Finalmente, conseguimos atualizar a nossa página de "Relatórios". Muitas atividades e compromissos nos tem levado a ter pouco tempo para a sistematização das ações do projeto. Acreditamos que os relatórios são significativos e relevantes nesse processo de desenvolvimento das ações. Pois, nos permite refletir e analisar aspectos que no calor da atividade não percebemos ou não damos a real importância.
Os Relatórios aliado ao nosso Caderno de registros e aos registros fotográficos formam o conjunto dos dados escritos, imagens e impressões necessários para avaliar os resultados do projeto e prevê futuras necessidades.
Por meio desses dados sabemos que 99 pessoas passaram na tenda do "Leituras ao Vento" somente nos três dias do evento Paraná em Ação em Sarandi; sabemos também quais famílias estão voltando outras vezes; as exigências materiais do projeto aumentaram; e que alguns livros tocaram de maneira especial os nossos visitantes; também é possível observar a grande atenção das pessoas durante o "Soprando histórias" e a comunhão das famílias lendo em conjunto.
Disponibilizamos aqui o último relatório feito para que os nossos leitores possam perceber as possibilidades deste tipo de registro. Os demais relatórios, que ajudam a contar a história do projeto e de alguns momentos muito interessantes que passamos estão disponíveis na página Relatórios no topo do blog.
Projeto Leituras
ao Vento
22º Relatório -
dia 28/08/2011
SOPRANDO
HISTÓRIAS
BILINGUE
Português-francês com HERMÍNIO NETO
O Projeto Leituras ao Vento chega à
Praça da Catedral neste domingo depois de uma verdadeira maratona. O convite
recebido pelo Projeto para participar do Programa Paraná em Ação nos levou por
três dias a Sarandi, onde realizamos um trabalho diferente, extenuante, mas
muito proveitoso do ponto de vista do aprendizado que nos proporcionou e da
oportunidade de prestar um serviço essencial – pois assim o consideramos a
leitura – para uma população que tem dificuldade de acessar serviços
essenciais. Os detalhes desta aventura vocês poderão acompanhar no Relatório
21.
Mas o fato é que, ao findar o terceiro
dia da experiência de Sarandi, encerrada ao meio-dia, eu e Maristela nos
permitimos apenas o tempo de almoçar em casa com Adah, aniversariando no dia, e
já partimos para a Praça.
O dia estava ensolarado e quente, e eu
estava satisfeito de ter Adah novamente para me ajudar na montagem dos varais.
Aprimorei a técnica que ela me ensinou e consigo montá-los já sem supervisão, é
verdade, mas tê-la ao lado, com sua engenhosidade e alegria juvenil é sempre um
prazer. Além disso, Maristela fica livre para ajeitar as esteiras, lidar com os
livros, recepcionar convidados, etc. sem precisar se preocupar em me ajudar com
os varais.
Próximo ao nosso espaço vários grupos
se fixaram. Me atrevo a pensar que o Leituras contribuiu para dinamizar esse
trecho do gramado da Praça, já que antes do Projeto, em nossas visitas à Praça,
o espaço era praticamente vazio. Praticamente
junto conosco chegou Ana Karina e família, que organizaram perto dali um
piquenique entre amigos. O professor
Hermínio Neto, nosso convidado, chegou às 15:30h.
Tivemos um pequeno contra-tempo que
atrasou um pouco a nossa divulgação. Descobrimos que nossa impressora, comprada
às pressas depois da destruição da primeira por uma colônia de formigas, tem um
cartucho de tinta de curta duração, e, o que é pior, se a tinta preta se
esgotar ela não imprime a partir dos cartuchos coloridos. Solicitamos a Hilda –
que já nos socorreu tantas vezes – que imprimisse em sua casa o Certificado e o
Título, além do material de divulgação. Alguns desencontros normais fizeram com
que tivéssemos acesso ao material apenas às 15:45h, motivo pelo qual resolvemos
remarcar o “Soprando Histórias” para as 16:30h.
Com a chegada de Hilda iniciamos, com
sua ajuda, a divulgação. Havia muita gente na Praça e logo todo o material foi
distribuído. No retorno à praça não parecia haver tanta gente, mas, quando
fizemos a chamada para o “Soprando Histórias” um grande numero de pessoas se
acomodou em volta do Professor Neto.
A história de sua participação começou com uma
visita nossa a um evento na Aliança Francesa de Maringá, na qual ele estava
presente. Na ocasião haveria a exibição de um filme em língua francesa, “O
tango de Rashevski”, uma história interessante envolvendo a vida de judeus
franceses, enfocando a mudança de seus costumes e a sua relação com os costumes
tradicionais a partir da emigração ocorrida no contexto da Segunda Guerra
Mundial. Antes da exibição a Aliança Francesa organizou uma pequena recepção, ao
jeito de festa americana, e ali pudemos conhecer os professores e alguns
freqüentadores da Aliança, e nos sentimos bem acolhidos e à vontade com aquelas
pessoas tão interessantes.
Foi nessa ocasião que conhecemos o
professor Hermínio Neto, professor da instituição. Estávamos acompanhados de
Hilda, que estuda francês na Aliança,e foi numa conversa animada com o
professor, em que falamos do Leituras e da experiência de Hilda como leitora bilíngüe
do Projeto que surgiu a idéia de convidá-lo para uma leitura bilíngüe. Isso foi
em julho, e um longo tempo se passou até que formalizamos o convite e, a uma
semana da apresentação, confirmamos a leitura que seria feita pelo professor:
Le Roi de Corbeaux (O Rei dos Corvos), de Jean-François Bladé, conto
pertencente a um dos volumes da grande coleção de contos tradicionais “Mille
ans de contes” com ilustrações de Sorine em edição francesa da Milan.
O volume é basicamente um livro de
textos, e as ilustrações, embora primorosas e de teor artístico indiscutível,
são discretas e monocromáticas. O conto ocupa cinco páginas, o que não é pouco,
mas não chega a ser problema para um leitor-contador habilidoso.
A história tem todos os elementos do
conto de fadas tradicional: um rei, um príncipe e princesas, encantamento,
magia, o bem e o mal e um caminho a ser percorrido – sem poupar sacrifícios e
sofrimentos – que vai do erro à redenção.
Na História, o Rei dos Corvos visita um reino
onde vive um rei que possui um único olho no meio da testa. O rei vive em seu
castelo com suas três filhas, a mais velha com trinta, a do meio com vinte e a
mais nova com dez anos de idade. O Rei dos Corvos, na verdade uma ave gigante,
diz ao rei que quer desposar uma de suas filhas. O rei leva a proposta às duas
mais velhas, que dizem prontamente estarem comprometidas. O rei não consulta a
mais nova, pois a julga ainda jovem demais para o matrimônio. Retorna ao Rei
dos Corvos dizendo-lhes que nenhuma de suas filhas se dispõe a casar com ele. O
Rei dos Corvos, irado, bica o único olho do rei, capturando-o e parte em
seguida. As filhas, atraídas pelos gritos do pai, correm a acudi-lo, e ele lhes
conta a sua desgraça. A filha mais nova diz que aceita casar-se com o rei dos
corvos, e vai à sua procura, na esperança de recuperar a visão do pai.
O rei dos corvos a recebe e aceita, e
concorda em esperar dez anos até que a princesa tenha idade suficiente para
desposá-lo. Conta a ela que é na verdade um príncipe que foi transformado em
corvo por um feiticeiro maligno, tornando-se homem apenas durante a noite, e
que só se livraria da maldição no dia do seu casamento. Mas até lá a princesa,
que deveria morar com ele, não deveria vê-lo, sob pena de perdê-lo e trazer
grandes desgraças para ele e para si mesma. A princesa luta intimamente para
vencer sua curiosidade, mas a um dia de completar os dez anos ela ergue uma
vela sobre o príncipe a noite e o vê. O príncipe é um jovem belíssimo, mas
nesse momento um pingo da cera quente da vela o atinge e ele acorda. Irado, a
expulsa do reino e diz a ela que não volte para presenciar sua desgraça. O
feiticeiro maligno então retorna e aprisiona o príncipe em um rochedo, sob a
guarda de dois cães ferozes.
A partir daí começa a jornada da
princesa, arrependida do que fez e disposta a recuperar o seu amor, o que
finalmente consegue depois de um longo tempo e enormes sacrifícios.
Adah, ao ouvir a história, lembrou-se do
mito de Eros e Psyché e eu penso que sua lembrança é perfeita. Tal como Psyché,
que busca com grande sacrifício o objeto do seu amor, amparada em sua
fragilidade pela assistência divina, a princesa recebe atributos mágicos que a
auxiliam em sua busca e também a superar os obstáculos terríveis em seu
caminho.
O professor Neto utilizou dois recursos
formidáveis para contar a história: uma máscara, que utilizava para encarnar o
Rei dos Corvos, aparecendo nessas ocasiões suas falas em francês; e uma flauta
doce tenor, com a qual tocava uma melodia de letra variável, em que algum
personagem fantástico dizia a moça de seus acertos e erros. Isso reforçou o
clima de encantamento da história, e o drama da princesa em busca do seu amor
arrancou suspiros da platéia presente, principalmente das moças. A interação
entre o leitor-contador, que se transfigurava, tocava e cantava, e a platéia,
que suspirava e cantava junto com o leitor aquela melodia triste e lamentosa,
foi perfeita. Ao final, exclamações de “Que lindo!” e muitas, muitas palmas.
Após a história convidamos duas crianças
para entregar ao professor Neto nosso Certificado de Participação e o Título de
Amigo Leitor das Crianças e Adolescentes da Cidade de Maringá e região.
Novamente muitas palmas e os nossos agradecimentos ao professor Neto, que,
muito gentil, teceu um elogio público ao Projeto e falou, a nosso pedido, ao
público sobre a Aliança Francesa. Passamos as informações culturais de praxe e
encerramos o “Soprando Histórias”.
Registramos pouco mais de vinte pessoas
no caderno de registros, número irreal em relação ao verdadeiro número de
freqüentadores desse dia. Havia, com segurança quase o dobro somente durante a
leitura da história. Também não tiramos tantas fotos quanto gostaríamos, embora
não tenham sido poucas. Novamente ficou evidente para nós a falta de
colaboradores fixos que possam ajudar no desenvolvimento dos trabalhos, dando
mais atenção, por exemplo, aos registros fotográfico e escrito, liberando-nos
para o atendimento ao público, ao convidado, e para a coleta de dados
(observação e entrevistas) para que possamos entender melhor a natureza do que
estamos fazendo e seu alcance junto ao público. Também reiteramos a necessidade de um equipamento
mínimo de som (uma caixa acústica alimentada por bateria e um microfone com
tripé) e imagem (filmadora com tripé), ambos para a execução e gravação do
“Soprando Histórias”.
Houve um rápido esvaziamento desta vez,
mas permanecemos em nosso espaço até as 17:30h, quando encerramos. No mais, foi
mais uma tarde de sucesso do “Leituras ao Vento”, e nós só temos a agradecer ao
nosso público. Um abraço e até a próxima.
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