quinta-feira, maio 19, 2011

Relatório do dia 15.05.11 Soprando Histórias com Alberto Marques dos Santos

Projeto Leituras ao Vento

Relatório do dia 15/05/2011

Mais uma vez a nossa ida à praça começou com um esforço concentrado de preparação durante a semana.  O motivo não poderia ser outro: nosso convidado para o “Soprando Histórias”, Alberto Marques dos Santos.
Alberto é nosso amigo do Clube de Leitura e uma pessoa muito querida. No início foi, durante algum tempo, nosso principal contato no Clube de Leitura, e o encarregado de atualizar o blog do Clube. É um intelectual refinado e um leitor atento, de análises precisas e perspicazes. As reuniões mensais do Clube de Leitura Maringá perdem muito em riqueza quando ele não está presente.
Ficamos muito contentes quando Alberto aceitou nosso convite, mas também um pouco preocupados. Imaginávamos um público maior que o usual, e por isso tivemos um esforço de logística adicional. Optamos por levar para a praça, desta vez, todo o acervo já catalogado e montar três varais, além de levar os dois bauzinhos e a cestinha de livros. Adquirimos, também, mais duas esteiras.
Novamente a preocupação com o clima: as previsões da meteorologia apontavam para possibilidade de chuva no domingo, e só nos restou torcer e apelar aos deuses que governam os elementos para que as previsões, corretas em outras oportunidades, dessa vez se frustrassem.
No domingo pela manhã o sol deu o ar da graça e não havia nada no céu que indicasse que teríamos um dia chuvoso. Mas, à medida que a manhã avançava, capitaneada pelo carro do sol, algumas nuvens apareceram e um ar frio tomou conta do ambiente. Ficamos atentos, mas a chuva não se confirmou. Ao chegarmos à praça o tempo se manteve assim, com o sol disputando o azul com nuvens brancas baixas de algodão, e uma brisa fria leve que tipificava o outono.
O evento inexplicável, dessa vez, foi a dificuldade extrema que tivemos de estender os varais. Se na semana anterior o vendedor de doces e Maristela deram o tom da solidariedade e criatividade, desta vez nada parecia dar certo. Nos enredamos em uma confusão de nós e de barbantes enrolados e atados às cordas de nylon, tentando manter os varais estáveis enquanto eles insistiam em ceder e flexionar os livros para baixo. Colocamos e retiramos os livros algumas vezes para esticar de novo as cordas e refazer os nós. Senti falta de meu amigo Régis, com seu conhecimento de nós rápidos e perfeitos, adquirido nas trilhas de montanhismo no verde desse Paraná.
Depois de mais de meia hora de sofrimento, finalmente conseguimos atar os varais de modo razoável e começamos a colocar os livros. Nesse ínterim, chega Alberto com sua esposa e, com seu bom humor e serenidade, começa a nos ajudar com os livros. Assim que tudo está finalmente montado, saí com Adah para fazer a nossa propaganda e distribuir os convites para o “Soprando Histórias”.
Quando chegamos à praça, às 15:00h, nos pareceu que esta estava ainda mais vazia que no domingo das mães. Via-se uma vastidão em que poucos grupos isolados se espalhavam, distantes uns dos outros. Quando começamos a distribuir os convites, às 16:10, essa situação não havia mudado. Optamos, eu e Adah, por uma estratégia diferente. Ao invés de começarmos a distribuir nas proximidades do Projeto e irmos nos distanciando, dessa vez fomos até um ponto distante onde aparentemente havia mais pessoas, e dali voltarmos para o Projeto fazendo a distribuição. Tivemos que correr atrás de um pai e sua filha pequena, que já se distanciavam em direção à avenida. Priorizamos os grupos onde havia crianças, e, mais uma vez, tivemos uma surpresa positiva: distribuímos mais de uma dezena de panfletos em pouco mais de dez minutos, nunca só distribuindo, mas sobretudo explicando às pessoas, em rápidas palavras e no essencial, o que era o Projeto, nossa maneira de trabalhar e algo sobre as obras e novidades que trazíamos.
Quando voltamos encontramos já algumas das pessoas abordadas instaladas nas esteiras, e, em poucos minutos todas as oito esteiras estavam ocupadas, uma afluência de público excelente. Na semana anterior, o público mostrou, em pleno Dia das Mães, que a praça também serve como espaço de intimidade entre mãe e filhos, quando essa relação é mediatizada pela leitura. Desta vez, o público mostrou que dias ligeiramente frios e ensolarados podem ser excelentes para uma leitura em família na praça.
Rosângela, nossa amiga do clube de leitura, com sua filha Natália, de 11 anos, vieram nos prestigiar, acompanharam e ajudaram o tempo todo. Também vieram Hilda e seu filho Marcos – “The three little pigs”, lembram? –, Hilda só de passagem, pois ia participar da Corrida Tiradentes, com largada às 16:45h, mas deixou Marcos com a gente, fazendo companhia à Adah e Natália. Também apareceu mais uma vez quem? O nosso leitor número um, sempre a procura de suas revistas preferidas, o Homem Aranha e o Groo. Desta vez, no entanto, ele resolveu variar, e fez alguns comentários com Alberto a respeito das ilustrações de “Chica e         João”, de Nelson Cruz – livro que trabalha a história e a memória da época do ouro e dos diamantes em Minas Gerais por meio da história e da lenda de Chica da Silva – e olhou com interesse para uma biografia em quadrinhos de Lula – editora Sarandi, texto de Tony Rodrigues e desenhos de Rodolfo Zalla – que Maristela lhe mostrou. É, nosso amigo parece ter uma certa preferência pelas biografias e pelas figuras ilustres! Gostaria que ele tivesse ficado para a apresentação do Alberto, mas ele logo após foi embora, sem se despedir e rapidamente, como um super-herói dos quadrinhos.
Uma nota muito legal sobre Marcos: com o correr da tarde e conforme o frio apertou, Marcos se sentou na esteira, juntou os joelhos ao tronco e puxou a camisa por cima dos joelhos, conseguindo cobrir-se inteiro com apenas aquela réstia de pano de malha. Uma graça! Maristela pediu a Adah e Natália para ir até o carro e apanhar uma manta azul que havíamos trazido para essas ocasiões. Natália entregou a ele, e ele se envolveu todinho, ali, encolhido como estava, parecendo um guru indiano numa rua de Calcutá. Claro que tiramos belas fotos daquele seu sorriso sereno aparecendo por trás daquela barreira azul. Detalhe: o menino não deixou de lado a leitura, mesmo no seu total recolhimento. Natália foi se juntar a ele depois.
Todos instalados, tiramos Alberto da sua santa paz – ele acabara de ler e se divertir com “Guardachuvando doideiras”,      
de Sylvia Orthof, e Adah se ocupava de tentar lhe enfiar goela abaixo livros de sua preferência – para iniciar o “Soprando Histórias”. Anunciamos aos presentes o evento e pedimos que arrastassem as esteiras para o palco improvisado, na verdade só um “puff” colocado ao lado dos bauzinhos e próximo a uma das “nossas” árvores. Todos ficaram bem próximos, as apresentações de praxe foram feitas por mim e Alberto ficou com a palavra.
            O livro, conforme anunciado, foi “A verdadeira história dos três porquinhos”, de John Sciezka, ilustrado por Lane Smith e traduzido por Pedro Maia Soares, editora Companhia das Letrinhas. O livro é uma deliciosa “versão do lobo”, escrita com base na história clássica, e que transforma a história dos três porquinhos num relato cheio de graça e de cinismo do Lobo Mau. Alberto apresentou o livro e, com sua simpatia natural e voz pausada, prendeu a atenção das crianças e conseguiu arrancar risadas até mesmo dos adultos. A assistência era grande e os aplausos ao final foram abundantes. Entregamos o Certificado de participação e o Título de leitor amigo das crianças e adolescentes da cidade de Maringá, com muitas fotos e reiterados aplausos.
            Após a apresentação, pela primeira vez o nosso público não se dispersou. Embora alguns tenham partido, as esteiras permaneceram ocupadas, com a chegada de mais duas famílias. Entabulei uma conversa com um pai que trabalhava ali perto – no posto de gasolina – sobre leitura e educação no Brasil, enquanto ao lado Alberto, Adah, Natália, Marcos e alguns outros faziam uma espécie de certame de contação de histórias, com direito a aplausos e “eehhs!”.    
            Nossa assistência, mais uma vez, foi digna de se admirar. Mamães lendo para os seus filhos tem sido uma ocorrência comum. Também irmãos lendo para irmãos, ou trocando informações, cada um com seu livro na mão. Pais homens também tem aparecido, acompanhados ou não das mamães, mas levando seu pequenos pelo braço. Aliás, pais homens parecem mais com um grupo diferenciado de crianças do que com adultos. Chegam como quem não quer nada, sondam o terreno, instruem os pequenos a se servir dos livros. Daqui a pouco, eles mesmos pegam alguma coisa para ler e não largam mais. E como se divertem! Durante a apresentação do Alberto um deles, acompanhado da mamãe e de sua filhinha, se divertiu mais que todos os presentes com a história contada. Ria com vontade do depoimento daquele Lobo Mau esperto se fazendo de coitadinho.
            Duas meninas da faixa dos 11 anos chegaram acompanhadas de uma outra ainda naquela deliciosa fase de ver apenas as figuras e cores. Sentaram as três em uma esteira, as duas maiores com livros. Já a pequenina foi se esticando, se aconchegando, até deitar confortavelmente. As outras duas pareceram ter achado uma boa idéia, e daí a pouco as três estavam deitadas. Então a pequenina dormiu gostosamente, e ali ficou por um longo tempo, talvez sonhando coisas mais belas que qualquer livro poderia deixar entrever.
            Uma mãe chegou pouco antes do início do “Soprando Histórias” e se deixou ficar até o final, bem à vontade, lendo histórias para o seu pequenino. Dizer o que mais? É por isso que estamos aqui.
            Desta vez prestamos mais atenção às idas de nosso público ao varal. O que vimos foi a desenvoltura de crianças bem pequenas, retirando e recolocando os livros, se dirigindo às esteiras e de fato se entretendo com a leitura. Portanto, mais que a alegria de brincar de escolher aqueles objetos coloridos cheios de páginas com príncipes e princesas, porquinhos, sapos e coelhos, observamos que a escolha representava um certo compromisso de se “aprofundar” naquela curiosidade, numa postura de leitura que em nada diferia, pelo menos visualmente, da dos adultos. A relação que essas crianças de fato tem com o que liam ou viam, ali naquela esteira, sobre o gramado e sob a ação da brisa da tarde, ainda não sabemos. Mas vamos continuar observando.
            Às 17:30, com o friozinho da noite começando a se insinuar e com as últimas despedidas, começamos a juntar nosso acervo para deixar a praça. Marcos, Rosângela e Natália, Alberto e Roseli ficaram conosco até o final. Ajudaram a desmontar nosso cenário e se despediram já na porta do carro. Um dia lindo. E é só.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário