RELATÓRIOS DE 2011 - Março a Maio.


PROJETO LEITURAS AO VENTO

9º Relatório - dia 29/05/2011

            Desta vez sem eventos musicais na praça, voltamos a nos instalar no local de costume, à retaguarda da Catedral. Maristela cogitou de ficarmos no local de domingo passado. Foi bom termos considerado essa opção. Ficou assim claro, pra nós, o quanto acertamos ao escolher um local alternativo, que fica agora como uma valiosa opção. Mas resolvemos por retornar ao local de origem, já tradicional do Projeto.
            A história de mais esse fim de semana começou, como é praxe, nas nossas correrias ao longo da semana, para organizar o acervo, adquirir um ou outro livro, contatar o convidado do “Soprando Histórias”, comprar ou repor material, informar os amigos e colaboradores. Compramos mais esteiras, regateando um desconto com a gerência do supermercado, depois de apresentar o nosso Projeto. Agora são doze esteiras – nunca é demais lembrar que começamos com três. No caso do convidado do “Soprando Histórias”, radicalizamos: convidamos dessa vez uma contadora de histórias experiente, a gerente de promoção da leitura da Biblioteca Pública, Marcia Santa Maria.
            Chegamos à praça no horário previsto e imediatamente começamos a desembarcar o material e iniciar a montagem. Como já havia dito no relatório do evento passado, virei mero assessor de Adah nesse assunto, ela totalmente segura de si e de seus nós. Desta vez foi uma dupla de varais em cada árvore.
            Perto de nós um grupo de adolescentes, uma dezena de pessoas, conversava sentado na grama. Antes mesmo de terminar a montagem selecionei um punhado de revistas em quadrinhos, na verdade o melhor do que eu havia trazido, e fui até eles, divulgar o Projeto e oferecer as revistas para leitura. Eles ficaram com as revistas por cerca de uma hora, entregando-as durante a apresentação do “Soprando Histórias”. Tirei fotografias, alguns deles se aproximaram, sem ficar, na hora da apresentação. Fiquei satisfeito com a participação deles.
Para nossa alegria, Reges chegou ainda durante a montagem e nos ajudou, não mais com os nós, já feitos por Adah, mas com a colocação dos livros e com a divulgação. Fiquei contente em vê-lo, sempre alegre e positivo, disposto a ver em qualquer experiência, por pior que fosse, um aprendizado edificante.
            Maristela achou melhor que aguardássemos um pouco para iniciar a divulgação, para evitarmos que o público chegasse para o “Soprando Histórias” e aguardasse tempo demasiado. Argumentei que poderíamos divulgar, já que  a divulgação visava o Projeto e só complementarmente o “Soprando Histórias”. De qualquer forma, eu e Reges ainda nos dedicamos à instalação do banner do Projeto antes de sairmos para a divulgação.
            Quando já saíamos, uma boa surpresa. Nos visitando, usando um confortável agasalho e montado em sua bicicleta, ninguém menos que nosso amigo Alberto. Alberto ficou nos fazendo companhia até às 16:30. Pena que precisou partir sem ter assistido ao “Soprando Histórias”, evento que contribuiu para abrilhantar com sua apresentação em uma semana anterior.
            Eu e Réges então saímos para a divulgação, cruzando o gramado em direção à esquina da Tiradentes com a Herval. Resolvemos abordar preferencialmente os grupos com crianças, mas mesmo assim gastamos um tempo razoável e voltamos sem mais nenhum panfleto em mãos. A receptividade foi, como sempre, muito boa. Os adultos nos recebiam com atenção e sorrisos, e as crianças com empolgação: “nós vamos lá?”, “quero ir ver a historinha!”, “quero ir agora!”. Chegamos ao local do Projeto e, mais uma vez, já encontramos nosso público ocupando as esteiras, as crianças remexendo os bauzinhos e pegando livros nos varais, os pais e mães lendo para seus pequeninos.
            Também estiveram presentes Hilda e Marcos, colaboradores e agradabilíssimas companhias.
            Nossa convidada, Marcia Santa Maria, chegou 10 minutos antes da apresentação, simpática e disposta, e cinco minutos depois começamos a chamada aos presentes e ao público mais próximo para o “Soprando Histórias”. Mais uma vez o público deu testemunho do sucesso do nosso Projeto: cerca de trinta pessoas, a exemplo do domingo anterior, se reuniram nas esteiras ao redor de Márcia, muitas crianças e muitos pais e mães, todos muito atentos, cheios de expectativa. Onze das dozes esteiras foram utilizadas. Só não utilizamos todas porque uma família trouxe sua própria esteira e outras as dispensaram.
            Marcia contou as histórias “A máquina dos bichos” e “A velhinha maluquete”. Duas gostosas histórias em que personagens animais tem um importante papel: na primeira, muito engraçada e interativa, bichos são misturados ao entrar em uma máquina, dando como resultado as mais incríveis combinações; na segunda uma velhinha leva os bichos da floresta para um passeio em seu balão, exigindo em troca apenas... bom comportamento. As crianças mantinham uma atenção até surpreendente, com os olhos fixos na nossa convidada, que contava com uma cadência leve, sempre com o livro aberto para mostrar as ilustrações. Da primeira para a segunda história Maristela pediu aos presentes que se aproximassem mais, para criar um clima mais aconchegante e minimizar ruídos externos. Ao final, muitos aplausos, a entrega do Certificado de Participação e do Título de “Amigo Leitor das crianças e adolescentes de Maringá”. Desta vez pedimos a duas crianças presentes – duas mocinhas – que entregassem o Certificado e o Título, o que elas fizeram com prazer, tornando o momento ainda mais especial.
            Após o “Soprando Histórias” houve uma natural dispersão, mas alguns pais e seus filhos permaneceram conosco. Alguns chegaram após a apresentação. Uma menina bem pequena, aparentando uns dois anos, apanhou um livro no varal e levou até a mãe. Os três, pai, mãe e filha, ficaram ali, próximos, a mãe fazendo a leitura e pai e filha acompanhando atentos. Imagem perfeita.
            Por fim, passava das cinco horas, nos sentamos eu, Maristela, Adah, Hilda e Marcos, e ficamos conversando. Marcos fazia uma tarefa escolar, que consistia de um relato sobre férias. Claro que fizemos questão de ouvir. Marcos começou a contar sua história, escrita de próprio punho, e depois, com alguma timidez, passou a tarefa de contar para a mãe. Demos boas risadas da redação longa e deliciosa do menino, cheia de incidentes e cenas inusitadas. Uma viagem até Palmas, no Paraná, que dura “cinco horas e um dia”! Uma delícia, isso. Questionado sobre a ordem da sentença – “tem que colocar o maior na frente”, corrigiu a mãe, gargalhando – “cinco é maior que um”, respondeu ele. Lógica correta, conclusão hilária. Na viagem, um acampamento na floresta, os participantes passaram a noite em um hotel: é mais confortável que uma barraca, é claro!. Barraca pra quê?: Está certíssimo! No trajeto do grupo pela floresta, Marcos se deparou com um urso! O parque Yellowstone não fica em Palmas, PR, MAS E DAÍ? Quem entende os caminhos da imaginação, senão as crianças? Se fosse minha a exploração, talvez eu achasse um dinossauro descansando na sombra de uma bananeira, ou dois ETs jogando damas à beira de um lago. Seriam as férias mais maravilhosas que alguém poderia passar, exatamente como as férias de Marcos: cheias de imaginação. Depois de rirmos de rolar com a fina inteligência de Marcos, de nos deliciarmos com seu bom humor e seu carinho pela mãe, recolhemos o material do Projeto e nos despedimos. Mais um domingo perfeito.           


Projeto Leituras ao Vento

8º Relatório - dia 22/05/2011

      Nossa oitava semana na Praça começou com uma notícia passada por amigos, de que haveria um evento musical na praça, num palco montado uma semana antes, bem próximo do local onde já de costume nos instalamos. Imaginamos de antemão a praça cheia para o evento, auto-falantes barulhentos e nenhuma tranqüilidade para um ambiente de leitura. Chegamos a pensar em cancelar nosso evento, mas resolvemos manter e procurar no dia um local alternativo para esticar nossos varais.
         No dia encontramos a praça, de início, ainda tranqüila, embora já com uma grande afluência de pessoas. O evento musical, segundo informações marcado para as 15:00h – com nome até atraente, “A Praça é Show” – ainda não havia começado – já passava do horário – embora já houvesse movimentação no palco e os equipamentos já estivessem instalados. Certos de que não seria possível manter nosso evento no local de sempre, rodeamos a praça em nosso carro – abarrotado de material do Projeto e de fé que acharíamos um local adequado – e avistamos árvores frondosas na ponta do gramado no lado direito da entrada da Catedral, próxima à esquina da Av. Tiradentes com a Herval. O local parecia ideal: as copas das árvores se uniam formando uma grande área de sombra. A distância entre os troncos era relativamente pequena, e facilitaria a instalação dos varais. Demos mais uma volta e estacionamos no lado contrário da Av. Tiradentes, desembarcamos nosso material e começamos a nos instalar ali.
         Tivemos o cuidado de avisar por telefone Angelita, nossa convidada para o “Soprando Histórias”, da mudança de local. Maristela precisou ir em casa pegar um material restante. Assim, ficamos eu e Adah terminando de instalar os varais.
         Interessante: desta vez deixei a instalação dos varais sob o comando de Adah. Virei um mero ajudante, o que não poderia ter se revelado uma decisão melhor. Adah fez nós tão bons e tão rapidamente quanto Réges, e logo todos os varais estavam instalados. Na colocação dos livros ela decidiu o que colocar, em que sequência e a que distância um do outro. Também tudo certo. Estendemos as esteiras e, para evitar que fossem arrastadas pelo vento, colocamos sobre elas livros, já que as almofadas ainda não haviam chegado.
         Terminado o trabalho de instalação, saímos em campo na nossa tradicional propaganda. Ainda não tínhamos em mãos os nossos panfletos – Maristela ficou de trazer – de forma que o trabalho foi na abordagem oral – no gogó mesmo. Eu e Adah percorremos o gramado do ponto onde estávamos instalados em varredura, e chegamos até próximo do palco, na parte de trás da Catedral, perto do local onde tradicionalmente nos instalamos. Depois de falar com muitas pessoas, voltamos ao ponto inicial.
         Ao chegar, encontramos já Maristela e Angelita. Aproveitamos para posicionar as almofadas nas esteiras e Maristela e Adah recortaram, ali mesmo, os panfletos impressos em A4. Então eu e Angelita dividimos os panfletos entre nós e saímos para distribuição, cada um para um lado, contornando a Catedral. Eu  entreguei panfletos para algumas pessoas que eu já havia convidado e convidei ainda outras pessoas. Quando retornamos, o público, que já estava presente em nosso espaço desde o início, havia aumentado e já ocupava todas as esteiras disponíveis.
         Longe os sons do palco indicavam que os shows já estavam acontecendo. Um numeroso grupo de capoeira veio chegando para o gramado logo a frente de onde estávamos, e tememos que o nosso esforço em nos instalar em um local distante de barulho tivesse sido em vão. Uma parte de nosso público, curiosa com a movimentação, migrou para a roda de capoeira. Ainda faltavam cerca de dez minutos para a apresentação de Angelita, e começamos a nos organizar mais rapidamente para esse evento, temendo o barulho e o esvaziamento.
         Rosângela e seu marido estavam, de novo, conosco, ajudando em tudo, e, desta vez, nos fizeram uma surpresa: trouxeram uma potente filmadora, e a instalaram para filmar o “Soprando Histórias”. Uma maravilha!
         Cinco minutos antes do previsto consultamos nossa convidada e resolvemos iniciar o evento. Chamei o público que estava em nosso espaço para se aproximarem. Nem a música vindo do palco nem o evento de capoeira – que parecia bastante interessante e mantinha um bom público – atrapalhou o “Soprando Histórias”. Todas as nossas esteiras estavam ocupadas e, mais uma vez, tivemos que improvisar para permitir que um público crescente tivesse um pouco de conforto para acompanhar a leitura da história. Estendemos lençóis, mas mesmo assim algumas pessoas ainda se sentaram na grama. Muitas crianças rodearam Angelita, algumas famílias e mesmo moças e rapazes que se viram atraídos por aquela pequena multidão rodeando aquela moça sentada no “puff”. Mais de trinta pessoas acompanharam o evento desta vez, um público mais uma vez inédito.
         Já havíamos convidado Angelita umas semanas antes, que na ocasião não pode confirmar presença. Ficamos felizes que nossa amiga tenha nos atendido desta vez. Sabíamos, quando resolvemos convidá-la, que ela teria grande facilidade em desempenhar esse papel. Com duas décadas de experiência, aquela moça simpática e falante só poderia ter feito o que fez: cativado as crianças e os demais presentes, com seu jeito familiar de se dirigir a todos, com uma eterna alma adolescente e uma atenção e perícia para trabalhar com a voz e as ilustrações realmente marcante. A história escolhida por ela, “A bruxa Salomé”, facilitou essa interatividade, com jogos de memória que aguçavam a atenção das crianças e provocavam risos e admiração. Verdadeiramente lindo e perfeito! 
         É preciso registrar também a presença de Natália, filha de Rosângela, com sua alegria irreverente, e Murilo, seu irmão, carinhoso e apegado ao pai. Eles, mais Adah, contribuíram para transformar aquela tarde em um paraíso de crianças e jovens risonhos, um clima verdadeiramente encantador.
          Após a história as crianças ficaram ainda por algum tempo em nosso espaço, servindo-se do acervo e lendo sós ou com seus pais. Uma mocinha disse para sua mãe “Mãe, não vim aqui só para ouvir a história, eu quero ler os outros livros!” A mãe se rendeu ao argumento e se sentou com a pequena, enquanto esta se servia de um dos nossos títulos. É delicioso imaginar que esta disposição não é fato isolado, mas está presente em grande parte das crianças que vem todos os domingos nos visitar.
         Após as 17:30 o nosso público se dispersou, e aproveitamos um delicioso “café-nique” que Rosângela nos ofereceu.     Mesmo assim, não ficamos sem público: um pai apareceu com sua filhinha de uns 3 aninhos, sentou-se e acompanhou a leitura da pequenina. Deixamos a praça após as 18:00h, muito satisfeitos com o nosso sucesso, mais uma vez.        



Projeto Leituras ao Vento

7º Relatório - dia 15/05/2011

Mais uma vez a nossa ida à praça começou com um esforço concentrado de preparação durante a semana.  O motivo não poderia ser outro: nosso convidado para o “Soprando Histórias”, Alberto Marques dos Santos.
Alberto é nosso amigo do Clube de Leitura e uma pessoa muito querida. No início foi, durante algum tempo, nosso principal contato no Clube de Leitura, e o encarregado de atualizar o blog do Clube. É um intelectual refinado e um leitor atento, de análises precisas e perspicazes. As reuniões mensais do Clube de Leitura Maringá perdem muito em riqueza quando ele não está presente.
Ficamos muito contentes quando Alberto aceitou nosso convite, mas também um pouco preocupados. Imaginávamos um público maior que o usual, e por isso tivemos um esforço de logística adicional. Optamos por levar para a praça, desta vez, todo o acervo já catalogado e montar três varais, além de levar os dois bauzinhos e a cestinha de livros. Adquirimos, também, mais duas esteiras.
Novamente a preocupação com o clima: as previsões da meteorologia apontavam para possibilidade de chuva no domingo, e só nos restou torcer e apelar aos deuses que governam os elementos para que as previsões, corretas em outras oportunidades, dessa vez se frustrassem.
No domingo pela manhã o sol deu o ar da graça e não havia nada no céu que indicasse que teríamos um dia chuvoso. Mas, à medida que a manhã avançava, capitaneada pelo carro do sol, algumas nuvens apareceram e um ar frio tomou conta do ambiente. Ficamos atentos, mas a chuva não se confirmou. Ao chegarmos à praça o tempo se manteve assim, com o sol disputando o azul com nuvens brancas baixas de algodão, e uma brisa fria leve que tipificava o outono.
O evento inexplicável, dessa vez, foi a dificuldade extrema que tivemos de estender os varais. Se na semana anterior o vendedor de doces e Maristela deram o tom da solidariedade e criatividade, desta vez nada parecia dar certo. Nos enredamos em uma confusão de nós e de barbantes enrolados e atados às cordas de nylon, tentando manter os varais estáveis enquanto eles insistiam em ceder e flexionar os livros para baixo. Colocamos e retiramos os livros algumas vezes para esticar de novo as cordas e refazer os nós. Senti falta de meu amigo Régis, com seu conhecimento de nós rápidos e perfeitos, adquirido nas trilhas de montanhismo no verde desse Paraná.
Depois de mais de meia hora de sofrimento, finalmente conseguimos atar os varais de modo razoável e começamos a colocar os livros. Nesse ínterim, chega Alberto com sua esposa e, com seu bom humor e serenidade, começa a nos ajudar com os livros. Assim que tudo está finalmente montado, saí com Adah para fazer a nossa propaganda e distribuir os convites para o “Soprando Histórias”.
Quando chegamos à praça, às 15:00h, nos pareceu que esta estava ainda mais vazia que no domingo das mães. Via-se uma vastidão em que poucos grupos isolados se espalhavam, distantes uns dos outros. Quando começamos a distribuir os convites, às 16:10, essa situação não havia mudado. Optamos, eu e Adah, por uma estratégia diferente. Ao invés de começarmos a distribuir nas proximidades do Projeto e irmos nos distanciando, dessa vez fomos até um ponto distante onde aparentemente havia mais pessoas, e dali voltarmos para o Projeto fazendo a distribuição. Tivemos que correr atrás de um pai e sua filha pequena, que já se distanciavam em direção à avenida. Priorizamos os grupos onde havia crianças, e, mais uma vez, tivemos uma surpresa positiva: distribuímos mais de uma dezena de panfletos em pouco mais de dez minutos, nunca só distribuindo, mas sobretudo explicando às pessoas, em rápidas palavras e no essencial, o que era o Projeto, nossa maneira de trabalhar e algo sobre as obras e novidades que trazíamos.
Quando voltamos encontramos já algumas das pessoas abordadas instaladas nas esteiras, e, em poucos minutos todas as oito esteiras estavam ocupadas, uma afluência de público excelente. Na semana anterior, o público mostrou, em pleno Dia das Mães, que a praça também serve como espaço de intimidade entre mãe e filhos, quando essa relação é mediatizada pela leitura. Desta vez, o público mostrou que dias ligeiramente frios e ensolarados podem ser excelentes para uma leitura em família na praça.
Rosângela, nossa amiga do clube de leitura, com sua filha Natália, de 11 anos, vieram nos prestigiar, acompanharam e ajudaram o tempo todo. Também vieram Hilda e seu filho Marcos – “The three little pigs”, lembram? –, Hilda só de passagem, pois ia participar da Corrida Tiradentes, com largada às 16:45h, mas deixou Marcos com a gente, fazendo companhia à Adah e Natália. Também apareceu mais uma vez quem? O nosso leitor número um, sempre a procura de suas revistas preferidas, o Homem Aranha e o Groo. Desta vez, no entanto, ele resolveu variar, e fez alguns comentários com Alberto a respeito das ilustrações de “Chica e         João”, de Nelson Cruz – livro que trabalha a história e a memória da época do ouro e dos diamantes em Minas Gerais por meio da história e da lenda de Chica da Silva – e olhou com interesse para uma biografia em quadrinhos de Lula – editora Sarandi, texto de Tony Rodrigues e desenhos de Rodolfo Zalla – que Maristela lhe mostrou. É, nosso amigo parece ter uma certa preferência pelas biografias e pelas figuras ilustres! Gostaria que ele tivesse ficado para a apresentação do Alberto, mas ele logo após foi embora, sem se despedir e rapidamente, como um super-herói dos quadrinhos.
Uma nota muito legal sobre Marcos: com o correr da tarde e conforme o frio apertou, Marcos se sentou na esteira, juntou os joelhos ao tronco e puxou a camisa por cima dos joelhos, conseguindo cobrir-se inteiro com apenas aquela réstia de pano de malha. Uma graça! Maristela pediu a Adah e Natália para ir até o carro e apanhar uma manta azul que havíamos trazido para essas ocasiões. Natália entregou a ele, e ele se envolveu todinho, ali, encolhido como estava, parecendo um guru indiano numa rua de Calcutá. Claro que tiramos belas fotos daquele seu sorriso sereno aparecendo por trás daquela barreira azul. Detalhe: o menino não deixou de lado a leitura, mesmo no seu total recolhimento. Natália foi se juntar a ele depois.
Todos instalados, tiramos Alberto da sua santa paz – ele acabara de ler e se divertir com “Guardachuvando doideiras”,      
de Sylvia Orthof, e Adah se ocupava de tentar lhe enfiar goela abaixo livros de sua preferência – para iniciar o “Soprando Histórias”. Anunciamos aos presentes o evento e pedimos que arrastassem as esteiras para o palco improvisado, na verdade só um “puff” colocado ao lado dos bauzinhos e próximo a uma das “nossas” árvores. Todos ficaram bem próximos, as apresentações de praxe foram feitas por mim e Alberto ficou com a palavra.
            O livro, conforme anunciado, foi “A verdadeira história dos três porquinhos”, de John Sciezka, ilustrado por Lane Smith e traduzido por Pedro Maia Soares, editora Companhia das Letrinhas. O livro é uma deliciosa “versão do lobo”, escrita com base na história clássica, e que transforma a história dos três porquinhos num relato cheio de graça e de cinismo do Lobo Mau. Alberto apresentou o livro e, com sua simpatia natural e voz pausada, prendeu a atenção das crianças e conseguiu arrancar risadas até mesmo dos adultos. A assistência era grande e os aplausos ao final foram abundantes. Entregamos o Certificado de participação e o Título de leitor amigo das crianças e adolescentes da cidade de Maringá, com muitas fotos e reiterados aplausos.
            Após a apresentação, pela primeira vez o nosso público não se dispersou. Embora alguns tenham partido, as esteiras permaneceram ocupadas, com a chegada de mais duas famílias. Entabulei uma conversa com um pai que trabalhava ali perto – no posto de gasolina – sobre leitura e educação no Brasil, enquanto ao lado Alberto, Adah, Natália, Marcos e alguns outros faziam uma espécie de certame de contação de histórias, com direito a aplausos e “eehhs!”.    
            Nossa assistência, mais uma vez, foi digna de se admirar. Mamães lendo para os seus filhos tem sido uma ocorrência comum. Também irmãos lendo para irmãos, ou trocando informações, cada um com seu livro na mão. Pais homens também tem aparecido, acompanhados ou não das mamães, mas levando seu pequenos pelo braço. Aliás, pais homens parecem mais com um grupo diferenciado de crianças do que com adultos. Chegam como quem não quer nada, sondam o terreno, instruem os pequenos a se servir dos livros. Daqui a pouco, eles mesmos pegam alguma coisa para ler e não largam mais. E como se divertem! Durante a apresentação do Alberto um deles, acompanhado da mamãe e de sua filhinha, se divertiu mais que todos os presentes com a história contada. Ria com vontade do depoimento daquele Lobo Mau esperto se fazendo de coitadinho.
            Duas meninas da faixa dos 11 anos chegaram acompanhadas de uma outra ainda naquela deliciosa fase de ver apenas as figuras e cores. Sentaram as três em uma esteira, as duas maiores com livros. Já a pequenina foi se esticando, se aconchegando, até deitar confortavelmente. As outras duas pareceram ter achado uma boa idéia, e daí a pouco as três estavam deitadas. Então a pequenina dormiu gostosamente, e ali ficou por um longo tempo, talvez sonhando coisas mais belas que qualquer livro poderia deixar entrever.
            Uma mãe chegou pouco antes do início do “Soprando Histórias” e se deixou ficar até o final, bem à vontade, lendo histórias para o seu pequenino. Dizer o que mais? É por isso que estamos aqui.
            Desta vez prestamos mais atenção às idas de nosso público ao varal. O que vimos foi a desenvoltura de crianças bem pequenas, retirando e recolocando os livros, se dirigindo às esteiras e de fato se entretendo com a leitura. Portanto, mais que a alegria de brincar de escolher aqueles objetos coloridos cheios de páginas com príncipes e princesas, porquinhos, sapos e coelhos, observamos que a escolha representava um certo compromisso de se “aprofundar” naquela curiosidade, numa postura de leitura que em nada diferia, pelo menos visualmente, da dos adultos. A relação que essas crianças de fato tem com o que liam ou viam, ali naquela esteira, sobre o gramado e sob a ação da brisa da tarde, ainda não sabemos. Mas vamos continuar observando.
            Às 17:30, com o friozinho da noite começando a se insinuar e com as últimas despedidas, começamos a juntar nosso acervo para deixar a praça. Marcos, Rosângela e Natália, Alberto e Roseli ficaram conosco até o final. Ajudaram a desmontar nosso cenário e se despediram já na porta do carro. Um dia lindo. E é só.    


Projeto Leituras ao Vento

6º  Relatório - dia 08/05/2011


            Isso mesmo! E o Leituras aportou na praça da Catedral em pleno dia das mães!
            Depois dos felizes trâmites familiares de praxe – eu e Adah festamos com Maristela pela manhã e à tarde, almoçamos fora, Maristela ligou para a mãe e a avó, em Rondônia – colocamos o material no carro e fomos para a praça.
            Encontramos a praça, compreensivelmente, pouco movimentada, e nossos amigos de sempre não estavam lá – na certa fazendo com suas mamães o que eu e Adah fizemos com Maristela.
            Mas não desanimamos. Pelo contrário, pensamos o Leituras daquele dia como uma forma alegre e solidária de colori-lo ainda mais, de terminarmos de relaxar com um gostinho de fazê-lo com o próximo. 
            Mas a solidariedade começou não do nosso lado, mas do lado do público. O vendedor de doces – Maristela preferiu classificá-lo como um pipoqueiro que vendia de tudo, menos pipoca – se ofereceu para ajudar-nos a colocar o banner do Leituras. Bem, ele era um senhor de uns cinqüenta anos – talvez mais – baixo, magro, de compleição física frágil e que parecia ter algum tipo de limitação ou dificuldade de movimento. Mas nada o demoveu da idéia de ajudar-nos!
            A idéia, como sempre, era amarrar um barbante a uma altura de pouco mais de dois metros, em uma das árvores que usamos costumeiramente como suporte para nossos varais. Então usar o barbante como suporte para pendurar o banner. Então, tudo bem. Simples, não? Não, se parece quase impossível para pobres amantes da leitura como nós amarrar o tal barbante em torno da árvore sem deixá-lo frouxo. O nosso solidário vendedor de doces partilhou desse dilema torturante conosco, pedia insistentemente a ajuda da Adah com o rolo de barbante, aceitou uma banqueta para se aproximar mais da altura onde o barbante seria atado, arrebentou com as mãos dois pedaços de barbante, ambos de tamanho insuficiente, até que aceitou minha sugestão de envolver a árvore primeiro para depois arrebentar. Deu idéias e mais idéias e partilhou do resultado das nossas, todas um retumbante fracasso!
            Mas eis que uma mulher, mais uma vez, salva o dia – ou à tarde. Maristela nos sugere que joguemos o rolinho de barbante na bifurcação do tronco da árvore, uns três metros acima, ao invés de tentarmos envolvê-lo. Estaria assim resolvido o problema do afrouxamento e da dificuldade em atarmos o barbante à árvore tentando inutilmente fazê-lo na horizontal. Jogando o barbante pela bifurcação, era como colocar um “colar” de barbante na árvore. Então era só fechar o colar com um nó e pendurar o banner como um pingente.
            Depois dessa solução feminina e elegante é claro que deu certo. O vendedor de doces voltou para o seu carrinho satisfeito e colocando-se à disposição, como um legítimo cavalheiro; e nós pudemos terminar de nos instalar, estendendo o varal de nylon de uma árvore a outra. E Maristela ainda brindou-nos com outra idéia: para facilitar a instalação dos varais nós os estendemos em “V”, não precisando assim desatar o fio azul do branco, guardados atados desde a semana anterior. Economizamos, desta forma, tempo e alguns nós chatos, já que tudo ficou atado em uma única árvore.
            Depois de toda essa odisséia técnica, colocamos os livros em exposição, ajeitamos os bauzinhos em locais estratégicos para serem notados e explorados pelas crianças e estendemos as esteiras. Então eu saí pelo parque para fazer nossa já tradicional propaganda boca a boca.
            Poucos grupos se espalhavam pelo parque: grupos de adolescentes, pais jogando bola com seus filhos, uma vovó passeando com a netinha, um grupo jogando um vôlei bem animado, dentre outros. Comecei priorizando os grupos mais próximos e depois os que eu conseguia notar alguma criança. Fui um pouco mais longe e demorei um pouco mais do que o costume. Quando retornei, a surpresa: todas as esteiras estavam ocupadas! Para um dia que julgávamos que seria de poucos freqüentadores, foi bem gratificante perceber mais uma vez que precisamos de mais esteiras.
            Como era de se esperar, foi um dia de mamães lendo para os filhos, alguns bem pequenos. Um intimismo tocante unia meninos e meninas pequeninos, animados com seus livros coloridos, apanhados no varal na desenvoltura de seus passos aprendizes, com suas mães, sorridentes, contando as histórias e mostrando as ilustrações como se mostrassem os personagens-bichos coloridos por uma janela. Sorrisos leves e olhares ternos davam ao conjunto um clima de felicidade.
 Percebemos que as pessoas pegaram o espírito da coisa: usavam as esteiras com mais desenvoltura. Um pai e seu pequenino pediram para arrastar uma até um ponto além da área que ocupávamos. Uma mãe com suas duas meninas fez o mesmo.
Uma menina de uns dois anos de idade chegou com a atenção voltada para o livro de Clarice Lispector, “A vida íntima de Laura”, dizendo à mãe que queria ver o “có-có”, apontando a ilustração da capa, que mostrava algumas galinhas – o livro de Clarice, na verdade uma crítica bem humorada às donas-de-casa e mulheres comuns dos anos 70 e de todos os tempos, apóia sua história no cotidiano de uma galinha, cinza como todas as galinhas do terreiro onde mora. A mãe parou, animada para lhe mostrar o livro. Disse-nos que o gosto pela leitura não era comum no irmão e no primo, e que talvez com ela fosse diferente, tal o interesse demonstrado pela menina – mas contrariando o que disse a mãe, os dois meninos ficaram longo tempo em uma das esteiras, lendo gibis.
Um episódio da persistência de uma criança quando se enamora dos livros: uma menina de uns três anos de idade chegou, acompanhada de toda a família – pelo que vimos provavelmente os avós, pai e mãe e alguns tios. A menina se interessou bastante pelos livros, e a mãe ficou durante algum tempo lendo para ela.
Um senhor idoso, provavelmente o avô da menina, se instalou em nossa cadeira de praia, encostado a uma árvore, com o livro “Quatro amigos”, de Tatiana Belinky, e o leu inteiro, em voz alta, ali com seus botões. Terminou a leitura, se levantou e comentou com Adah sobre a qualidade do livro, que, disse, era “muito legal”.
Mas a nota interessante veio quando a mãe resolveu ir embora. A menina reiteradas vezes se recusou, e abria o livro fingindo concentração, como uma forma elegante de dizer que queria ficar. Até que a mãe, já alguns metros longe com o restante do grupo, lançou um ultimato à menina, dizendo que estava indo embora. A pequenina não teve dúvidas: apanhou um livro, foi até a esteira e deitou-se de costas displicentemente, com um joelho flexionado e a outra perna jogada sobre o joelho, o livro erguido e aberto sobre o rosto, numa elegantíssima pose de leitura que não deixou de arrancar risos dos presentes. A própria mãe e o pai não se contiveram. Eu, é claro, aproveitei para tirar umas fotos, e o pinguinho de gente fez questão de me olhar em pose, agora até incentivada pela mãe.
            Por volta de 16:40h todos os nossos visitantes já haviam se dispersado. Não que tivessem ficado pouco: ali permaneceram por mais de uma hora. A diferença é que, em eventos anteriores houve um rodízio maior dos grupos, enquanto desta vez os grupos chegaram mais ou menos ao mesmo tempo, logo no início, e permaneceram mais tempo, provavelmente devido às poucas opções que a praça oferecia naquele dia das mães. Pensamos em recolher o material às 17:00h, mas daí veio a segunda surpresa do dia: novos visitantes começaram a chegar dez minutos depois, e continuaram chegando até às 17:30h.  
            Os primeiros a chegar foram duas moças, acompanhadas de três crianças, duas meninas loiras e um menino de cabelos pretos. Uma das moças era de Terra Boa, aqui mesmo no Paraná, e estava em Maringá visitando a outra moça. As crianças se ocuparam com a leitura o tempo todo.
            Nessa segunda leva algumas surpresas positivas aconteceram: primeiro, houve a volta de nosso primeiro leitor, aquele que descrevemos aqui no nosso primeiro relatório, que havia se encantado com o número especial do Homem-Aranha em que este aparece ao lado do presidente americano Barack Obama, e que se divertiu com as revistas do bárbaro Groo, de Sérgio Aragonés. O nosso amigo apareceu procurando essas mesmas revistas. Nós não havíamos trazido o Homem-Aranha, mas consegui localizar dois números do Groo, e lhe repassei um. Ele deu uma olhada por alguns minutos e me devolveu, afirmando que não estava muito disposto a ler naquele dia, devido a... alguma coisa que havia ingerido. Ele ainda ficou ali, sentado, acompanhando com os olhos o movimento e tecendo algumas considerações.
            Segundo, uma senhora catadora de papéis chegou com alguma bagagem e, depois de conseguir um pouco de refrigerante e uma maçã com alguns presentes, se instalou perto de uma das árvores que servia de suporte aos nossos varais. Colocou ali seu lençol, acomodou suas coisas num cantinho, incluindo uma garrafa d’água e a garrafa de refrigerante estrategicamente colocados para garantir que a sede não atrapalhasse o seu conforto e se dirigiu à Maristela para pedir um livro. Maristela disponibilizou-lhe um livro e ela foi se sentar em seu canto. Pouco depois devolveu o livro ao varal e pegou outro, uma versão em espanhol de “Cachinhos Dourados”, e ficou folheando, curiosa com os “pop-pups”. Finalmente, pegou um exemplar do “Muito Capeta”, de Angela Lago, e ficou com ele por cerca de meia-hora, agora deitada de bruços confortavelmente, com o livro á sua frente. Nossa visitante, talvez preocupada com a poeira que suas roupas se impregnaram com seu trabalho do dia, não se utilizou de nossas esteiras, e se manteve à parte, silenciosa em sua leitura. Em certa altura um amigo seu veio chamar-lhe, ela se levantou, devolveu o livro, recolheu suas coisas, despediu-se com um sorriso e se foi. Maravilhoso.
            Depois deste episódio recolhemos o material e encerramos já próximo das 18:00h, na mais longa permanência nossa na praça até aqui. Um longo dia cheio de surpresas nessa nossa experiência pública de leitura, suave como o vento a bater nas folhas das árvores.           


Projeto Leituras ao Vento

5º Relatório - dia 17/04/2011


A história desse nosso quinto dia na praça começa, na verdade, no decorrer da semana que nos precedeu.
Nossa convidada para o “Soprando Histórias”, Hilda Carr, ao receber o convite, feito por telefone, brincou dizendo que poderia contar a história em inglês. Bem, como a brincadeira me soou como uma idéia bastante interessante, resolvi levar a sério, e propomos, eu e Maristela, que ela fizesse a leitura bilíngüe da história a ser escolhida. Hilda encampou a idéia, e como já tivesse feito algo parecido como professora de inglês, escolheu “The Three Little Pigs” (Os Três Porquinhos).
A semana, muito corrida em casa – estávamos recebendo visita de familiares – terminou no sábado com a confecção pela convidada e por Maristela de engraçadíssimos fantoches de papel, representando os porquinhos e o lobo, e de casinhas bidimensionais de madeira sobre papel, feita de palitos de picolé, e de “palha” – na verdade crepom.
No domingo chegamos à praça na expectativa desse trabalho, e iniciamos os trabalhos fazendo a divulgação como de costume. Angelita, Adah e eu fizemos o corpo-a-corpo da divulgação e o público foi chegando, também do modo costumeiro. Havia uma boa movimentação na praça, e alguns grupos de jovens rodeavam o nosso espaço.
Nesse dia o número de crianças – e de adultos – era maior. Havia uma expectativa em relação ao “Soprando Histórias”, o que fez com que a concentração do público fosse maior e mais imediata. Havia uma família de brasileiras que morava em Minesotta, nos Estados Unidos, e estava em férias no Brasil. Conversaram em inglês e português com a nossa convidada, e se mostraram surpresos e felizes com o nosso evento; uma mãe, cuja família se acomodou no gramado a uma dezena de metros de onde estávamos, veio pedir para levar um dos livros até onde estavam. Concordamos, é claro, ela levou o livro e no final da tarde fez questão de informar que estava devolvendo o livro ao lugar de onde apanhou; havia uma menina de cerca de três anos de idade que vinha procurar histórias de contos de fadas tradicionais – que, infelizmente, ainda não temos títulos disponíveis, pelo menos os mais procurados, que são as histórias de princesas – e, quando sugeríamos a ela algum outro, ela ia correndo contar à mãe o que tinha encontrado; havia também um menino, que nos perguntava o título de um livro que acabara de escolher, e assim que ouvia a resposta, saía correndo em direção aos pais gritando o título; nas esteiras, muitas mães e pais acompanhando os filhos; um rapaz rodeou-nos todo o tempo com uma filmadora, e depois de terminar seu trabalho se acomodou numa esteira preguiçosamente para acompanhar a história.
Resolvemos adiar um pouco a leitura da história, para dar tempo a alguns conhecidos e familiares chegarem – o trânsito na cidade não estava muito fácil nesse dia, e estava difícil de estacionar, mesmo nos amplos arredores da praça. Decidimos começar as 16:30h. Dona Maria José, mãe de Maristela, e seu irmão mais velho, Marcelo, estavam presentes. Eles viajaram três mil quilômetros, de Rondônia para Maringá, para comemorar um aniversário triplo conosco: eu, Maristela e Marcelo; os jovens que estavam instalados nos arredores do Projeto foram convidados e aceitaram. Com tão seletos e ilustres convidados, começamos o soprando histórias com um público superior a 20 pessoas.
Como não poderia deixar de ser, a leitura da história foi um sucesso. Ao estilo dos melhores contadores de histórias, Hilda uniu teatro e exposição oral, criando uma empatia com o público que marcou o evento. Hilda montou um pequeno palco-cenário usando um tecido servindo de cortina, atrás do qual ficaram estrategicamente instalados Maristela e Marcos, com todo o material necessário para a encenação. Feitas por mim as apresentações, Hilda começou a contar a história com sua voz calma e pausada, primeiro em inglês e após em português, mostrando as ilustrações do livro e aguardando, após uma “deixa”, que seus “auxiliares” por trás da cortina exibissem personagens, cenário e situações. Assim, apareciam os porquinhos e o lobo, com suas caras de papel sustentadas por espetos, as casinhas dos porquinhos e, conforme a história evoluía, gestos e sons eram feitos para simular os sopros do lobo e a queda das casinhas. Como era uma versão com final feliz, bexigas coloridas foram mostradas ao final: o lobo, após uma crise de choro pelo fracasso em derrubar a casa de tijolos, deixou de ser mau e conseguiu um emprego de encher bexigas em festas.
A atenção do público presente foi perfeita, o que nos chamou a atenção. Mesmo os adolescentes e jovens que se deslocaram até nós apenas para ouvir a história ficaram bastante atentos. As crianças fizeram o possível para ficar bem próximos de Hilda e participaram da história respondendo em uníssono as perguntas da convidada. Todos aplaudiram com entusiasmo no final.
Depois da apresentação uma parte do público se dispersou, restando algumas crianças. Uma menina, Alessandra, de uns nove anos, permaneceu entre nós, muito interessada nos pacotes de poesia. Conversamos com ela, e ela, empolgada, disse que escrevia poemas e pegou um papel onde ela havia escrito alguns versos, declamando para nós. Uma graça!
Sentimos mais uma vez a necessidade de uma caixa de som e microfone, para dar um pouco mais de conforto aos nossos convidados durante a leitura do livro, e abrir a possibilidade de ampliar um pouco o público ouvinte. Em geral, o saldo do dia foi positivo. Encerramos no horário habitual.   

Desta vez, sentimos necessidade de um pequeno instrumento sonoro para chamar a atenção dos presentes para eventos interativos que venhamos a promover, como o “Soprando Histórias”. Talvez um triângulo, ou uma sineta. Voando mais alto, seria ideal se tivéssemos a nossa disposição uma pequena caixa de som e microfone, para que nosso convidado pudesse contar a historinha, em situações como a deste domingo, sem forçar tanto a voz ou forçar a aproximação das crianças, tirando-as dos lugares que previamente escolheram.    


Projeto Leituras ao Vento

4º Relatório - dia 10/04/2011

Finalmente, sob as bênçãos de São Pedro, pudemos realizar o nosso quarto encontro na praça.

Por contingências da vida cotidiana familiar, acabamos tendo um considerável atraso de meia hora para chegar à praça. Estávamos preocupados como fato de não termos conseguido chegar na hora certa. A apresentação do “Soprando histórias” estava marcada para as 16:00h, precisávamos montar toda nossa pequena estrutura – prender os varais, estender as esteiras, colocar os livros em exposição, posicionar os baús... – e ainda teríamos que ter um tempo para fazer a divulgação, o nosso tradicional corpo a corpo com o público presente na praça.

Pelo menos não encontramos chuva, mas um sol forte e um céu sem nuvens, uma típica tarde para se passear na praça sob a sombra das árvores, situação ideal para o nosso trabalho.

 O que não quer dizer que não tenhamos nos surpreendido. A praça estava lotada, por conta de um evento de passeio ciclístico que havia começado mais cedo, e que tinha a praça como sua base.

Até aí tudo bem. Tudo bem mesmo, já que, quanto mais público, mais famílias, mais crianças viriam, ótimo pra nós. O “Leituras ao Vento” sempre gostou de se ver como uma alternativa cultural. Quanto mais eventos, mais opções haverá, e assim mais interesse, e todos sairão ganhando.

Mas houve dificuldades. Por conta do evento de ciclismo, a Prefeitura montou uma estrutura de serviços com barracas – o que é excelente – e um sistema de som que incomodava um pouco, e que tememos fosse prejudicar aqueles que viessem a nós buscando a quietude da leitura. De qualquer forma, colocamos mãos a obra e começamos a descarregar o material de meu abarrotado Ford Ka.

Mais uma vez, nossos amigos estavam presentes para nos ajudar. Régis e Angelita, ambos do Clube de Leitura Maringá, acompanhados de seus filhos; Inácio, também do Clube; e Robson, amigo e colega de trabalho deste relator. Ajudaram a montar o cenário do Projeto e foram decisivos em outros afazeres: Inácio revelou-se um excelente fotógrafo, tirando as melhores fotos até agora do Projeto; os demais saíram para fazer a divulgação.  

Angelita e Adah tomaram o sentido anti-horário em relação à Catedral, indo em direção à grande aglomeração provocada pelo evento de ciclismo. Além das pessoas que normalmente se sentavam na grama para conversar ou namorar, dos pais jogando bola com os filhos e dos ajuntamentos de jovens conversando ou jogando vôlei, havia muita gente reunida em frente ao palco montado em frente ao portão posterior da Igreja, onde estava montado o som.

  Logo depois do retorno das moças eu e Robson saímos no sentido oposto, abordando alguns grupos. Era a primeira vez que Robson nos visitava, mas não se fez de rogado: depois da segunda vez que me viu anunciando o nosso evento, fornecendo aos meus ouvintes as informações de praxe, foi até um outro grupo e fez a sua estréia-solo como divulgador do “Leituras ao Vento”.  

Ficamos surpresos com o resultado. Vinte e cinco minutos após estacionarmos o carro, toda a estrutura estava montada e já havia muitos adultos e crianças consultando o acervo e acomodados nas esteiras, fazendo suas leituras. Pensávamos que nosso atraso de meia hora para chegar a Praça fosse provocar atraso correspondente na estréia do “Soprando histórias”. Contudo, diante de tantas crianças já reunidas, pudemos fazer a chamada para este evento apenas cinco minutos depois desse horário.

A nossa convidada para fazer a leitura da historinha, Adah Galvão, se acomodou diante de cerca de duas dezenas de crianças, uma assistência considerável, se levarmos em conta os limites ocupados por nós no gramado da praça. Conforme a historinha ia sendo contada, as crianças se achegavam mais a Adah, procurando compensar o ruído que vinha das caixas de som mais adiante.

Apesar dessas dificuldades, a apresentação foi um inegável sucesso. Adah recebeu aplausos merecidos, e foi agraciada com o nosso Certificado de Participação e com o Diploma de Leitor Amigo do Projeto Leituras ao Vento.

Depois da apresentação o espaço permaneceu ocupado por leitores até por volta das 17:00h, quando o grosso da multidão presente se dirigiu para a frente do palco, onde haveria sorteio de prêmios aos que prestigiavam o evento de passeio ciclístico.

Terminamos a tarde imensamente satisfeitos com a maior assistência que já tivemos, com a resposta do público à nossa presença e com o sucesso da primeira edição do “Soprando Histórias”.      

Desta vez, sentimos necessidade de um pequeno instrumento sonoro para chamar a atenção dos presentes para eventos interativos que venhamos a promover, como o “Soprando Histórias”. Talvez um triângulo, ou uma sineta. Voando mais alto, seria ideal se tivéssemos a nossa disposição uma pequena caixa de som e microfone, para que nosso convidado pudesse contar a historinha, em situações como a deste domingo, sem forçar tanto a voz ou forçar a aproximação das crianças, tirando-as dos lugares que previamente escolheram.    

Projeto Leituras ao Vento

 3º  Relatório -  dia 27/03/2011

            Pela primeira vez nesses momentos ainda iniciais da história do Projeto, a suavidade das palavras encontrou a força da tempestade.

            Saímos de casa de olho no céu cinzento que cobria o Jardim Liberdade, bairro onde moramos e que se localiza a poucos minutos do centro da cidade, direção para onde os olhos corriam e encontravam a tormenta já instalada. Nossa esperança era que a chuva, vindo de lá, passasse por nós e que encontrássemos a Praça da Catedral com seu gramado já seco, e sem precipitação, para que pudéssemos estender os lençóis e expor nosso acervo.

            Mas, infelizmente, ao chegarmos, embora o grosso da chuva já houvesse passado, persistia uma garoa fina que tornaria o nosso trabalho impossível. Como a Praça não estivesse totalmente vazia – alguns grupos de pessoas já se aventuravam no gramado úmido aqui e ali – resolvemos dar uma volta e aguardar um momento próprio.

            Depois de hora e meia em casa de Angelita, nossa amiga do Clube de Leitura e colaboradora do Projeto – e de uma gostosa prosa com seu pai, o escritor Anísio Salvatini, voltamos à praça, agora na companhia de Angelita e de seus filhos e, mesmo nos arriscando na grama úmida e embaixo das árvores gotejantes, estendemos nossos varais e nossas esteiras, colocamos os livros em exposição e fomos ao encontro de nossos leitores em potencial.

            Embora houvesse um número sensivelmente menor de freqüentadores na Praça, nossos leitores mirins foram chegando aos poucos como sempre, mas como sempre ficando, explorando com curiosidade o acervo, se acomodando nas esteiras solitários ou aos pares, com seus olhinhos atentos e silenciosos, armados de pequeninos óculos que lhes davam um ar senhoril, ou desarmados e vivazes, correndo do varal às esteiras, trocando com os presentes títulos e informações.

            Angelita teve nesta tarde uma atuação extraordinária: além de ajudar na divulgação, leu histórias para algumas mocinhas bem interessadas e compartilhou também, com uma mãe presente, os belos poemas de Cora Coralina. 

            Nosso esforço de convivência com os elementos foi amplamente recompensado. Esse domingo foi o domingo do primeiro encontro com importantes segmentos promotores de cultura em Maringá. Recebemos a visita de Ademir Félix Jesus, Assessor de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Maringá, que estava presente à praça com vários colaboradores para apresentar o primeiro Conto de Nagô na Praça, evento que acabou não sendo apresentado devido à chuva. Conversamos informalmente durante algum tempo, Félix de Jesus me falou de sua trajetória na cidade e na prefeitura promovendo a cultura afro.  Nos falou também do Projeto que ora se inicia, e que tem por objetivo a difusão e valorização da cultura afro-brasileira, além da leitura, da criatividade e da imaginação. O Conto de Nagô  em sua primeira edição, ficou adiado para o próximo  domingo 3 de abril, na praça da Catedral de Maringá. Desejamos a Félix de Jesus e seus colaboradores sucesso, e desde já nos colocamos a disposição.

            Também esteve presente na Praça Aguinaldo Cavalheiro de Almeida, o Guiga, apresentador da Rádio UEM, promotor das famosas “bicicletadas” em Maringá e eleito personalidade do ano na cidade em 2010.  Apareceu acompanhado da amiga Mônica, e me deu a honra de um papo interessante sobre a cultura na cidade, e sobre as relações entre os diversos grupos culturais. Foi a primeira vez que conversamos de verdade – de muitas, espero – mas eu já o havia encontrado em outra ocasião, no auditório Hélio Moreira, enquanto apreciador comum de um outro Projeto, já tradicional na cidade: o Projeto Um Outro Olhar, do crítico e amante do cinema “cult” Paulo Campagnolo.

            Assim, cinema, passeios de bicicleta, cultura negra e literatura infantil se tocaram na atmosfera úmida da Praça da Catedral na tarde de domingo, embalados pela súbita estiagem, pelo papo descontraído mas engajado, cercados por crianças e pela magia das palavras. Bons fluidos para o futuro, sem dúvida.

                                            
                                            Projeto Leituras ao Vento

2º Relatório - dia 20/03/2011

            Nosso segundo dia de Projeto começou novamente com sol forte.

            Desta vez não conseguimos ficar junto às árvores do domingo anterior, mas isso nos propiciou um arranjo de espaço diferente: ao invés de ocupar duas árvores, como na vez anterior, estendemos o varal utilizando três árvores, formando dois lados de um triângulo, o que delimitou uma área interna que serviu para identificar melhor o nosso trabalho aos freqüentadores da praça.

Mais uma vez com a ajuda dos amigos do Clube de Leitura, transportamos o material, estendemos os lençóis e as esteiras e colocamos os livros em exposição nos varais e sobre parte dos lençóis. Mantivemos o baú com parte dos livros dentro, por entendermos que a exploração, por parte das crianças, do conteúdo do baú tem um aspecto lúdico de descoberta indispensável.

 Desta vez trouxemos mais três esteiras, adquiridas no decorrer da semana, para atender a uma demanda que imaginávamos crescente e também para permitir um certo “isolamento” que favorecesse a concentração da leitura.

Mantivemos o acervo de exposição praticamente inalterado, visto ser apenas nosso segundo encontro, e não haver ainda demanda sobre títulos específicos. Pensamos que, nesta fase inicial do Projeto, é necessário e conveniente que nosso público conheça nosso acervo em suas especificidades, o que torna a constância dos títulos importante. Títulos novos, ou diferentes dos que normalmente expomos, no entanto, continuarão sendo trazidos, aos poucos, toda semana.

Fizemos a divulgação local boca a boca, como na vez anterior. Nesse nosso estilo de divulgação, meio bate-papo, buscando uma aproximação com nossos potenciais leitores, tivemos algumas gratas surpresas: pedagogas que vieram conhecer nosso trabalho, interessadas em suas possibilidades; uma cantora gospel que trouxe a filha e que, instigada por nós, acabou cantando com a gente; e até um policial, que não cansou de elogiar nosso trabalho e se lamentar da falta de divulgação de iniciativas culturais como a nossa.

A história do policial foi deveras interessante. Ainda no início do trabalho, logo após a arrumação, três deles vieram, dos lados da Catedral até nós. Como é praxe, fomos recebê-los, como a qualquer potencial leitor que se aproxima. Um deles nos disse que alguém os informou que estávamos ali, o que achamos imensamente positivo, já que era prova de que as atenções dos presentes já se voltavam para nós. Este policial nos disse que resolveram passar para garantir que tudo estava bem, e que não seríamos importunados em nosso trabalho. Agradecemos imensamente e explicamos os objetivos do projeto, detalhes do acervo, o público alvo, nossa forma de abordagem, entre outros detalhes. Eles ficaram positivamente impressionados e um deles começou um discurso bastante crítico a respeito da necessidade de iniciativas como a nossa e da falta de divulgação pelos meios de comunicação, que “só se ocupam de coisas ruins”. Mais uma vez agradecemos e nos despedimos, enquanto eles seguiam sua ronda.

 As crianças foram chegando aos poucos e explorando o acervo. Os adultos chegavam e procuraram os pacotes de poesia, e até mesmo liam títulos infantis com suas crianças. Uma família veio se aninhar junto a uma das árvores, e, enquanto a mãe se ocupava de ler um dos títulos com a filha, o pai se recostava no tronco e lia um outro título – infantil – com gosto e interesse, e dali não saiu enquanto não concluiu a leitura.

Tivemos outra surpresa gratificante: uma visitante, depois de examinar nossos títulos e acompanhar por alguns momentos nosso trabalho, veio até nós e se propôs a nos doar alguns títulos que, segundo ela, estavam sem uso em sua casa. Agradecemos muitíssimo e ficamos muito felizes, por descobrir em nossos potenciais leitores aspectos das nossas crenças mais fortes em relação aos livros e à leitura. Entendemos que os livros só justificam a sua existência quando estão em movimento, ou seja, quando cumprem sua função social de promover a cultura, a instrução, o conhecimento, o uso da imaginação criativa, a circulação da comunicação, o desenvolvimento do pensamento crítico por meio do debate livre e prazeroso. Livros parados eternamente na estante são como sopros divinos enclausurados em uma dimensão estática, aguardando o encontro com as pessoas e com o mundo para criar e renovar vida. 

Nossa mascote de pelúcia, a Ursolina, teve também seu dia de glória. Uma de nossas leitoras mirins, depois de um breve intervalo de leitura, viu aquela imensa ursa rosa e branca e se enamorou consultou a nós e à mãe, e, dado o consentimento, passou o resto do tempo abraçada à ursa, que assim não voltou mais nesse dia ao seu local de exposição.

Assim, o clima de descontração e uma interação mais estreita com nossos leitores marcaram esse segundo dia.

Desta vez sentimos necessidade de substituir os lençóis, desde o início pensados como solução provisória, por mais esteiras. Isso melhorará a apresentação geral, e facilitará o acesso aos livros, já que, com os lençóis, as crianças sentem certa dificuldade de chegar até os livros, e receio de pisar nos lençóis.
Também concluímos que é preciso espalhar ao máximo as esteiras, por motivos aqui já expostos e para evitar que as crianças, naturalmente, ocupem sem necessidade mais de uma esteira quando se agrupam para interagir, restringindo ou desestimulando o acesso a esteiras que poderiam estar livres ou a esteiras mais próximas.

Estamos planejando para, também, ampliar nosso escopo de divulgação, com a confecção de nosso banner e a busca de outros meios de comunicação. Isto é, como já foi dito, essencial à busca de reconhecimento e parcerias.

A segunda fase do projeto já se avizinha: como forma de aumentar a interação com o público presente na praça, iniciaremos, em breve, nosso momento de contação de história, com personalidades de todas as classes, profissões e idades convidados.

Esperamos também em breve atender já aos primeiros pedidos que se esboçam, de levar o Projeto a outros locais da cidade, diversificando o público e incentivando o nascimento de iniciativas semelhantes.   


PROJETO LEITURAS AO VENTO  - RELATÓRIO Nº 1

Relatório do dia 13/03/2011

- Este é o relatório do primeiro dia do Projeto, o que, pelas expectativas geradas, por si só já é significativo.

- Também por ser o primeiro relatório, algumas considerações, que estarão no todo ou em parte no corpo do Projeto escrito, devem ser feitas.

- Em primeiro lugar, é conveniente falar alguma coisa sobre a origem do Projeto. A idéia do Projeto surgiu de um domingo de lazer de uma família dinâmica: Wagner, professor, historiador e especialista em Metodologia do Ensino Superior; Maristela, professora, pedagoga e especialista em Administração Escolar; e Adah Maria, menina “performática”, intelectual segundo ela mesma, de 12 anos, que topa tudo e que faz a Sexta Série (Sétimo Ano) do Ensino Fundamental.

- A ida à praça para leitura e brincadeiras com bola já estava se tornando rotina, quando Maristela lançou o “Por que não?”, eu disse “Eu topo!” e Adah Maria, que não disse nada, durante a semana que se iniciava já começou a ajudar nos preparativos.

- Vínhamos constituindo um acervo de livros infantis que já ultrapassava a primeira centena, por pura paixão , mas também por esse acervo estar conectado a uma série de eventos passados, presentes e até mesmo futuros aos quais estamos ligados. Um deles é o Projeto de Leitura Vila Rica, um projeto de leitura para crianças da nossa rua, ao qual estamos trabalhando. O Projeto Leituras ao Vento foi pensado inicialmente como um “braço externo” do Projeto Vila Rica, um tipo de expansão para além dos limites da nossa vizinhança da oportunidade que queríamos dar a crianças e adolescentes de ter contato com livros e autores infantis e infanto-juvenis, num ambiente de liberdade e autonomia.

- Pensamos num ambiente em que os livros fossem parte principal da decoração, estivessem expostos e sujeitos ao sol da tarde e ao vento como as folhas das árvores, e que a relação deles com as crianças se aproximasse da relação destas com a natureza. Queríamos que as crianças se servissem deles à vontade como quem puxa um fruto maduro de um galho, e que os devolvessem livremente ao seu ambiente como quem, após se deliciar com o fruto, lançasse novamente a semente à terra, com a vantagem de que os deuses da leitura a transformariam novamente, instantaneamente, em uma bênção para outra criança ou jovem – de todas as idades.

- Retiramos do guarda-roupa algo que pudesse ser estendido, adquirimos algumas esteiras de nylon, compramos fios para varais do mesmo material, uma cestinha de vime, grampos de roupa, digitamos em sulfite o nome do Projeto e nos sentimos prontos.  

- E foi assim que pegamos o nosso baú de livros infantis, agregamos mais alguns títulos infanto-juvenis, uma pitada de poesia e outra de histórias em quadrinhos, colocamos no porta-malas do carro e levamos para a Praça da Catedral.

- Ao chegarmos lá já encontramos nossos amigos do Clube de Leitura Maringá, que abraçaram nossa iniciativa desde o início, e estavam lá, alguns com suas crianças, para nos prestigiar, aproveitar nosso acervo, ajudar na divulgação andando pelo espaço da praça despertando leitores. Esperamos, quem sabe, que alguns deles venham, desde já e paulatinamente, a fazer parte efetiva do Projeto, enriquecendo-o com conhecimento e novas ideias.

- Escolhemos o gramado amplo de sua parte de trás, estendemos dois fios de varal entre duas árvores, um lençol e uma colcha para decorar o verde do gramado, espalhamos as esteiras, posicionamos estrategicamente o baú e a cestinha de vime e uma enorme ursa de pelúcia – a Ursolina --  sentada em uma banqueta.

- Então expomos os livros. Pendurados no varal, espalhados sobre a colcha e o lençol, colocados em círculo na cestinha de vime, dentro do baú. E esperamos. Não parados, mas indo aqui e ali conversar com grupos e famílias que vieram à praça em busca de lazer e descanso ao ar livre, como nós fazíamos, falando sobre o Projeto, o acervo, os autores, o nosso sistema simples e – sempre – revolucionário de escolhe-pega- senta onde quiser-lê à vontade, tudo absolutamente sem cerimônia, tendo apenas que “enfrentar” a preocupação dos educadores de, eventualmente, preencher uma ficha com nome, escolaridade e telefone, para que pudéssemos estabelecer um controle mínimo da movimentação do acervo e ir construindo uma ideia do que oferecer para eles nas semanas seguintes.      

- Não tivemos que esperar muito. Na verdade, nosso primeiro leitor, um rapaz de pouco mais de 20 anos, é que já esperava por nós. Sentado à sombra de uma das árvores que serviram de apoio para os varais, pedimos licença para invadir o seu santo espaço de descanso ao vento para estender as nossas Palavras.

- Em brevíssimo espaço de tempo ele já estava de posse de uma revista em quadrinhos, atraído pelo encontro insólito entre o Homem-Aranha e o presidente norte-americano Barack Obama. Leu de cabo a rabo e apanhou outra revista em quadrinhos, desta vez de humor, com a qual se deliciou.

- Em seguida, nossos vizinhos no bairro, que vieram para andar de bicicleta, também nos deram a honra de sua atenção por alguns preciosos minutos, em que mexeram no varal e exploraram o acervo que estava no chão.

- Duas amiguinhas inseparáveis também apareceram, uma delas com uma curiosa predileção por historinhas de terror. Escolheram com liberdade, ficaram receosas – sem se deter – de pisar nos lençóis onde estava a maior parte do acervo, mexeram gostosamente no baú. Um sucesso.

- Um grupinho muito simpático, com um jeito família, escolheu dois livros e foram se sentar um pouco adiante. Levamos até eles uma das esteiras e eles fizeram uma carinhosa seção privada de contação de histórias, com os adultos contando para as crianças.

- Outras crianças, sós ou acompanhadas dos pais, passaram por ali e conferiram nosso trabalho e nosso acervo. Permanecemos ali por cerca de duas horas e depois recolhemos o material, felizes com o prematuro resultado positivo.

- Esse sucesso nos apontou a necessidade de mais esteiras, banquetas, estantes para exposição diferenciada dos livros. Uma parte desse material será levada no próximo encontro.

- Para buscar possíveis parcerias e futuro financiamento para o Projeto, verificamos também a necessidade de acelerar e concluir a escrita do Projeto, o que esperamos fazer antes do terceiro encontro.  


                              ____________________________
                           Wagner Oliveira Candido - Relator                  






    
                                                                                                                       

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