: eu, Maristela, Hilda, Angelita e a professora Verônica. O trajeto foi tranqüilo, e a sede do EDUCRIANÇA Ivatuba se revelou ser bem mais próxima do que pensávamos. No primeiro trevo após a entrada do Aeroporto de Maringá, sentido Campo Mourão, a Kombi da instituição já nos esperava conforme o combinado. Nela estavam Nelma e algumas crianças, que nos olhavam curiosas e alegres. Acompanhamos a Kombi com nosso carro por uma estradinha margeada por um milharal, e cinco minutos depois já havíamos chegado. O trajeto todo, da UEM até a instituição, durou pouco mais de vinte minutos. Encostamos o carro no pátio interno e recebemos as boas-vindas de algumas das meninas. 
Logo na chegada descobrimos dois problemas: na pressa, a professora Verônica se esqueceu de apanhar na panificadora a encomenda de suspiros que ofereceria para as meninas, e nós esquecemos o livro de Ricardo Azevedo, “Dezenove poemas desengonçados” – ilustrações de Ricardo Azevedo, editora Ática – dentro do qual estavam alguns poemas digitados a serem usados em leitura compartilhada pelas meninas. Angelita se ofereceu para buscar, e, como era cedo para o “Soprando Histórias” – marcado desta vez para as 15:00h – e faríamos ainda a montagem do espaço do Leituras, concordamos. 
Enquanto Angelita saía com o nosso carro para a sua tarefa, começamos a montar o espaço, esticando os varais e estendendo as esteiras, posicionando os baús e pendurando o nosso banner. As meninas nos ajudaram nessa tarefa, e já começaram, quase imediatamente, a observar e se interessar pelo acervo. Terminado o trabalho de montagem as meninas já se apossaram das esteiras e foram buscando suas leituras nos varais e baús. Num instante a maioria delas já estava acomodada, formando uma pequena multidão de leitoras alegres sobre as esteiras, cercadas e encimadas por livros ao alcance de suas mãos ávidas.
Ficamos surpresos e contentes com o conhecimento demonstrado por elas, que já conheciam vários de nossos títulos, por terem lido ou por ouvir falar. Liam em voz alta algumas delas, para compartilhar com o seu grupo ou simplesmente para mostrar satisfação. Duas delas escolheram livros de adivinhas e trava-línguas, e assim, entre proposições e gargalhadas, começaram a interagir conosco. Uma das menores começou a ler um livro para a professora Verônica, com atenção e cuidado. Tiramos belas fotos de meninas emaranhadas usando umas às outras como travesseiros, recostadas nas almofadas, ou mais afastadas, encolhidas na introspecção da leitura à sombra dos arbustos. Oferecemos livros para todos os presentes, adultos e crianças, e criamos um momento gostoso e inesquecível do Projeto: nunca a leitura foi encarada com tamanha alegria e satisfação, num clima lúdico. A professora Verônica trouxe uma filmadora, e registramos também em vídeo vários flagrantes dessa interação. 
Com a chegada de Angelita começou a expectativa para o “Soprando Histórias”. Ainda esperamos cerca de meia hora a pedidos: um grupo de moças lidava na cozinha fazendo pipoca, e pediram para esperar por elas, que queriam ouvir a história. Vencida essa etapa avisamos a professora e fizemos as apresentações. A leitura começou aproximadamente às 15:45h. 
A leitura feita pela professora Verônica foi um espetáculo a parte: sua voz mansa e pausada fluía num ritmo que capturava fortemente a atenção e curiosidade dos presentes, e a belíssima história por ela escolhida, contada de uma maneira tão doce, induziu uma empatia imediata com aquela princesa leal, guerreira e apaixonada, aumentando a expectativa com o desfecho. Um silêncio de comovente satisfação acompanhou o final da história, antes dos inevitáveis e merecidíssimos aplausos. 
Entregamos á professora, pelas mãos de duas das meninas, o Certificado de Participação e o Título de “Amigo Leitor das crianças e adolescentes de Maringá”, agora acrescido da expressão “e região”. Também entregamos esse Título a Nelma, por sua colaboração com o evento, que, esperamos, tenha contribuído para reforçar um pouquinho mais o gosto pela leitura já manifestado pelas meninas. 
Após a leitura da professora demos início ao nosso segundo momento: a leitura e comentários de trechos do Diário de Anne Frank, efetuados por mim. Creio que me demorei cerca de dez minutos a mais que a apresentação anterior, o que acabou dificultando um pouco a que elas mantivessem a atenção – que, no entanto, manteve-se num nível muito bom. Apresentei detalhes da vida de Anne, de sua vida cheia de sobressaltos, dificuldades e esperanças no Anexo Secreto e de seu relacionamento com o menino Peter. Omiti partes antes selecionadas, como as que faziam referência ao relacionamento com a família e os demais e as que revelavam suas reflexões sobre a guerra e o ser humano. Mesmo assim houve alguma preocupação dos membros da equipe quanto ao tempo, e eu procurei encerrar com uma reflexão otimista de Anne, no momento de sua plena maturidade nos dois anos de esconderijo. Maristela pediu e eu acrescentei informações sobre o destino final de Anne e sua morte. 
Após a minha apresentação chegou a vez de Maristela, que apresentou o livro “Princesas esquecidas ou desconhecidas”. As moças se divertiram com aquelas princesas esquisitas, e admiraram o Diário Secreto da Princesa. Maristela então apresentou o “Diário de Lúcia Helena” e leu trechos hilários do “Querido Diário Otário”, em que a protagonista, ao apresentar seu Diário, alertava os possíveis leitores não autorizados das “conseqüências” de seus atos – incluindo seus próprios pais! Risos a parte, foi interessante enfatizar o lado pessoal, a “posse inalienável” de nossas próprias memórias, submetidas à nossa própria noção de verdade e à versão que nos convier dar a elas. Memórias-segredo tratadas ao mesmo tempo com seriedade, veneração e humor, submissas, mas ao mesmo tempo base, de nossa personalidade. 
Após a apresentação, por mim e por Maristela, desses relatos, nossos diários-presentes foram distribuídos. Houve uma grande alegria com o recebimento desse mimo, na verdade um convite nosso ao diálogo reflexivo de cada uma delas com suas memórias e sonhos. Enquanto umas permaneciam com o diário nos braços, outras subiram imediatamente para os quartos e foram guardá-los. 
Em seguida, Hilda iniciou seu momento, distribuindo os poemas, em A4, para serem lidos em voz alta e compartilhados com os presentes. Foi um momento belíssimo. Elas leram com desenvoltura, levantando-se das esteiras ou lendo de seus lugares, e as que sentiam dificuldades não hesitavam em pedir ajuda às companheiras. Três foram os poemas escolhidos para essa leitura: Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, Saudade, Amor e Felicidade, de Ricardo Azevedo e Leilão de Jardim, de Cecília Meireles. Depois, outros poemas, escritos em rolinhos e decorados com fitas coloridas, foram oferecidos a elas em um recipiente transparente, sendo retirados um a um, como poemas-surpresa. Uma observação: por conta da preocupação com o tempo, houve uma mudança de planos quanto à atividade desenvolvida por Hilda. A princípio Hilda havia pensado numa dinâmica em que trechos dos poemas seriam divididos em três grupos grandes de meninas, que os montariam livremente em conjunto, abrindo possibilidades de configurações diferentes – e igualmente válidas do ponto de vista da composição de sentido da poesia – dos três poemas originais, que seriam depois apresentadas por elas e confrontadas aos poemas originais. Uma ideia excelente que infelizmente não realizamos. 
Depois da última apresentação foram distribuídos a pipoca, o refrigerante e os suspiros. Essa confraternização coroou de alegria e satisfação a nossa tarde, e colocou já uma pontinha de saudade e expectativa quanto a um encontro futuro. 
Não podemos deixar de registrar a postura da professora Verônica, sempre se curvando para olhar as meninas nos olhos, com um sorriso que conquistava uma confiança e uma cumplicidade que denotavam uma habilidade que só pode ser traduzida como um talento raro para a amorosidade.  
Avaliamos nossa visita como um grande sucesso do Projeto, seguramente o maior deles até agora, fruto de um planejamento cuidadoso e da dedicação de cinco pessoas que mostraram ser uma verdadeira equipe. 
Contudo, longe de nos entregar à euforia, nosso sucesso nos convida a um olhar mais atento aos nossos erros e deficiências, na busca do aprimoramento e da consolidação de um padrão de qualidade condizente com as exigências e necessidades de nosso público, que é nossa razão de existir. 
O que em primeiro lugar salta aos olhos foi o tempo que nos faltou para transformar nosso planejamento – a nosso ver bem feito e estruturado – em um quadro escrito, em que estivesse registrado não apenas a seqüência das atividades, mas o tempo previsto para cada uma delas. Para que isso acontecesse seria necessário ainda um momento anterior, de simulação das diversas apresentações para que construíssemos uma ideia mais exata desse tempo necessário. 
Em segundo lugar, devemos ter mais empenho num ponto: embora a preocupação com o tempo seja válida e necessária, e os cortes por vezes inevitáveis, devemos nos esforçar mais e defender com unhas e dentes a integridade dos vários momentos previstos, para não nos arriscarmos – o que felizmente não aconteceu – a mutilar nossas apresentações e prejudicar nossos objetivos com mudanças bruscas de planos. 
Terceiro problema, também relacionado com o tempo: ao terminar todas as atividades, com alguma correria e precipitação no final, olhei para o relógio do celular: ainda eram 16:30h! Tive a certeza, naquele momento, que apressamos as apresentações de Maristela e Hilda sem necessidade: havíamos nos programado para terminar as atividades às 17:15h; estávamos, portanto, 45 minutos adiantados! 
Finalmente, um erro de avaliação em relação ao nosso público, também em função do tempo: não podemos supor, de antemão, que o fato de algumas meninas se levantarem significa uma dispersão comprometedora para a continuidade das atividades. Precisamos acreditar no potencial de nossas apresentações para prender a atenção dos presentes. E aceitar que haverá diferenças de ânimo na platéia que são impossíveis – ou pelo menos muito difíceis – de contentar. 
Um acerto digno de nota: houve alguma hesitação, ao chegarmos, quanto à necessidade de Angelita voltar a Maringá para buscar o que foi esquecido. Acertamos na nossa decisão de enviá-la para essa missão – que ela tomou para si com empolgação, diga-se de passagem. Isso porque o que foi esquecido era essencial: essencial ao momento desenvolvido por Hilda – a leitura dos poemas – e ao momento da confraternização. A poesia e a amorosidade fazem parte do Projeto. E sempre farão.           
Queremos aqui registrar a presença e participação de Eliana Daniela Célia, pedagoga do EDUCRIANÇA, pessoa muito simpática e uma das responsáveis pelo cuidado na formação de leitura e pela alegria que observamos naquelas meninas. Esperamos interagir mais com essa moça num futuro próximo. 
Obrigado a Nelma por nos receber e por coordenar com carinho maternal essa instituição, tornando-a um lar verdadeiro. 
A todas as meninas um caloroso abraço do Leituras ao Vento e até a próxima oportunidade.                    


Projeto Leituras ao Vento
 13º Relatório - dia 17/07/2011
SOPRANDO HISTÓRIAS COM ROBERTSON  AZEVEDO 
         O segundo domingo seguido de um sol belíssimo. Mesmo sendo dia de jogo da Seleção Brasileira de futebol – o jogo começaria às 16:00h e já era quase 14:00h – as pessoas não pareciam estar apressadas para se recolher em casa diante da televisão: a cidade estava especialmente movimentada, as calças e shoppings cheios nessa entrada da última semana de férias escolares.

         Fomos almoçar em um restaurante do centro da cidade e aproveitamos o movimento para, pela primeira vez, fazermos alguma divulgação de rua, fora, portanto, do espaço da praça e dos locais que eventualmente freqüentamos (bibliotecas, sebo, o restaurante onde almoçamos  nos outros dias da semana). Mães passeavam pelas calçadas com seus filhos, e tivemos oportunidade de abordar duas delas: uma delas usava um óculos da moda, bem grande e de bordas arredondadas, e suas duas filhas menores usavam óculos do mesmo tipo – só que coloridos – perfazendo um conjunto simpático e divertido; a outra, também acompanhada de suas duas filhas, exibia um estilo hippie inconfundível, e vendia artesanato numa esquina da São Paulo.

Chegamos à praça às 14:45h, novamente apenas eu e Maristela, e começamos a descarregar o material e montar nosso espaço. Já enquanto descarregávamos uma leitora assídua e muito querida chegou com a família: Ana Karina Paganini. Com ela estavam o marido, a irmã, a filha e a mãe, uma senhora simpática em visita desde o distante e belo estado do Espírito Santo. A praça nunca esteve tão cheia de gente, e as pessoas foram se acercando de nosso espaço logo após chegarmos. Tivemos dificuldades para montar o espaço e ao mesmo tempo fazer a recepção. As pessoas iam passando com olhares curiosos e não queríamos deixar que passassem sem serem informadas sobre o projeto. Mesmo assim estiquei os varais rapidamente, ajudei Maristela com os livros e Ana Karina e a mãe nos ajudaram com as esteiras.
 Preocupado com o horário, deixei-as antes da montagem se completar e parti para a divulgação. Desta vez não fui tão longe nem me demorei tanto quanto em vezes anteriores. Como a praça estava cheia, foi fácil o encontro com nosso público alvo, e eu pude voltar cerca de 15 minutos depois que saí. No retorno, não encontrei apenas o público já instalado, mas também nossa amiga Hilda Carr e o nosso convidado para o “Soprando Histórias”, o Promotor Robertson Azevedo, que veio acompanhado da família. 
Maristela, mais uma vez, procurava se dividir entre várias tarefas: recepcionar o nosso convidado e sua família, atender nossos visitantes, tirar fotos, passar o caderno de registros. Ajudei-a com o caderno de registros e, pouco depois, Hilda ajudou com a máquina fotográfica. Conversei um pouco com o promotor, que estava bem disposto, e em seguida fiz a chamada para o “Soprando Histórias”. Nosso espaço estava bastante cheio e as pessoas foram lentamente, a um pedido meu, juntando as esteiras próximo ao local onde estava nosso convidado. Vendo aquela pequena multidão, era possível tanto observar novos rostos quanto pessoas que vinham agora até nós com uma certa freqüência. O Projeto continua despertando curiosidade, e já vem conquistando também um público fiel. 
A história contada por nosso convidado, “Os novos trajes do Imperador”, de Hans Christian Andersen, é um clássico das histórias edificantes, que, se utilizando do ambiente tradicional das cortes medievais – o monarca e seu castelo, conselheiros reais, vassalos, damas e plebeus – conduz a um ensinamento ético profundo e sempre atual: a denúncia da hipocrisia e a necessidade – para  vermos a verdade e nos libertarmos do pacto de falsidade imposto pelo medo de expormos nossas fraquezas e pelas amarras do poder – de ouvirmos o grito da consciência sufocado dentro de nós, na história simbolizado pela voz inocente de uma criança. A “suntuosa” nudez do Imperador e a reverência servil do povo é um alerta contra todos os discursos falsos que aceitamos por medo de nossa própria ignorância, contra a profusão de imagens diáfanas que nos turvam os olhos e o juízo mas que não escondem o vazio das mensagens, contra o argumento de autoridade como instância suprema de nossos julgamentos sobre o mundo real. 
O promotor Robertson escolheu uma versão com belíssimas ilustrações de Silvio José Vitorino, e traduzido diretamente do dinamarquês por Tabajara Ruas. Diferente das versões condensadas e mais direcionadas a uma leitura mais ligeira pelo público infantil, esta versão mostra um texto algo rebuscado, de um ritmo mais cadenciado, minucioso e reflexivo, em que a fraude dos “costureiros” é construída calma e maquiavelicamente: a certeza dos trapaceiros de que o golpe seria bem sucedido se mostra em suas ações metódicas, induzindo repetidamente as autoridades reais e o próprio Imperador a participar da farsa. 
O promotor, observando o bom público que o rodeava, optou por fazer a leitura de pé, ficando então numa boa plataforma para a sua leitura, feita em voz firme e pausada. Em dado momento, parou para explicar rapidamente uma palavra, em outro, riu de uma passagem, juntamente com o público. O público pareceu ir se acercando da história junto com o seu contador e, ao final, houve um segundo de reflexão antes das palmas. Objetivo atingido com louvor. 
Convidamos duas meninas para entregar ao promotor o Certificado de Participação e o título de Leitor Amigo das crianças e adolescentes de Maringá. O promotor foi muito simpático, apertou a mão das mocinhas, sorriu e agradeceu, sempre muito aplaudido. Obrigado, do Leituras, por sua colaboração e sua presença e apoio ao nosso Projeto. 
Após a apresentação, diferentemente do que vinha acontecendo, nosso espaço se esvaziou rapidamente. Ao que parece – já passava das 17:00h – as pessoas se recolheram, em toda a praça, e se dirigiram às suas casas para assistir ao segundo tempo do jogo. Ainda conversamos com a nossa convidada hippie da hora do almoço, que não só apareceu como ficou o tempo todo conosco, lendo sempre, juntamente com suas duas filhas. Seu nome, belíssimo, Elisangela, e o das filhas sonoras expressões de inspiração indiana, verdadeiros poemas em forma de nome: Flor de Lótus, de 8 anos e meio; e Mantra Púrpura, de 3 anos e meio. Esperamos que elas retornem sempre, com sua beleza e seu astral pra lá de positivo, para ficar conosco nas próximas edições do Leituras ao Vento.
 Apesar das dificuldades impostas pela urgência das tarefas, o caderno de registro chegou a 40 nomes, sem contar o fato de que teve convidado que citou apenas o próprio nome e fez referência à presença da família, sem citar os nomes ou o número de integrantes. Muitas famílias presentes: a família Paganini, a família Brites, a família Santos, a família Vieira, a família Anastácio, a família Leroux, a família Matos da Silva, dentre outras. Agradecemos as manifestações de carinho e apoio registradas no caderno de registros ou dadas pessoalmente. O nosso obrigado a todos e a todas, e até o próximo Leituras ao Vento.  
                            



Projeto Leituras ao Vento

Relatório do dia 10/07/2011
SOPRANDO HISTÓRIAS COM MÁRCIA SANTA MARIA




         Depois de duas edições canceladas e três semanas longe da Praça devido ao mau tempo, o Leituras ao Vento está de volta, numa tarde ensolarada em sem nuvens, o céu azul imaculado e uma brisa moderada presidindo o nosso tão esperado encontro.


         Também foi o primeiro fim de semana sem Adah, de férias em casa dos tios e avós, em Rondônia. Nem é preciso dizer que nosso tempo com isso diminuiu, e nosso esforço aumentou.
         Para compensar, começamos a nos aprontar mais cedo, e chegamos à Praça 15 minutos antes. Com alguma dificuldade estendi os varais – acho que aprendi alguma coisa com Adah – e ajudei Maristela a expor o acervo e estender as esteiras. Como o vento atrapalhava um pouco esse trabalho, usamos, como de costume, alguns livros como peso em cada esteira estendida. Sempre julgamos uma boa solução: além de segurar as esteiras contra a ação do vento, também assegura alguns títulos para consulta sem que nossos visitantes precisem mesmo ir aos varais,  bauzinhos e cestas. 
         Quando chegamos ainda não havia nenhum de nossos amigos – será que não acreditaram no bom tempo? – que fizeram falta, é claro. Algumas pessoas começaram a chegar antes mesmo de fazermos a divulgação, e eu e Maristela nos dividíamos entre a arrumação e a recepção dessas pessoas. Prendi o nosso banner a uma das árvores e saí para a divulgação. Maristela ficou para recepcionar o nosso público, além de acumular as funções de fotógrafa e da disponibilização do caderno de registros.
         A Praça estava lotada, e, como saí sozinho para a divulgação, priorizei os grupos que tinham crianças. É uma pena, já que os jovens tem tido uma boa aceitação do nosso Projeto. Mesmo assim, passei cerca de vinte e cinco minutos divulgando. No retorno – nosso público já presente em nosso espaço – assumi a função de fotógrafo enquanto Maristela ficou com o caderno de registros. Nossa convidada para leitura ainda não havia chegado e aproveitamos para conversar com os presentes.
         Conversamos com a gaúcha Vivian, ligada ao teatro, que nos contou de seus anos de Maringá e do tempo que passou morando na Europa. Elogiou bastante o Projeto e nos acompanhou durante toda a tarde. Vivian nos ajudou com o banner, retirando de sua bolsa uma providencial fita adesiva que usou para corrigir algumas rupturas; algumas famílias muito simpáticas e alegres que passaram o tempo todo nas esteiras brincando e lendo – uma mãe brincava com a filha de doze anos como se fossem duas crianças; e um outro casal de mãe e filha, Jocélia e Ana Beatriz, que nos disseram que tomaram conhecimento do Projeto por meio de artigo a ele dedicado no jornal Diário de Maringá.
         Muitas pessoas passaram pelo Projeto durante a tarde, mesmo sem se deter em nosso espaço. Aproveitamos para apresentar o Projeto e convidá-las para as próximas edições. Muitas ficaram surpresas com o que viram e ouviram, e perguntavam se era um Projeto da Prefeitura ou da Universidade; e ficavam ainda mais surpresos quando dizíamos que era uma iniciativa familiar. Esperamos que, nas próximas semanas, essas pessoas possam estar conosco.
         Marcia Santa Maria, nossa convidada para o “Soprando Histórias”, chegou pontualmente às 16:00h. Fizemos uma última chamada ao público próximo ao nosso espaço e pedimos aos presentes para aproximarem as esteiras de nossa leitora, para que pudéssemos iniciar.
         A história contada por Marcia, “Fruta Pão” – história e ilustração de Cláudio Martins, Edições Paulinas – chamou muita atenção dos presentes. De conteúdo ecológico e político, a história nos fala das relações de poder que permeiam as discussões sobre o meio ambiente, e como falsas conveniências podem determinar o destino de espécies animais e vegetais, levando à degradação das qualidade de vida nas cidades. Mesmo com esse tema denso, é uma história leve, que também leva à reflexão por meio do sentimento de amor pelas árvores e pelos pássaros, e pelo reconhecimento de que da natureza recebemos o nosso sustento. Foi a segunda participação de Marcia em nosso Projeto – Marcia esteve no Projeto no dia 29 de Maio passado, quando contou duas historinhas no mesmo dia, fato inédito no Projeto – a quem já devemos muito como colaboradora e incentivadora da leitura, levando sempre aos presentes, além do seu jeito calmo e gostoso de contar histórias, informações importantes sobre os eventos oferecidos pela Biblioteca Pública.
         Uma das famílias visitantes tinha entre seus membros uma simpática senhora idosa, que ficou no espaço bastante tempo, lendo sempre. Por sorte, tínhamos uma cadeira de praia para que ela pudesse se acomodar com um certo conforto, sem ter que descer às esteiras. Sentimos necessidade de dispor de pelo menos mais duas dessas cadeiras, para que possamos servir bem ao nosso público da terceira idade e também eventualmente outras pessoas com necessidades especiais, que tenham dificuldade ou estejam impossibilitadas de utilizar as esteiras.
         Vinte e oito pessoas assinaram o caderno de registro, deixando seus nomes, idade dos filhos e endereços de e-mail para retornarmos nossa programação. O número é menor que nas duas edições anteriores, mas não corresponde à realidade do número de visitantes desse domingo, significativamente maior. A disparidade se deveu à dificuldade de disponibilizar o caderno de registros, já que havia apenas eu e Maristela para executar todas as tarefas necessárias. Saudades da Adah... De qualquer modo, a freqüência geral foi realmente um pouco menor, tendo em vista também as dificuldades, pelo mesmo motivo acima referido, para fazer a divulgação.
         Não poderíamos deixar de registrar, mais uma vez, a presença de Hilda Carr, que chegou pouco após o “Soprando Histórias”. Hilda tem se esforçado para estar presente sempre ao Projeto, dividindo a atenção de seus afazeres com o carinho que a nós tem dedicado. Presença especialíssima também de Marcos, seu filho, um cara superlegal.
           O público ficou conosco até após as 17:30h, começamos a recolher o material lentamente, com a ajuda de Hilda, e saímos da Praça perto das 18:00h. Depois de dois fins de semana de tempo ruim, valeu a nossa fé na natureza.

         


Projeto Leituras ao Vento

11º Relatório - dia 19/06/2011



SOPRANDO HISTÓRIAS COM ROBSON GIRARDELLO

         Este domingo foi o primeiro dia que, por sugestão de um amigo, resolvemos modificar o horário do Projeto para 14:00h às 17:00h, ao invés do já costumeiro horário das 15:00h às 18:00h. A solução, pensada para maior conforto dos freqüentadores, procurando evitar a exposição à queda de temperatura e ao vento gélido do final da tarde, nos mostrou não ser tão fácil quanto pensávamos. É difícil modificar uma rotina pré-estabelecida, mesmo porque tínhamos motivos razoáveis para adotá-la. O horário das 15:00h permitia um tempo maior de preparação após o almoço, também conveniente para o público, que se dirige à praça aos poucos nesse horário. Em suma: após trabalhar no período da noite e dormir até um pouco mais tarde, me juntei ao esforço de Maristela com o almoço, e só após o almoço nos dedicamos à preparação para nossas atividades da tarde no Projeto. Conseguimos chegar à praça às 14:45h. Tentaremos com mais afinco da próxima vez.
         De qualquer modo, encontramos a praça surpreendentemente vazia, e começamos a montar nosso cenário com calma, lentamente. Robson, nosso convidado, já estava a nossa espera, e ajudou a mim e à Adah na montagem e, depois, na divulgação.
         Quando saímos para fazer a divulgação, cerca de meia hora após a nossa chegada, a freqüência da praça já estava em seus níveis “normais”. Eu e Robson nos separamos e percorremos a circunferência da praça em ambos os sentidos, distribuindo nossos panfletos e dando informações sobre o Projeto.
         No regresso, como sempre acontece, as pessoas já estavam presentes e aproveitando o nosso acervo. Maristela, atarefada, se desdobrava nas tarefas de fotografia e de passagem do livro de registros. Tiramos muitas fotos e obtivemos 39 assinaturas em nosso livro.
         Nosso público, como sempre, maravilhoso. Famílias bem à vontade com seus filhos, pessoas que passam para dar uma olhada e acabam ficando, outras que vem atraídas pelos livros e pela movimentação e ficam conversando conosco sobre o Projeto.         
         Sobre o público gostaria de fazer dois registros interessantes: um, sobre a “família Paganini”, pois foi assim que eles se referiram a si mesmos no livro de registros. Encontramos Ana Karina Paganini num “sebo” próximo à Biblioteca Pública, onde costumamos remexer nos livros infantis. Ela comprava muitos livros infantis de uma só vez para sua filha, e nós achamos isso verdadeiramente sensacional. Falamos então a ela sobre o Projeto, e tivemos o prazer de receber a sua visita, da filha e do marido. Pedagoga como Maristela e originária do estado do Rio de Janeiro, como eu, Ana Karina está em Maringá a dez anos, aproveitando o bom clima cultural da cidade, como nós, que estamos aqui a apenas um ano. Sejam bem-vindos ao Projeto, esperamos sempre contar com a sua presença.
         Outra presença simpática foi da família de César Fernandes, espanhóis que estão no Brasil a dois anos, e que pararam para conhecer o nosso Projeto e aproveitar o nosso acervo. Não tínhamos muitos títulos em espanhol para oferecer-lhes, mas eles ficaram satisfeitos em ler mesmo na língua de Camões e Machado. O filho de César, um jovem de uns 18 anos, aproveitou um exemplar encadernado de “Akira”, de Katsuhiro Otomo, e com ele ficou durante um longo tempo. Sua filha Mariana leu a versão em espanhol de “Cachinhos Dourados” e o pai leu para ela “Rosa Caramelo”, de Adela Turín, com ilustrações de Nella Bosnia, além de títulos em português. César elogiou o Projeto, e a oportunidade do contato com a língua portuguesa escrita e de sua filha com a literatura infantil. Nós é que agradecemos, muito, por sua presença. Esperamos que fique mais tempo no Brasil e que nos honre outras vezes com sua visita. E a todos os outros visitantes os nossos agradecimentos. É por causa de vocês que estamos aqui.
         As 16:00h fizemos a chamada final para o “Soprando Histórias”. Robson, nosso convidado, mostrava-se tranqüilo,e, feitas as apresentações, ele começou a sua leitura. O livro, “O menino que ganhou uma boneca”, de Majô Baptistoni, com desenhos de James Rosafel, é um dos títulos mais importantes da literatura infantil contemporânea, por tratar com sensibilidade de um tema tão difícil de ser tratado nos dias de hoje: os estereótipos relacionados à identidade de gênero. Robson, psicólogo com trabalhos acadêmicos na área de sexualidade, contou a história para um público sempre atento, com simplicidade, segurança e fluência, e foi muito aplaudido ao final. Recebeu das mãos de duas de nossas pequenas leitoras nosso Certificado de Participação e o Título de Leitor Amigo das Crianças e Adolescentes de Maringá. Dono de fina inteligência, uma simpatia sem par e de um sorriso sempre presente, Robson conquistou os presentes. Esperamos que, em breve, ele possa retornar ao nosso evento.
         Nos momentos finais tivemos a grata surpresa da chegada de nossa amiga Hilda Carr, colaboradora indispensável do Projeto e segunda leitora do “Soprando Histórias”. Desta vez – que pena – não trouxe Marcos. Esperamos a volta deste menino tão gentil e perspicaz.
         Uma ventania às vezes incômoda nos acompanhou durante parte da tarde, fazendo o seu papel poético de espalhar as leituras ao vento. Tivemos que apanhar no gramado os livros algumas vezes, como se apanhássemos folhas soltas de uma árvore literária invisível, que insiste em proliferar, apesar de tudo. E sentimos que precisamos de mais grampos para dar conta do aumento de nosso acervo disponível.      



Projeto Leituras ao Vento

10º Relatório - dia 12/06/2011

SOPRANDO HISTÓRIAS COM RAYMUNDO LIMA

         A tarde estava um pouco fria, como uma típica tarde de inverno em Maringá, com o céu azul como imensidão encimada por um sol tímido, porém presente. Aliás, não estava tão frio como no domingo do evento anterior, e as pessoas, numa nova declaração de amor à praça, se espalhavam numerosas no gramado em volta da Catedral, ocupando também as calçadas e escadarias.
         Nesse belo domingo do Dia dos Namorados viam-se os casais namorando no gramado aqui e ali, e muitos pais e mães brincando de bola e papagaio com os seus filhos.
         Chegamos por volta de 15:15h e começamos a montar nosso cenário lentamente, eu e Adah, enlaçando as árvores com nossos varais e enfeitando-as com nossos livros. Nossos amigos do Clube de Leitura ainda não haviam chegado e percebemos logo o quanto precisamos deles. As pessoas começaram a afluir rapidamente para o espaço do Projeto, e Maristela ficou sobrecarregada, terminando de colocar as esteiras, ajeitar os baús, etc. e também recebendo os recém-chegados.
         Ananias, do Clube de Leitura, foi o primeiro colaborador a chegar, trazendo sua filha Mariana, de 7 anos. Quando saí para a divulgação, às 16:15h, levei-o comigo. Foi de grande ajuda, mesmo sendo sua primeira vez na divulgação, pois uma gripe forte havia me prejudicado a garganta e a voz insistia em falhar. Levamos desta vez cerca de 40 panfletos, e conseguimos distribuir cerca de 30 deles. Voltamos já em cima do horário da apresentação do professor Raymundo, e encontramos o professor, Alberto, Roseli e Réges, além de muitas crianças e pais já nas esteiras, fazendo suas leituras. Registro aqui também a ajuda já tradicional e indispensável de Angelita na divulgação. Ela e Adah saíram no sentido contrário ao meu e de Ananias, garantindo assim uma cobertura mais ampla na distribuição dos panfletos.
         Desta vez trouxemos mais uma novidade, já pensada desde a primeira edição do leituras, e que veio, assim esperamos, para ficar: o nosso caderno de registros. Um caderno brochura tamanho grande, encapado em feltro com carinho por Maristela, com foto do Leituras na capa, borboleta e florzinha. Uma fofura feminina indispensável, é claro!
         Brincadeiras a parte, é neste caderno que, a partir deste domingo, começamos a registrar a presença de nosso público. Pais, mães e suas crianças, colaboradores e amantes da leitura em geral podem agora registrar sua presença em nossos eventos, e deixar ali, se for do seu gosto, informações adicionais importantes para a divulgação, avaliação e o planejamento do Projeto, como endereços de e-mail e idade. Nesse primeiro dia do caderno de registros 38 (trinta e oito) pessoas registraram a sua presença – o que, apesar da generosidade do público em efetuar os registros, não corresponde à totalidade do público presente, na verdade um pouco maior.
         Quando a apresentação do professor Raymundo começou eram 16:45h. Como das outras vezes, fizemos uma última chamada ao público no entorno do Projeto e pedimos aos que já estavam conosco para aproximarem suas esteiras do local da apresentação, em torno do nosso indefectível “puff” rosa, onde se instalou o professor Raymundo.
         O livro escolhido pelo professor foi “A casa sonolenta”, escrito por Audrey Wood com ilustrações de Don Wood. O livro apresenta um recurso comum nos livros infantis, o da repetição por acumulação: frases, palavras ou situações são repetidas, sempre com acréscimo de um novo elemento, que se integra a relação anterior. É um recurso interessante para estimular a memória e chamar a atenção dos presentes. Em geral, as ilustrações são um importante recurso nesse caso, como apoio visual aos elementos mnemônicos, e o papel do narrador é o de fazer a interação buscando a participação pela voz, quebrando a monotonia das repetições transformando tudo numa brincadeira coletiva. No caso específico de “A casa sonolenta”, vemos um texto claro explicitando uma situação cotidiana pitoresca: uma avó que dorme com um menino, um cachorro e um gato, na mesma cama, sem que se apercebam que um rato, e por fim uma pulga, também estão presentes. As ilustrações são primorosas e conseguem reproduzir a atmosfera de uma noite calma perturbada pela voracidade de uma pulguinha.
         A leitura do professor Raymundo Lima foi bonachona, marcada por uma voz carinhosa típica dos vovôs contadores de história, cheia de amor e gestos cuidadosos na hora de abrir o livro para mostrar as ilustrações. A atenção do público infantil e adulto foi total. Ao final, o professor ficou surpreso com o próprio sucesso – por que será?
         Mais uma vez, o público presente ao “Soprando Histórias” superou trinta pessoas, e o nosso convidado foi muito aplaudido ao receber o nosso Certificado de Participação e o Título de Leitor Amigo das Crianças e Adolescentes de Maringá.
         Após o “Soprando Historias” parte do público permaneceu conosco até após as 18:00h, mesmo com a friagem da noite se aproximando. Mesmo com tanto carinho demonstrado por todos, resolvemos que, neste período de inverno mudaremos nosso horário na praça para 14:00h às 17:00h, ficando o horário do “Soprando Histórias” para 16:00h.
         Agradecemos, do fundo do coração, às palavras de carinho e incentivo que temos recebido, aos oferecimentos de ajuda, doação de livros e as pessoas que já fizeram do Leituras ao Vento uma atividade habitual das tardes de domingo, trazendo seus filhos para aproveitarem nosso acervo, do qual se servem também. Temos imensa satisfação com esses resultados, tão precoces ainda para um Projeto de apenas dez edições, tocado por apenas três pessoas e uma dezena de colaboradores. Um abraço a todos e até domingo que vem.





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