O Projeto Leituras ao Vento tem três instrumentos importantes de registro: as fotos, o Caderno de Registros e os Relatórios. Esses instrumentos servem para sentirmos, analisarmos e redimensionarmos nossas ações. Por isso é tão importante compartilhar com todos esses registros.
O projeto se expandiu, temos muitas atividades e convites, que as vezes nos deixa um pouco sem tempo de atualizar o blog. Mas nos últimos dias conseguimos colocar todas as fotos, hoje disponibilizaremos os relatórios.
Organizamos todos os relatórios na parte superior do blog. Abaixo os mais recentes, ainda está faltando alguns, disponibilizaremos nos próximos dias.
Leituras ao Vento - 42° Relatório
Dia 1°/04/2012
SOPRANDO HISTÓRIAS ESPECIAL “DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL” COM EDILAINE MENDONÇA
No dia 02 de abril se comemora o Dia Internacional do Livro Infantil. Diante de uma data tão importante e tão significativa para os leitores mirins de todo o mundo, o Leituras ao Vento não poderia passar em branco – pelo contrário, teríamos que arranjar uma maneira de preencher essa pauta com as letras mais belas possíveis!
Primeiro, é preciso dizer algo sobre essa data. A escolha da data é uma homenagem ao nascimento de um dos maiores compiladores de contos tradicionais da historia da literatura: Hans Christian Andersen, nascido na Dinamarca a 02 de abril de 1805 (Odense) e morto a 4 de agosto de 1875 (Copenhague).
Andersen era um escritor filho de pai sapateiro, e a condição humilde trouxe-lhe dificuldades para se educar. Sua produção literária e poética, porém, além de seus outros talentos artísticos – também atuou como cantor lírico e diretor teatral – foram decisivas na superação dessas dificuldades. Excêntrico e conhecedor dos contrastes presentes na sociedade do seu tempo, Andersen ganhou reconhecimento como romancista e contista e fama mundial como escritor de histórias infantis.
Todas as histórias de Andersen para crianças são hoje consideradas clássicos da literatura infantil, como, por exemplo: O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Roupa Nova do Rei, A Pequena Sereia, A Pequena Vendedora de Fósforos, Os Sapatinhos Vermelhos, A Princesa e a Ervilha, A Polegarzinha, entre outros.
O maior prêmio da literatura infantil mundial leva o nome de Andersen: o prêmio Hans Christian Andersen, oferecido pelo IBBY (Internacional Board on Books for Young People), entidade filiada a UNESCO e que premia, pelo conjunto da obra, escritores e ilustradores vivos. O prêmio consiste em um diploma e uma medalha de ouro entregue pela rainha da Dinamarca, patrona do prêmio. As brasileiras Lygia Bojunga Nunes (1982) – autora de “A Bolsa Amarela” – e Ana Maria Machado (2000) – autora de “O Domador de Monstros” – ambos livros constantes do acervo do Leituras ao Vento, já ganharam o prêmio como escritoras. Entre os ilustradores que venceram o prêmio e que temos exemplares de suas obras em nosso acervo estão Maurice Sendak (1970-EUA) – “Onde Vivem os Monstros” – e Tomi Ungerer (1998-França) – “Crictor”.
Voltando ao nosso problema, programamos uma ida a Praça da Catedral para o dia 01 de abril, com a intenção de fazermos nesse dia o nosso especial em homenagem ao Dia Internacional do Livro Infantil. Decidido o dia e o tema, fomos procurar alguém que pudéssemos convidar para o “Soprando Histórias” e que se dispusesse a ler uma das obras de Andersen para as crianças, além de falar um pouco desse dia especial e do escritor dinamarquês e suas obras.
Achamos mais de uma pessoa, mas as conveniências do momento e a agenda dos pretendentes nos conduziram ao nome de Edilaine Mendonça, acadêmica de História da UEM e estagiária da Biblioteca Pública de Maringá, que por acaso estava preparando um trabalho interessantíssimo de contação de histórias para atuar com as crianças da Biblioteca, focando a obra de Andersen. Fizemos o convite, que foi aceito.
No domingo os deuses da literatura infantil nos brindaram com um sol maravilhoso e montamos o nosso espaço com grande expectativa para o evento. Nossa convidada chegou cedo, e iniciamos o “Soprando Histórias” às 16:10h. O público era pequeno, mas atento, e com a presença de crianças, adolescentes e pais. Edilaine, simpática, expôs com leveza e sempre com um sorriso as informações sobre o autor e começou a contar as duas histórias que trouxe para nós.
As histórias escolhidas por Edilaine foram “O Menino Mau” e “O Anjo”, do livro “Contos de Hans Christian Andersen”, publicado pelas Edições Paulinas, com tradução de Silva Duarte.
Na primeira história, um menino fustigado pela chuva e pelo frio é acolhido por um velho poeta. O menino está molhado e nu, e possui os cabelos encaracolados como um anjo. Traz consigo um pequeno arco e uma aljava com setas que perderam parte do seu colorido com a água da chuva. O menino apresenta-se como Cupido e, a uma distração de seu anfitrião, crava-lhe uma seta no coração. O restante da história é um retrato de Cupido, sempre oportunista, a ferir com as setas da paixão a todos indistintamente, sem poupar sequer seu pai e mãe. Cupido é o menino mau, a aprisionar no amor a todos que dele se aproximam.
Na segunda história um anjo bom conduz um menino morto ao céu, mas segue um itinerário piedoso, colhendo flores que serão colocadas diante de Deus, e no céu recuperarão o viço e irão florir para sempre. As flores eleitas por Deus ganharão voz e cantarão louvores ao Criador pela eternidade. O anjo bom colhe algumas flores abandonadas, e revela ao menino que aquelas flores foram suas quando em vida, ele também um menino morto. Revela a sua triste história de doença, sofrimento e isolamento, e conduz o menino ao céu onde recebe suas asas, o que possibilita aos dois voarem juntos.
As duas histórias, diferentes na forma, falam ambas das misérias humanas, de suas fraquezas físicas e espirituais, e da grandeza que pode advir disso, seja a grandeza do amor seja a da redenção. O texto singelo de Andersen, na tradução delicada de Duarte, diretamente do dinamarquês, é emotivo e lírico, prendendo pela leveza das imagens oníricas e pelo leve ondular do enredo, que tece o destino no fio tenso e mesmo trágico das surpresas do amor e da morte, mas o reconduz à planície da vida fazendo-o fio de reflexão.
As histórias contadas por Edilaine não se parecem com as histórias que conhecemos de Andersen. A obra publicada pelas Paulinas, um calhamaço de 784 páginas, traz algumas das histórias clássicas, mas faz muito mais que isso. Ao abrir-nos o leque de histórias e ao preservar o texto original nos faz pensar num outro Andersen, ou em tantos outros diferentes daquele que os leitores contemporâneos, sujeitos a mil adaptações, conheceram e construíram. Que cada um, se tiver essa maravilhosa oportunidade, julgue por si mesmo.
Após a apresentação entregamos o Certificado de Participação e o Título de Leitora Amiga das Crianças e Adolescentes de Maringá e região a Edilaine Mendonça, com agradecimentos por sua atenção, carinho com o público e leveza de sua exposição.
Agradecimentos também à equipe da Biblioteca Pública pelo apoio e a Ana Karina Paganini, nossa apoiadora, presente com sua família. Um abraço, Ana Karina, já estávamos sentindo falta de você. Em breve a família vai aumentar...
Ficamos ainda por um bom tempo na Praça, até que a tarde avançou e precisamos terminar. Mas, antes disso, o público, pequeno, mas sempre renovado, nos animou a contar histórias também, e eu resolvi contar mais uma vez “Como Mamãe e Papai se Apaixonaram”, de Katharina Grossmann-Hensel, com ilustrações da autora e tradução de Sâmia Rios; depois foi a vez de Maristela contar “A Lenda da Ursa Parda”, de Aleksandr Puchkin, adaptação de Tatiana Belinky e ilustração de Semíramis Nery Paterno – é sua especialidade, e Maristela costuma levar às lágrimas sua audiência, invariavelmente; depois, ainda contei “Eu Quero um Cachorro”, de Dayal Kaur Khalsa, ilustrações da autora, editado pela Nova Fronteira. A plateia acompanhou atenta, inclusive Mariana, nossa parceira de equipe no Projeto Brincadeiras, ultimamente sempre conosco e sempre ajudando.
Um abraço para todos e até o próximo Leituras ao Vento.
Leituras ao Vento - 41° Relatório
Dia 18/03/2012
LEITURAS AO VENTO NO “RPC-TV NA PRAÇA”
O Projeto recebeu, dias atrás, um belo convite: A RPCTV, emissora afiliada da Rede Globo aqui em Maringá, estava organizando um evento público a ser realizado na Praça Renato Celidônio, praça central da cidade, ao lado da prefeitura e em frente à biblioteca pública, local tradicional de grandes eventos, como a Festa das Nações. A ideia era fazer um evento para as famílias, com um palco principal para shows musicais e outras atrações, além de diversos espaços espalhados pela praça com oferecimento de serviços públicos – a exemplo do Paraná em Ação – brinquedos para as crianças, barraquinhas de artesanato, etc. O Leituras ao Vento ocuparia um espaço com duas tendas emprestadas pelo SESC-PR, e usaria o palco principal par fazer o “Soprando Histórias”.
Uma coincidência fez tudo ficar ainda mais interessante: já estávamos nos preparando para a comemoração do Dia Internacional do Contador de Histórias, e havíamos convidado para o “Soprando Histórias” o artista mais importante da contação de histórias de Maringá: Danilo Furlan. Contatamos então Danilo e perguntamos a ele se gostaria de fazer a sua apresentação, inicialmente planejada para a Praça da Catedral, na Praça Renato Celidônio, dentro do evento “RPC-TV na Praça”. Resposta afirmativa, começamos a nos preparar para uma grande apresentação do Leituras.
Visitamos no meio da semana o espaço juntamente com Sidnei, da RPC-TV, muito prestativo e muito solícito todo o tempo, e escolhemos o local das tendas tendo por base uma distância considerada ideal em relação à posição do palco, para preservar os leitores do som potente que com certeza viria do palco musical. Na véspera do evento Danilo também visitou o espaço, e, infelizmente, chegou à conclusão que a apresentação no palco principal seria inviável, devido às dimensões do palco, pensado para servir aos números musicais, e à dificuldade de se fazer um espetáculo de contação de histórias, normalmente projetado para pequenos públicos, em um clima quase sempre intimista, diante de um público que certamente atingiria as centenas de pessoas.
Não nos abalamos, mas começamos a pensar o “Soprando Histórias” no próprio espaço das barracas, em dois horários, para que o grande público que certamente apareceria tivesse mais chances de assistir. E assim fizemos.
No dia do evento, uma grande surpresa para os organizadores – embora não tenha sido para nós – uma grande afluência de público na Praça Renato Celidônio – cerca de 7000 pessoas, conforme se estimou posteriormente, quando eram esperadas pelos organizadores no máximo 1000. A abertura do evento foi com a apresentação da Banda Musical da Escola Branca da Mota Fernandes, no grande palco, também se apresentaram o grupo de pagode Chega Moleque e a dupla sertaneja Kathelen e Santiago, além de um grupo teatral da cidade. Fora do palco, mais teatro ao ar livre, o grupo de capoeira Aliance, bonecos gigantes, pipoca e algodão doce para as crianças e, é claro, o Projeto Leituras ao Vento.
Levamos boa parte do nosso acervo e procuramos delimitar um espaço aconchegante para o público, com nossa lona azul, nossos bauzinhos estrategicamente colocados e os varais cercando e cruzando o espaço da tenda, exibindo o melhor de nossa literatura infantil e juvenil. Danilo escolheu um canto das tendas com menor incidência solar – o dia estava bastante quente e claro – para montar o seu palco. Feito isso, nosso espaço já montado, começamos a atender o público, que começou a ocupar o espaço antes mesmo do fim da montagem. Foi, com certeza, uma das maiores ocorrências de público da história do Projeto. Não seria exagero dizer que, das 14:00h até por volta de 18:30h quando resolvemos terminar porque começava a faltar de luz solar, passou pelo espaço do Leituras cerca de 300 pessoas.
A primeira apresentação de Danilo começou pouco depois das 15:30h. As crianças ocuparam todo o espaço da tenda, e adultos e jovens, familiares e outras crianças, no chão ou no colo de suas mães e pais, cercavam a tenda, se esforçando para obter uma posição favorável para ver a apresentação. O espaço era pequeno, mas é possível que pelo menos 80 pessoas por vez tenham assistido as duas apresentações.
A história contada por Danilo foi “O rei bigodeira e sua banheira”, do casal genial Audrey (texto) e Don Wood (ilustração), publicado pela editora Ática.
Na história, o pajem real se desespera, convocando toda a corte para tentar tirar o rei Bigodeira de sua banheira, onde ele parece estar bem à vontade. As tentativas de convencer o rei a terminar seu longo banho se sucedem, com sugestões de atividade por parte de figuras diversas: o cavaleiro convidou-o para guerrear; a rainha para almoçar; o duque para pescar; e, finalmente, todos os membros da Corte para um baile de máscaras. Mas o rei, aceitando todos os convites, marcava o local dos eventos para a sua banheira! Depois de muita diversão e loucura, com a participação e perplexidade dos membros da corte – e o contínuo desespero do menino pajem – o próprio pajem tem a ideia de simplesmente retirar o tampão da banheira, fazendo escorrer a água e correr dali, envolto em sua toalha, o festivo e constrangido rei.
A história de Audrey Wood evoca, em primeiro lugar, o valor da imaginação e da criatividade, nas soluções diversas propostas pelos membros da corte para o problema, e do rei, em transformar todos os convites recebidos em gostosas brincadeiras em sua banheira. O rei é a personificação da alma infantil, que é capaz de transformar uma banheira em um campo de batalha, com exércitos, caravelas, soldados; num grande banquete para festejar com a rainha, com direito a bolo em forma de castelo, doces com a cara do rei, frutas, carnes e bebidas; numa pescaria, num lago com plantas aquáticas, tartarugas e muitos peixes; e num grandioso baile de máscaras, com belas fantasias, música e dança. A alegria contagiante e despreocupada do rei, que faz todas as obrigações e deleites do mundo caberem com folga e felicidade no espaço de um único dia, subverte o tempo, expandindo-o e dando-lhe uma outra qualidade, ao deslocá-lo do mundo das preocupações cotidianas, onde impera o tempo que nos obriga a abreviar nossas delícias, e aplicá-lo ao mundo da imaginação infantil, onde existe ao sabor da criatividade.
As ilustrações de Don Wood criam um ambiente onde a luz entra pouco e o realismo extremo das figuras humanas, seu rico expressionismo – uma característica do trabalho desse ilustrador – parecem impróprios para o desenvolvimento de uma história infantil, tão acostumados estamos com o zoomorfismo e com os traços caricatos das figuras humanas na maioria dos livros infantis. Mas, esses elementos, ao invés de se apresentarem como desvantagens, confirmam poderosamente os contrastes que ajudam a veicular a mensagem da história: um espaço exíguo mas com profundidade e volume, quase teatral; um tanto sombrio mas que sai de seu silêncio com o frenesi causado pela voz desesperada do pajem tentando trazer seu rei à razão; as figuras humanas, com suas vestimentas e poses esguias, evocam um ambiente de solenidade e ordem, mas as expressões são alegres e jocosas, mesmo quando, no enredo, devem exprimir perplexidade, preocupação, insatisfação; e essa mesma tensão contínua a contrastar com a alegria expansiva, contagiante, quase divina do rei brincalhão.
Por fim, é interessante notar que a única criança “verdadeira” retratada pelos autores é o pajem real, que inicia a história carregando com dificuldade o fardo do seu infortúnio: um grande recipiente com água para o banho do rei; e que tem preocupações como servo, ou seja, como funcionário real, como qualquer adulto. Mas que, ao mesmo tempo, dá movimento à história, exigindo uma solução para o problema, e acaba, ele mesmo, usando da lógica sucinta que caracteriza os espíritos criativos, resolvendo este mesmo problema.
Feita a análise do livro, voltemos à contação. O trabalho de Danilo Furlan é, como sempre, irrepreensível. Tivemos oportunidade, eu, Maristela e Adah, de assistir a essa peça em uma apresentação de Danilo no Teatro Barracão, em uma edição do “Convite ao Teatro”, programa de apresentações gratuitas, mantido pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de Maringá. Foi quando conheci o trabalho de Danilo. Na Praça Renato Celidônio, neste domingo, Danilo encantou mais uma vez.
Na sua primeira apresentação um inconveniente: a apresentação foi prejudicada pelo início de uma apresentação musical, no palco principal. Danilo, de forma muito elegante, continuou a apresentação, se esforçando para se fazer ouvir. Depois da apresentação, buscamos a organização e acertamos que, após a apresentação musical, teríamos dez minutos antes da próxima banda para que Danilo fizesse sua segunda apresentação. E assim foi. A segunda apresentação de Danilo transcorreu em normalidade e foi outro grande sucesso. Há que louvar a postura, a gestualidade, a variação de tonalidade na voz dando ritmo e emoção à história, o cuidado com o cenário, a interatividade com o público expressa no olhar e na direção do discurso, enfim, o profissionalismo e o talento desse grande artista maringaense que é Danilo Furlan. Obrigado mais uma vez, Danilo.
Após as apresentações o Leituras ao Vento ainda ficou no espaço por mais de uma hora, até que o enfraquecimento da luz do sol, com a proximidade da noite, ameaçou dificultar a leitura do público presente. As tendas estiveram cheias durante todo o tempo, um sucesso total.
Recebemos vários convites de escolas públicas e particulares para levarmos o nosso Projeto para cidades próximas, convites que vamos considerar e inserir oportunamente em nossa agenda de compromissos. Agradecemos a todos pelo reconhecimento do valor do Projeto. Conversamos com muitas pessoas, demos entrevistas, tiramos muitas fotos, trabalhamos o tempo todo, mas valeu a pena.
Agradecemos aos parceiros presentes que nos ajudaram. Hilda Carr – acompanhada do sempre sorridente e simpático Marcos -, pioneira do “Soprando Histórias”, sempre presente nos momentos mais difíceis para nos ajudar; Mariana, do Projeto Brincadeiras, que agiu como uma legítima integrante do Leituras, ajudando todo o tempo em praticamente tudo. E, é claro, à Adah, mocinha com pouco tempo e muitas ocupações, mas que faz muita falta ao Projeto quando não está conosco.
Um agradecimento final à RPC-TV, pela iniciativa, que eu espero seja imitada por outras emissoras, para o bem de Maringá. A cidade precisa, cada vez mais, de eventos como esse. A prova disso foi o público muito acima das expectativas, que procura atrações no final de semana e está disposto a ocupar os espaços públicos sim, a despeito dos que acham que as famílias só gostam de viajar pra praia, os jovens e adultos só de beber cerveja e as crianças e adolescentes só de videogame e Internet. Um agradecimento aos seus profissionais, sempre dispostos a ajudar e em especial ao Sidnei, que nos ajudou a reunir todas as condições para essa nossa grande apresentação. Obrigado a todos e até o próximo Leituras ao Vento.
Leituras ao Vento - 40° Relatório
Dia 11/03/2012
SOPRANDO HISTÓRIAS “HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER” COM TALITA CHAVINSKI
Mais um dia de sol na Praça da Catedral de Maringá, mais um dia de Leituras ao Vento. E mais um dia muito especial no Leituras: o Leituras ao Vento especial em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Chegamos à praça no horário de costume, e montamos o nosso espaço no tempo previsto. Mais uma vez Adah estava presente, ajudando a esticar os varais, com sua já famosa habilidade para dar nós. Ajudei Maristela a estender a nossa lona azul e a colocar esteiras, acomodar os livros, posicionar o “puff” e os baús, prender os banners.
Feito tudo isso, o público já tomava nosso espaço, nossos amigos chegavam e, ante mesmo que tivéssemos tempo de preparar a máquina fotográfica e o caderno de registros, já estávamos conversando com pessoas que se aproximavam curiosas.
Nossa convidada do “Soprando Histórias” chegou antes que eu iniciasse a divulgação: Talita Chavinski, uma jovem militante do movimento de mulheres.
Demos as boas vindas e pedimos a ela que aproveitasse o nosso espaço, enquanto eu fazia a divulgação e esperávamos um pouco mais pelo público.
Durante a divulgação foi possível comprovar uma tendência que já observávamos em nosso retorno à praça em 2012: a mudança do perfil etário dos frequentadores. Se podíamos dizer que familiares e crianças até 12 anos eram a tônica no ano anterior, já é possível afirmar que esse tipo de público reduziu bastante o seu número, cedendo lugar aos grupos de adolescentes.
Também é verdade que, depois de insistentes abordagens nossas, tentando trazer esse público adolescente para o nosso espaço, muitos desses grupos passaram a acampar perto de nós. Não podemos dizer, no entanto, que tenham vindo depois de nossas abordagens, muito menos por causa delas. Também é cedo para comemorarmos algum tipo de integração. Mas é certo que esses grupos, alguns com violão, aparelhagem de som, interesses próprios e uma interação típica do momento em que estão vivendo, estão perto de nós, delimitando um espaço jovem que tem o Leituras como o seu centro. Que sejam bem vindos, e que o Projeto consiga cumprir o seu papel de confirmá-los como parte essencial do seu público, assim como as crianças.
Com a mudança do público, a divulgação, que era circular, praticamente em arco de circunferência do nosso espaço em direção à Tiradentes, se tornou espiral, do interior do espaço do Leituras para o exterior. No primeiro caso, íamos em direção ao público, que se adensava à medida que nos afastávamos; no segundo caso o público está distribuído de modo mais uniforme pela praça, e a maior parte das crianças já se encontra no espaço. Isso muda também a qualidade da abordagem: de um “chamamento” para o espaço para uma ênfase nos “esclarecimentos” a respeito da natureza do Projeto.
Terminada a divulgação, fizemos a chamada final para o “Soprando Histórias”, com Talita Chavinski.
Conhecemos Talita por intermédio de nossos amigos Robson Girardello e Luis Modesto. Luís, que ainda não havíamos apresentado em relatório, é, assim como Talita, ativista dos direitos das minorias na cidade e militante da esquerda, além de jornalista.
Maristela encontrou Talita na Câmara Municipal, onde trabalha, no escritório de um partido político. O contato, agendado previamente, foi cortês, e rendeu uma bela foto para a divulgação em nosso blog e nas redes sociais.
Na Praça, Talita chegou tímida, uma menina magra, comum jeito adolescente, de modos simples. Revelou, logo no início de sua leitura, um carinho meigo com as crianças. Elas logo se acercaram dela, ficando bem próximas, e uma delas se aninhou em seu colo, onde ficou confortável durante algum tempo.
Das cinco histórias propostas a Talita ela escolheu duas: “Mulheres de Coragem”, do livro de mesmo nome, autoria de Ruth Rocha e ilustrações de Cláudia Scatamacchia, editora FTD; e “A moça tecelã”, do livro “Doze reis e a moça no labirinto do vento”, texto e ilustrações de Marina Colasanti, editora Nórdica.
No conto “Mulheres de Coragem”, mulheres de um castelo medieval conseguem do líder de um exército sitiante que possam, ao deixar a cidade, levar “apenas” aquilo que mais prezam na vida. Obtida a palavra de honra do cavaleiro inimigo, as mulheres saem do castelo logo depois levando os seus maridos às costas. Uma história que fala não apenas de astúcia – qualidade imprescindível à sobrevivência em uma guerra – mas também de amor, dedicação, fidelidade, senso de responsabilidade com a sobrevivência e perpetuidade da própria comunidade, aliás, um fardo que, em grande parte, sempre esteve sob as costas das mulheres;
No segundo conto, já explorado em outras oportunidades pelo Leituras ao Vento, uma moça tecelã, solitária, sonha com um marido galante para lhe fazer companhia. Tece-o, e experimenta o calor do amor que tanto desejava. O marido, no entanto, embriagado pelo poder da moça tecelã de transformar sonhos em realidade usando o tear, a incita a criar um pomposo palácio cercado de riquezas, e a isola em uma alta torre com seu tear, obrigando-a a tecer seus crescentes delírios de poder e riqueza. A moça se desencanta, destece o rico universo que a aprisionava, destece o seu próprio homem, e recupera a sua liberdade. É um conto que nos fala de solidão, amor, dedicação, desencanto, liberdade, mas sobretudo de dignidade.
Talita contou as duas histórias, complexas, difíceis de contar mantendo o interesse da plateia, com paciência, vagar, e uma atenção quase intimista com as crianças e jovens próximos. Quem manteve a atenção, acompanhando o espírito da contadora, pode aproveitar, a riqueza e profundidade das mensagens contidas nessas belas histórias. Parabéns a Talita por ter agido como as guerreiras das histórias que contou, e acreditar nas mensagens que transportavam.
Entregamos a Talita o nosso Certificado de Participação e o Título de “Leitora Amiga das crianças e adolescentes da cidade de Maringá e região”. Homenagens merecidas para uma mulher que, tão jovem, já se dedica a causa de todas as mulheres, também homenageadas nesta edição do Leituras ao Vento.
Estiveram presentes em nosso espaço nosso amigo Álvaro, do MNMMR; senhor Orlando, contador de “causos” e pai de Denise e Poliana Lisboa; minha amiga e colega de trabalho, Lilian Fritsch, acompanhada do marido e da filha Paula, ainda no ventre da mãe; e nossa amiguinha Greicielle, de 10 anos, já a tanto tempo com a gente que sentimos falta quando ela não vem.
Aliás, Greicielle nos surpreendeu mais uma vez: em dado momento se assenhoreou de nossa máquina fotográfica e tirou lindas fotos das crianças – e dos adultos também, que colocamos no nosso facebook. Muito obrigado, Greicielle, te amamos.
Agora preciso contar uma coisa: em dado momento após o “Soprando Histórias”, tive a “má” ideia de chamar algumas crianças que estavam acomodadas – lendo – em um cantinho da nossa lona para contar-lhes uma história... Bem, essa minha “bela” ideia começou ali mesmo, com “Onde vivem os monstros”, texto e ilustrações de Maurice Sendak, editora Cosac Naify, prosseguiu com “Crictor”, texto e ilustrações de Tomi Ungerer, editora Martins Fontes; mudei de lugar para não deixar as crianças com os olhos para o sol com “O domador de monstros”, de Ana Maria Machado, ilustrações de Suppa, editora FTD – a proposta era contar UMA história de monstros! – mudamos de lugar mais uma vez porque a plateia aumentou e agora já incluía vários adultos, e continuamos com “Quando nasce um monstro”, de Sean Taylor com ilustrações de Nick Sharrat e tradução de Lenice Bueno, editora Salamandra; e concluímos com um conto de terror só para os ávidos “adultos” presentes: “O homem que enxergava a morte”, texto e ilustrações de Ricardo Azevedo, contido no livro “Contos de enganar a morte”, do mesmo autor, editora Ática. Ufa!
Como cheguei nesse “desastre”? A medida que eu ia lendo uma história, Adah me trazia outra... “obrigado”, Queridinha! Culpa também dos adultos, que, não sei por que, davam mais risadas que as crianças!
Gente, obrigado pelo carinho, e desculpem a falta de voz ao final, ou eu teria contado mais histórias pra vocês, mesmo que eu fosse desafiado pelas primeiras estrelas da noite maringaense. As crianças – e os adultos também – interagiram gostosamente com a minha contação, principalmente uma menininha da qual não lembro o nome e que praticamente o tempo todo se adiantava às minhas falas, tornando tudo mais divertido.
O que mais dizer? Fomos embora satisfeitos com o nosso trabalho, torcendo para que haja outros domingos assim. Um abraço a todos e até o próximo Leituras ao Vento.
Leituras ao Vento - 39° Relatório
Dia 26/02/2012
SOPRANDO HISTÓRIA “ESPECIAL DE CARNAVAL” COM ROBSON GIRARDELLO
E o Leituras ao Vento retorna, nesse novo ano de 2012, já com um evento especialíssimo: o nosso especial de Carnaval.
A história do nosso especial de Carnaval começou em 2011, ainda no primeiro semestre, quando convidamos nosso amigo Robson Girardello para participar do “Soprando Histórias”. Na ocasião, Robson teve uma importante participação, fazendo o livro de Majô Batistoni “O menino que ganhou uma boneca”. Robson expressou o desejo de participar de um especial de Carnaval, onde usaria uma fantasia de Pierrot confeccionada por sua mãe. A ideia, ótima, ficou em nossas cabeças e Robson passou a ser um grande colaborador do Leituras, estando presente em momentos importantes da trajetória do Projeto, inclusive fazendo o mesmo trabalho que eu e Maristela fazemos: recepcionando o público, lendo para as crianças, sugerindo leituras, enfim, como pessoa totalmente integrada ao espírito do Projeto.
Finalmente, a oportunidade chegou, e conseguimos nos articular com Robson no início do ano, em tempo hábil para a confecção da fantasia e para acertarmos a data. Por sorte, conseguimos marcar para a estreia do Leituras em 2012.
O que podemos dizer? A fantasia de Pierrot que Robson envergava era simplesmente deslumbrante, belíssima, e integrada a uma maquiagem perfeita, que transformou Robson no próprio Pierrot encarnado. Também é desnecessário dizer que a fantasia – ou o personagem – chamou muita atenção desde o momento em que chegou à Praça. Reações variadas entre as crianças: algumas tiraram fotos, abraçando, no colo de Robson, sós ou com os pais. Sucesso total logo na chegada, e atenção total até o final do evento.
Quanto à sua participação no “Soprando Histórias”, Robson foi à Praça com uma missão singela e delicada: falar sobre a história do Carnaval com as crianças, usando o Carnaval de Veneza e os personagens tradicionais da Commedia dell’Arte. Apresentamos a ele dois livros como apoio literário: “Arlequim de Carnaval”, de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, com ilustrações de Bruna Assis Brasil, editora Alfaguara; e “Aula de Carnaval e outros poemas”, texto e ilustração de Ricardo Azevedo, editora Ática.
O primeiro livro é uma recriação da história clássica que envolve os personagens da Commedia dell’Arte – Arlequim, Pierrot e Colombina – numa linguagem bem brasileira. A esperteza do Arlequim e a paixão de Pierrot por Colombina aparecem, mas dentro de outros contornos culturais e psicológicos, que apontam para um desenho ético diferente, principalmente em relação ao personagem do Arlequim; já o segundo livro é um livro de poemas e adivinhas de Ricardo Azevedo, bem ao seu estilo de explorar temas folclóricos brasileiros, e que trabalha uma linguagem acessível às crianças, trazendo para o cotidiano os elementos artesanais e musicais do carnaval.
Para o seu propósito, Robson utilizou o livro de Ricardo Azevedo, fazendo a leitura de alguns poemas que falavam especificamente de elementos do carnaval e seus festejos. A partir daí falou sobre a origem do carnaval e sobre o drama tradicional dos personagens da Commedia dell’Arte, tendo o cuidado de usar uma linguagem que pudesse atingir o interesse dos pequenos que o assistiam. O resultado foi interessantíssimo, chamando a atenção não só das crianças presentes, mas dos adultos e adolescentes que passavam e até mesmo de uma rede de TV que visitava o nosso espaço. Um sucesso a apresentação, e um luxo o visual do Pierrot.
Neste domingo dividimos o nosso espaço com uma campanha muito simpática: a Provopar e a Acim promoveram na cidade a Campanha Nacional De Doação De Livros Literários, que manteve durante o mês precedente pontos de coleta de doações de livros na rede de supermercados Canção, rede de Bibliotecas Municipais de Maringá e SESI/Maringá. A Biblioteca Centro montou uma banquinha para troca e doação de livros, com o acervo recebido em doação no seu ponto de coleta da Biblioteca. Essa banquinha foi bastante prestigiada pelo público, tanto pelas crianças quanto pelos pais, que, saudosos de títulos infanto-juvenis que leram em seu tempo de escola, foram resgatá-los e apresentá-los aos filhos.
Com tanta festa, estiveram em nosso espaço a Rede TV e a Rede Massa, retransmissoras locais que fizeram um trabalho de reportagem voltado ao gosto pela leitura e ao registro da Campanha que se encerrava naquele dia.
Um agradecimento especial a Denise e Poliana Lisboa, amigas de Robson e responsáveis pela bela e perfeita maquiagem que ajudou a transformá-lo em Pierrot. Poliana Lisboa, que é jornalista, tirou fotos do nosso evento, e mesmo algumas com a nossa máquina fotográfica. A qualidade do olhar de Poliana está atestada nas páginas do nosso blog. Agradecemos muito a ela pelo trabalho profissional de excelente qualidade utilizando imagens do Leituras. A propósito, é bem possível que Poliana tenha produzido, em três fotos em sequência tiradas de nossos pequenos leitores, o mais perfeito depoimento visual de um dos princípios básicos do Projeto, que é o da leitura dialógica. Nas fotos, dois meninos mostram um ao outro o seu livro escolhido, trocam os livros entre si e se retiram para continuar a leitura. Perfeita sequência que mostra a leitura enquanto mediadora na aproximação entre as pessoas, processo essencial para a formação e o fortalecimento de uma Cultura da Leitura. Em outras palavras, da leitura enquanto mediadora do conhecimento e forma de fortalecer o sentido de comunidade e a identidade. Que Poliana tenha tido a sensibilidade para o alcance das cenas que captou sem mesmo conhecer, acredito eu, os nossos princípios é prova da excelência da intuição que acompanha a perícia com que agiu. As fotos foram colocadas no facebook do Leituras ao Vento.
Agradecemos também aos profissionais da imprensa televisiva presentes, ao nosso amigo Álvaro, do MNMMR, a Márcia Santa Maria, gerente de leitura da Biblioteca Pública e veterana colaboradora do Leituras, A Hilda, sempre presente a nossa querida irmã do coração e uma das cofundadoras do Projeto. E, claro, mais uma vez, obrigado, Robson, por sua amizade e amor pelo nosso Leituras.
Um abraço a todos e até o próximo Leituras ao Vento.
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